terça-feira, 1 de novembro de 2011

A INCONTINÊNCIA VERBAL DO SECRETÁRIO DE ESTADO PORTUGUÊS




ALFREDO PRADO* – PORTUGAL DIGITAL, em colunistas

Na incontinência verbal do governante, Portugal é agora uma “zona de conforto”. Com governantes destes, Portugal não precisa de crises.

O Brasil parece voltar a ser, aos olhos dos novos governantes portugueses, a terra da promissão. E para que não subsistam dúvidas, os membros do governo do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho não poupam esforços nem cabedais do erário público para verificaram “in loco” o que o Brasil oferece e promete. Sucedem-se as viagens. Cruzam o Atlântico Sul com uma voracidade surpreendente.

Qualquer convite, na sua maioria de entidades associativas comunitárias, cuja representatividade raramente vai além dos próprios associados, é um bom motivo para passarem finais de semana em terras brasileiras. Em menos de seis meses de governo da coligação PSD-CDS a lista já vai longa.

Nos últimos dias, além do presidente da República, Cavaco Silva, e do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, estiveram no Brasil o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Alexandre Miguel Mestre, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, o secretário de Estado Adjunto da Economia e do Desenvolvimento Regional, António Almeida Henriques, e o secretário de Estado Adjunto dos Assuntos Parlamentares, Feliciano Barreiras Duarte. Vários outros, e são tantos que a memória não guarda os nomes e funções, por cá passaram nos tempos mais recentes.

Coube ao secretário de Estado da Juventude participar, no último fim de semana, de um evento, em São Paulo, supostamente dedicado a momentos de reflexão de jovens luso-brasileiros. Miguel Mestre não perdeu a oportunidade para, num tom seráfico, debitar declarações surpreendentes.

Assim, ficamos a saber que o governo português recomenda à juventude desempregada que abandone o país. Ou seja, o governo – a não ser que o primeiro-ministro desautorize as palavras do seu secretário de Estado – diz a cerca de 27 por cento de mais de meio milhão de desempregados que deixem o país.

"Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras", disse o secretário de Estado da Juventude e do Desporto.

Não me recordo que algum governante tenha recomendado aos seus concidadãos que abandonem o próprio país. O secretário de Estado pode concluir as suas funções sem nada mais fazer de relevante, mas depois das declarações em São Paulo também já não precisa de qualquer esforço adicional. Tem lugar garantido na galeria da hipocrisia e do disparate político.

Os jovens portugueses não precisam que os governantes os aconselhem a abandonar o país. São forçados a fazê-lo desde há muito. Durante muitas décadas, sob a ditadura fascista, que se prolongou dolorosamente até à revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, foram forçados a procurar longe da sua pátria o trabalho que não tinham nas suas terras ou para evitarem a participação nas guerras coloniais. A construção da democracia pôs termo à sangria de jovens, de mão-de-obra, de talentos. Entretanto, a crise econômica e financeira que se desenvolve e agrava já há vários anos, mercê da irresponsabilidade e oportunismo político de governos de diversos quadrantes políticos, veio, mais uma vez, lançar os jovens na aventura da procura de novos destinos.

O secretário de Estado da Juventude e do Desporto decidiu, agora, deixar claras as intenções do governo de empurrar a juventude para fora do seu próprio país. Na incontinência verbal do governante, Portugal é agora uma “zona de conforto”. Com governantes destes, Portugal não precisa de crises.

Viajar é ótimo, conhecer novas paragens pode enriquecer-nos, mas escolher os caminhos da emigração forçados pela falta de condições no país onde nascemos é coisa bem diferente. É destino imposto.

*Alfredo Prado é diretor dos portais África21 Digital (www.africa21digital.com) e Portugal Digital (www.portugaldigital.com.br)

1 comentário:

Anónimo disse...

O GOVERNO PORTUGUÊS DEVIA DAR O EXEMPLO!

PODIAM SIMPLESMENTE FAZER COMO A MONARQUIA, FUGIDA ÀS GUERRAS NAPOLEÓNICAS... AGORA O GOVERNO FUGIA DA CRISE...

... O BRASIL PORÉM DEVERIA TER DIREITO DE OPÇÃO NO ACOMODAMENTO DOS NOVOS POVOADORES: ACHO QUE SE DEVERIAM INSTALAR LÁ NOS CONFINS DA AMAZÓNIA, ONDE A CRISE NÃO CHEGASSE E FOSSEM PARA LÁ DESBRAVAR UNS 5000 HA DE TERRAS, DAR NOVOS MUNDOS AO MUNDO, PARA FAZEREM PELO MENOS ALGUMA COISA DE ÚTIL... TALVEZ UMA PLANTAÇÃO DE CANA DE AÇÚCAR, POR QUE NÃO UMA DE NABOS?...

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