quinta-feira, 10 de novembro de 2011

China – Macau: Jovens universitários traçaram desafios do século XXI em Português



FV - LUSA

Macau, China, 09 nov (Lusa) - Doze estudantes universitários de Macau deram hoje voz aos desafios dos "Jovens do século XXI", no 9.º concurso de eloquência em Língua Portuguesa, retratando uma geração influenciada pelas novas tecnologias e pela globalização económica.

Ao fazer a ponte para a imensa China, Teresa Wang focou os problemas da política do filho único e centrou atenções no materialismo da nova geração, "disposta a quase tudo" para ter um iPod ou vestir as melhores marcas, num país onde "metade dos consumidores tem salários inferiores a 3.000 yuan (343 euros)".

"Recentemente, numa sondagem sobre as crenças dos jovens chineses, uma rapariga disse que preferia chorar num BWM a sorrir numa bicicleta", ilustrou, dando ainda o exemplo de um jovem de 17 anos que vendeu um rim por 2.300 euros para comprar um iPad e um iPhone.

Já Emília Fong, aluna do quarto ano da licenciatura de Estudos Portugueses, abordou a realidade local, ao salientar que os "lucros dos jogos chegam para suprimir as necessidades dos habitantes [de Macau], concedendo-lhes uma vida melhor", mas que os jovens "às vezes seguem por maus caminhos".

A futura professora de português traçava assim o retrato "de uma aldeia de pescadores que passou à Las Vegas do Oriente", tornando os empregos nos casinos mais atrativos para os jovens do estudar para ingressar na função pública.

"Os jovens são cada vez mais incultos. Concentram-se nos jogos ou no Facebook. E às vezes perdem tudo quando jogam nos casinos", afirmou.

As tecnologias foram também a fonte de inspiração para Graça Kong, que conquistou o segundo lugar do concurso com o trabalho "Nós e os computadores".

"Às vezes esquecemo-nos de nós, de conviver e até de namorar", disse a aluna de 23 anos, no quarto ano do Instituto Politécnico de Macau, ao frisar as mudanças operadas pelas novas tecnologias nas relações familiares e sociais.

O concurso foi ganho por Ana Ng, da Universidade de Macau, que conquistou o júri com a sua fórmula "3C" - Criatividade, Comportamento e Cooperação.

Para Ana Ng, os jovens do século XXI -"distraídos, superficiais, impacientes, individualistas" - têm mais oportunidades do que os pais mas, em contrapartida, entram num mercado mais competitivo, onde é preciso "encontrar uma chave para o sucesso".

O terceiro lugar foi partilhado por três estudantes: Marco, do Instituto Politécnico de Macau, com "A nova geração", e Emília Fong e Teresa Wang, ambas da Universidade de Macau com os trabalhos "Depois de amanhã" e "Crescer juntamente com a China".

Apesar da recorrência do tema das novas tecnologias, houve quem referisse os problemas mundiais, como a guerra e o terrorismo, e chamasse a atenção para as causas da filantropia e ambiente, como Gu Luxin, ao apresentar o trabalho "Crescemos com a mudança, crescemos com a Esperança".

A aluna da Universidade de São José espelhou, ainda assim, a globalização das novas tecnologias. "Vamos ser criativos como Steve Jobs. Sim, nós podemos", exultou, de braço no ar, em bom português.

Maria Antónia Espadinha, diretora do departamento de português da Universidade de Macau, destacou o nível "cada vez mais elevado" do concurso, com os jovens estudantes - nesta edição das universidades de Macau e de São José e do Instituto Politécnico - a apresentarem conhecimentos avançados da língua portuguesa, alguns deles com semestres realizados em universidades em Portugal ou no Brasil.

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