quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Eleições na Espanha: SEM IDEIAS EM MEIO À TORMENTA


O ex-ministro do Interior, Rubalcaba (E), conversa com o líder da direita espanhola, Rajoy (D) - AFP

Oscar Guisoni – Correspondente da Carta Maior em Madri – Correio do Brasil

Eleições na Espanha: sem ideias em meio à tormentaOs dois principais candidatos às eleições de 20 de novembro, Alfredo Pérez Rubalcaba e Mariano Rajoy, confirmaram, no único debate realizado entre os dois, o que muita gente já suspeitava: nenhum dos dois tem grandes ideias sobre o que fazer para tirar o país da profunda crise econômica na qual se encontra. E as propostas que pretendem implementar são ocultadas por seu caráter anti-popular. O conservador Rajoy segue liderando com ampla folga as pesquisas. O artigo é de Oscar Guisoni.

Alfredo Pérez Rubalcaba e Mariano Rajoy confirmaram, segunda-feira, aos espanhóis algo que muitos já intuíam: que nenhum dos dois tem grandes idéias para sair da profunda crise econômica na qual se encontra o país e que ambos ocultam do eleitorado parte das medidas que tomariam se chegassem ao poder, porque sabem que são antipopulares.

Tudo isto não lhes impediu de montar um bom show durante 100 minutos em que o candidato socialista atacou seu rival como se ele fosse quem está na oposição e Rajoy quem defende o governo; enquanto o candidato conservador se limitou a tratar de não fazer ondas com temas que incomodem seus eleitores ou preocupem demais o eleitorado de esquerda que, segundo afirmam as sondagens, no próximo dia 20 de novembro elegerá massivamente a abstenção ou o voto a outras formações mais à esquerda do Partido Socialista.

O tom do debate foi, desde o começo, um tanto atemporal. Parecia que os dois candidatos estivessem debatendo na campanha eleitoral de 2008, aquela que colocou frente a frente Mariano Rajoy com o atual presidente de governo, o socialista José Luís Rodríguez Zapatero, e não na atualidade.

A crise econômica, como não podia deixar de ser, esteve presente desde o começo, mas sem nunca chegar a ocupar um lugar central. Rajoy e Rubalcaba falavam, além disso, como se as decisões hoje continuassem sendo tomadas no Palácio da Moncloa, sede do governo, e não em Bruxelas, sede da União Européia, ou em Berlim e Paris, que é onde realmente se tomam. Ambos se enredaram em uma série de discussões bizantinas sobre medidas econômicas técnicas que pouquíssimos cidadãos podem chegar a compreender em profundidade, dando uma imagem de elite que perdeu contato com a realidade profunda do país, sem sequer se dar conta disso.

Alfredo Pérez Rubalcaba chegou ao debate com um peso extra na mochila: as pesquisas, incluindo a que é realizada pelo CIS (Centro de Investigaciones Sociológicas), uma organização dependente do estado, mas com grande prestígio, que dão uma clara vitória ao líder do PP, que se traduzirá previsivelmente em uma absoluta maioria parlamentar recorde, similar à que obteve em 1982 o carismático Felipe González. Sabendo que só se realizará um debate, Rubalcaba se sentou à mesa com a ansiedade de quem tem só um cartucho para disparar e não pode se dar ao luxo de errar a presa.

Desde o começo elaborou um discurso agressivo contra Rajoy tratando de fazê-lo cair em um erro. Seu principal argumento: o PP elaborou uma plataforma eleitoral deliberadamente ambígua, que oculta suas intenções de realizar um brutal ajuste para conter o gasto público em detrimento da saúde pública, da educação e da proteção ao desemprego.

Mariano Rajoy, ao contrário, chegou ao cenário com a calma de quem se sabe ganhador de antemão. E se dedicou o tempo todo a flutuar, tratando de não espantar eleitores próprios nem de convocar votos contra. Ante cada armadilha que Rubalcaba elaborava, Rajoy escapava pela tangente, respondia coisas vagas ou diretamente não respondia o que havia sido perguntado, e se limitava a lembrar ao dirigente socialista que é o seu partido que está no poder; que é o PSOE que está deixando um país com cinco milhões de desempregados e que, se tem tão claro qual é a melhor maneira de sair da crise, por que não foi aplicado no governo em vez de propô-lo agora aos cidadãos? Com esses simples argumentos, segundo a maioria das sondagens realizadas a posteriori, Rajoy ganhou um debate que só pretendia empatar.

Apesar do descrédito que afeta a classe política em geral – segundo as pesquisas é provável que 50 por cento dos cidadãos se abstenham de votar no próximo dia 20 de novembro -, o debate foi seguido por mais de 12 milhões de espectadores. Muitos deles talvez tenham decidido seu voto na segunda-feira passada. Os analistas falam em cerca de oito milhões de eleitores ainda indecisos. Muitos deles contemplam a atual situação do ponto de vista ácido que o Movimento 15-M instalou na vida política espanhola.

Os chamados “indignados” emitiram claros sinais de que interpretavam este debate como um exemplo de tudo o que criticam no sistema político: o bipartidarismo favorecido por uma lei eleitoral que deixa de fora a grande parte das minorias e a falsa antinomia entre conservadores e socialdemocratas, que no fundo coincidem em aplicar as políticas neoliberais que manda a inflexível União Européia. No dia 20 de novembro os espanhóis saberão com quanta profundidade calou este discurso, se beneficiará formações marginais como a Esquerda Unida, ou se ele se traduzirá em uma massiva abstenção. Com o debate de segunda só puderam saber o que muitos já suspeitavam: que os dois grandes partidos políticos têm pouquíssimas idéias sobre como sair da crise.

Tradução: Libório Junior

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