terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mulheres dão força à revolução no Egito, mas temem fundamentalismo islâmico




OPERA MUNDI

Egito é o 125º no ranking da igualdade de gênero; 42% das egípcias são analfabetas

As primeiras eleições parlamentares no Egito, que ocorrem nos dias 28 e 29 de novembro, vêm confirmando a importância da mulher na estrutura social do país após a queda de Hosni Mubarak. A maciça presença feminina nas manifestações do inicio do ano vem se consolidando a cada protesto, mas a incerteza sobre o futuro do país provoca apreensão em parte das egípcias, que temem um retrocesso em seus direitos.

O Egito é pioneiro no mundo árabe no que se refere à participação feminina na política, tendo eleito a sua primeira parlamentar em 1956. Bem antes disso, em 1919, 300 mulheres organizaram um protesto pelas ruas do Cairo, sob o comando de Hoda Sha'arawi, levando consigo luas crescentes e cruzes como símbolo da unidade nacional e contra a ocupação britânica.

"As mulheres, com ou sem véu, estão nas ruas protestando como cidadãs, ao lado dos homens. Não há uma agenda especifica pelos direitos das mulheres. Estamos como qualquer outro egípcio, descontentes e querendo mudança", declara Hadil el-Khouly, uma manifestante de Tahrir. "As mulheres tiveram um papel crucial na revolução. No entanto, geralmente participamos das lutas revolucionarias, mas perdemos espaço quando chega o momento de criar leis", observa. Blogueiras e ativistas serviram de inspiração para milhares de mulheres e mães levam suas filhas à praça para que vejam com os próprios olhos a mudança política do pais.

A ideia de que homens e mulheres têm direitos e deveres diferentes perdeu forca durante o processo revolucionário. "Ninguém vê se você é um homem ou uma mulher. Estamos todos unidos pela democracia e pela liberdade", explica Mozn Hassan, diretora do Centro de Estudos Feministas Nasra. "Na praça (Tahrir), não somos nem muçulmanos nem cristãos, nem ricos nem pobres, nem homens nem mulheres. Somos todos uma parte do mesmo. Conquistamos o respeito dos homens porque eles nos viram trabalhando e lutando de maneira engajada. Não podemos perder este momento", conclui Hassan.

Medo da sharia

A provável vitória do braço político da Irmandade Muçulmana poderia significar um passo atrás nas políticas de igualdade de gênero e este é o temor das ativistas egípcias e grupos liberais. Recentemente, um candidato do PLJ (Partido da Liberdade e Justiça) afirmou que uma de suas lutas será pelo uso obrigatório do niqab (véu que cobre todo o rosto da mulher), alem de defender a aplicação de multas para mulheres que sejam vista nas praias de biquíni.

Um recente estudo do Fórum Econômico Mundial colocou o Egito na 125ª posição (de 134 paises) quando o assunto é a igualdade de gênero. 42% das mulheres do país são analfabetas e a representação política é mínima (8% do parlamento em 2010). A mutilação genital ainda é feita, principalmente na zona rural, e os abusos sexuais fazem parte da realidade da mulher egípcia (86% das mulheres se sentiram de alguma forma abusadas em 2008). "Há muitas mulheres, não somente da minoria cristã, que vão à praia, bebem, fumam. Estas ideias conservadoras têm muito apelo, principalmente entre a população mais pobre. Não sabemos em que dimensão os islamitas são apoiados politicamente, mas estamos apreensivas", declara Mona Amin, diretora de marketing.

O ECWR (Centro Egípcio para os Direitos das Mulheres, na sigla em inglês) está monitorando as eleições e acusa o Partido da Liberdade e Justiça de ter colocado na porta dos colégios eleitorais mulheres que apóiem as idéias conservadoras com o objetivo de convencer as que apóiem os partidos liberais a mudarem de idéia e "seguir a vontade de Ala', votando pelos candidatos islamitas".

A melhoria no nível educacional das mulheres egípcias se vê refletido nestas eleições e na participação das mesmas em todas as etapas do processo. "Eu me sinto orgulhosa de poder ter uma voz, uma opinião e de poder declarar esta opinião publicamente. Hoje, pela primeira vez, estou orgulhosa por ser uma mulher árabe", declarou uma ativista através de mídias digitais.


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