segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Timor-Leste: TAUR MATAN RUAK, O GENERAL DE DOIS CORAÇÕES




MSE (HB/ASP) - LUSA

Díli, 10 out (Lusa) - Taur Matan Ruak deixou quinta-feira a chefia das Forças Armadas de Timor-Leste para "ser livre", mas só com metade do coração, a outra fica com os homens que foram seus companheiros militares durante mais de 30 anos.

No final de agosto, o major-general surpreendeu com um pedido de demissão da chefia das forças militares e hoje, dia em que celebra 56 anos, anunciou a candidatura às presidenciais do próximo ano no país.

Nascido em Baguia, distrito de Baucau, José Maria Vasconcelos, posteriormente Taur Matan Ruak, é o mais velho de oito irmãos.

É também ironicamente filho de um partidário da APODETI (pró-indonésio), como confessou numa entrevista em 1999 à Visão, mas que depois se tornou nacionalista, quando começou a levar pancada da polícia por causa das atividades do filho guerrilheiro.

Ativo defensor dos direitos dos trabalhadores foi várias vezes a tribunal até se dar o 25 de abril de 1974. Após a invasão da Indonésia, em 1975, fugiu para as montanhas e juntou-se ao então recentemente formado exército das FALINTIL.

Taur Matan Ruak participou como guerrilheiro em batalhas contra o exército indonésio em Díli, Aileu, Maubisse, Ossu, Venilale, Uatulari ou Laga e a sua primeira nomeação oficial foi feita após a reunião do Conselho Superior do Setor Centro-Leste, em Venilale, no final do ano de 1976.

Em 1979, na sequência de sérios reveses nas forças de resistência, foi-lhe atribuída a tarefa de reagrupar as FALINTIL da região leste e localizar sobreviventes de uma companhia.

Nessa altura foi traído e capturado pelos militares indonésios. Após 23 dias na prisão, fugiu e juntou-se de novo às Falintil nas montanhas.

Em 1981, foi um dos criadores do Conselho Nacional da Resistência Revolucionária (CRRN, antecessor do CNRM e CNRT) e tornou-se adjunto do Estado Maior das FALINTIL, chefiado por Xanana Gusmão, no início de uma escalada na hierarquia militar na estrutura da guerrilha, à medida que os sucessivos líderes morreram ou foram capturados, casos de Xanana Gusmão, em 1992, MaHuno, no mesmo ano, e Nino Konis Santana em 1998.

A 20 de agosto de 2000, Xanana Gusmão demitiu-se das FALINTIL e Taur Matan Ruak assumiu a chefia total.

A sua liderança foi testada em dois grandes momentos, antes e depois da libertação nacional.

O primeiro ocorreu quando teve de segurar os seus homens, acantonados na Montanha do Mundo Perdido, em plena consulta popular de 1999, que conduziu Timor-Leste à independência, enquanto no sopé da cordilheira milícias e exército indonésio semeavam o terror.

"Os guerrilheiros sabiam que, no dia em que houvesse muito massacre e muita confusão, era o dia que iríamos ganhar a guerra. Não valia a pena agir de forma irracional como estavam a fazer os indonésios e milícias", explicou mais tarde à Lusa, vincando a ponderação que lhe traça o perfil.

O segundo momento ocorreu em 2006 quando uma grave crise política e de segurança levou à implosão da Polícia Nacional mas não das forças armadas.

Foi "mais um teste de sobrevivência" na luta pelo desenvolvimento, implicando a presença de militares estrangeiros sem o seu acordo mas que teve de aceitar. "Sou só um general...", afirmou posteriormente, com a consciência do papel dos militares nos contextos políticos.

O cenário muda agora de novo. E tal como Xanana Gusmão despiu a farda para se entregar ao exercício da política, Taur Matan Ruak prepara-se para uma nova missão e desprender-se das ligações afetivas aos colegas de armas que o acompanharam a maior parte da vida.

"Despendi 35 anos com eles. Entrei com 19 anos e saí com 55. Deixo metade do meu coração com eles. Adoro-os e guardo saudades imensas deles e até à morte nunca os vou esquecer", afirmou na cerimónia de despedida.

O amor incondicional que diz sentir pelo seu país levou hoje Taur Matan Ruak, casado e pai de três filhos, a anunciar a sua candidatura às presidenciais de 2012.

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