quinta-feira, 10 de novembro de 2011

HÁ 50 ANOS AVIÕES DA NATO BOMBARDEAVAM EM ANGOLA – II



MARTINHO JÚNIOR, Luanda

1 – De entre as personalidades que mais divulgaram a luta de libertação em África, levada a cabo nas colónias dominadas pelo fascismo e o colonialismo português, está Basil Davidson (biografia em português – http://pt.wikipedia.org/wiki/Basil_Davidson; biografia em inglês – http://en.wikipedia.org/wiki/Basil_Davidson).

O Jornal “Expresso” de 14 de Julho de 2010 (http://aeiou.expresso.pt/basil-davidson-1914-2010=f593672), por altura do seu falecimento aos 95 anos lembrou:

“Historiador e jornalista, Basil Davidson faleceu no dia 9 de Julho, com 95 anos.

Um dos melhores conhecedores de África, foi o único repórter que, durante as guerras coloniais, visitou as regiões libertadas da Guiné, Angola e Moçambique, conduzido pela mão de Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Eduardo Mondlane.

Deixou quase 40 livros escritos, vários dos quais editados em Portugal.

Na vida, e especialmente no jornalismo, tem de se ter sorte, muita sorte! - gostava de dizer.

Três vezes na Guiné...

À Guiné, deslocou-se inclusivamente por três vezes.

A estreia foi em 1967, acompanhado por Amílcar Cabral.

Mas não foi uma missão de guerra.

Aliás, nunca levei qualquer arma comigo - esclareceu, numa entrevista concedida ao Expresso e publicada em 3 de fevereiro de 2001.

À Guiné haveria de voltar mais duas vezes (em 1972 e em 1974).

Sobre a sua experiência guineense acabaria por escrever um livro, No Fist Is Big Enough to Hide the Sky.

...duas em Moçambique...

Moçambique foi a segunda das colónias portuguesas cujo solo pisou.

Foi em Julho de 1968, ainda sob a liderança de Eduardo Mondlane, que estava presente, bem como Samora Machel.

Voltou a Moçambique uma segunda vez durante a guerra, mas já depois de Mondlane ter sido assassinado, vítima da explosão de uma carta armadilhada, uma iniciativa da polícia política portuguesa, a PIDE.

... e uma em Angola

A última colónia em armas que Basil Davidson visitou foi Angola, no Verão de 1970.

Acompanhado durante parte do percurso pelo próprio líder do MPLA, Agostinho Neto, passei cinco semanas a andar a pé.

Com a proverbial ironia britânica, acrescentou: Acho que desde então nunca mais caminhei...

Das cinco colónias portuguesas de África, só não foi a São Tomé e Príncipe.

Quanto a Cabo Verde, teve o ensejo de a visitar várias vezes, mas só depois do 25 de Abril.

Uma bela terra e um belo povo.

A primeira vez foi logo no Verão de 1974, numa viagem de avião a partir de Bissau, acompanhado de Corsino Tolentino.

Escreveu um livro sobre Cabo Verde, a que deu o título certeiro de As Ilhas Afortunadas”...

2 – Ele foi um homem sensível, que não acompanhou os acontecimentos à distância e levou o seu empenho à experiência vivencial.

Profundo conhecedor de África, foram muitas as suas intervenções em jornais (sobretudo jornais britânicos) e escreveu vários livros, a maior parte deles sobre África, que abrangeram conhecimentos históricos, mas também suas próprias experiências, seu próprio activismo, tanto contra o colonialismo português, como contra o “apartheid”, numa incansável luta para mobilizar a opinião pública britânica e mundial.

Basil Davidson entrou clandestinamente nas então colónias portuguesas, acompanhando a guerrilha do movimento de libertação e sujeitando-se aos riscos da guerra, pelo que o que escreveu reflecte também sensibilidade em relação aos meios aéreos que a NATO colocou à disposição de Portugal entre 1961 e 1975.

3 – No seu livro “Angola no centro do furacão” (http://memoria-africa.ua.pt/searchRecords/tabid/166/language/pt-PT/Default.aspx?q=AU%20davidson,%20basil) Basil Davidson dá conta de imensos relatos do emprego por parte das forças militares e de repressão colonialista, da arma aérea fornecida aos portugueses pela NATO:

Em Maio de 1970 ele registou o depoimento do enfermeiro e guerrilheiro do MPLA, Kubindama:

“Tínhamos poucas armas, algumas espingardas, catanas e empregamo-las contra os portugueses.

A 4 de Fevereiro eu estava em Nambuangongo (a certa distância, ao sul de São Salvador).

Foi então que os camaradas em Luanda atacaram a cadeia.

Em Nambuangongo, a sublevação rebentou um pouco mais tarde: em Março, antes do dia 15 (data da sublevação da UPA).

Atacámos os portugueses que estavam em Nambuangongo.

Por seis meses expulsámo-los praticamente dali.

O nosso comandante era Benedito.

Não matámos mulheres, nem crianças, nem civis desarmados.

Mas a UPA não tinha um plano definido.

Não actuava como partido político.

Matava civis europeus, às ordens de Holden.

Os portugueses vieram seis meses depois.

Antes disso, a UPA tentou atacar-nos, porque éramos contra a política da UPA de dar caça aos europeus e também aos africanos.

Eles estavam na zona de São Salvador e nós na de Nambuangongo.

Quando tentámos alcançar o Congo Kinshasa e contactar com os nossos dirigentes, eles começaram a atacar-nos.

As tropas portuguesas vieram de duas direcções e principiaram os bombardeamentos.

A princípio, a nossa posição manteve-se, ao passo que os portugueses só estavam nos aquartelamentos.

Mas a UPA atacou-nos, a nossa força fraquejou e os portugueses retomaram o território que tínhamos libertado”…

4 – Prosseguindo, Basil Davidson narra acerca daquela época de revoltas por todo o norte de Angola, em 1961:

“No norte, as operações militares sistemáticas contra os rebeldes, quer da UPA, quer do MPLA, não começaram de facto antes de Maio.

Embora toda a força militar branca fosse de uns 2.000 soldados metropolitanos e mais os colonos recrutados, o seu corpo mais importante era de soldados pretos; era os descendentes modernos da guerra preta tradicional.

Parece ter havido uma certa hesitação em confiar neles.

Foram pedidos reforços de Portugal que começaram a desembarcar em Luanda: primeiro dois batalhões, em 1 de Maio.

Auxiliados por bombardeamentos e lançamento de napalm, por parte dos aviões recebidos dos aliados na OTAN, aqueles batalhões marcharam para o norte a 13 de Maio”…

PAZ SIM, NATO NÃO!

Gravura: Parte das Bases da Força Aérea Portuguesa em Angola, durante os 13 anos de guerra (1961 a 1975).

Dispositivos da Força Aérea Portuguesa em Angola – http://pt.wikipedia.org/wiki/Bases_a%C3%A9reas_portuguesas_no_ultramar

AVIAÇÃO DA GUERRA COLONIAL EM ANGOLA – ALBUM – http://www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/view_txt.asp?id=806

Gravura:
Mapa ilustrativo das bases e aeródromos de apoio da Força Aérea Portuguesa em Angola; foram deliberadamente esquecidas as bases do sul do Moxico e Cuando Cubango (por exemplo Lumbala N’Guimbo e Ninda), pois era aí onde se registava também a presença da Força Aérea do regime do “apartheid” sul africano, empenhada em operações em sincronização operacional com os colonialistas portugueses.

- continua em próxima edição

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