sábado, 5 de novembro de 2011

O futuro do português em Timor-Leste (10) – Contradições no planejamento linguístico





Enquanto são discutidas questões relativas ao lobbie anglófono, claramente influenciadas por interesses financeiros, principalmente em relação à política da educação multilíngue baseada em língua materna, certas atitudes governamentais leste-timorenses são um tanto contraditórias. A seguir enumerarei somente algumas delas, que foram mais recentes.

O ministro da educação de Timor-Leste, João Câncio de Freitas, no dia 14 de outubro, proferiu algumas falas interessantes. A primeira delas foi sobre a formação de 197 novos professores no Instituto Nacional de Formação de Docentes e Profissionais de Educação. Destes 197 professores, 127 foram de língua portuguesa, ou seja, quase 70% dos professores formados foram na área de língua portuguesa, o que mostra o interesse da população, dos professores e dos alunos com o português.

A segunda fala do ministro foi sobre a porcentagem de falantes em língua portuguesa. Segundo ele, o número de falantes de língua portuguesa em Timor-Leste cresceu para 35%.

Finalmente, a terceira fala do ministro que interessa para nós foi a respeito da capacitação de professores. Segundo João Câncio, há oito mil (8.000) professores leste-timorenses que necessitam de qualificação, e o ministro pretende que até o ano que vem, em 2012, atenda a cerca de 2000 professores, o que corresponde a 35%.

A última notícia foi a publicação do Timor-Leste Communication and Media Survey, pela INSIGHT Team, da UNMIT, que trouxe informações interessantes de uma pesquisa feita sobre as línguas, o uso e o alcance das mídias em Timor-Leste. Entre elas é possível citar que o uso do indonésio caiu (tanto nas mídias , rádio e televisão, quanto no letramento) e o uso do português aumentou na mesma proporção, tanto nas mídias quanto em relação ao letramento. Assim como, a parcela da população leste-timorense que passou a simpatizar com a língua portuguesa e preferi-la no lugar do indonésio também cresceu e, desta forma, o interesse do indonésio diminuiu. O documento pode ser baixado no link:

O que eu pude concluir, e espero também que outras pessoas possam fazer o mesmo, é que o interesse da população leste-timorense pela língua portuguesa tem crescido em áreas diversas na esfera social. Há interesse por parte de professores, alunos, estudantes universitários, a população em geral, políticos etc. Isto foi comprovado de maneira sucinta no que eu expus anteriormente neste post.

As contradições, que fiz referência no título, basicamente são o interesse de poucos em abolir a língua portuguesa de Timor-Leste (por mais que muitos afirmam que isto não está a acontecer) através de políticas linguísticas e a implantação destas, ou seja, o planejamento linguístico. Primeiro, abole-se do ensino básico, ou seja, ninguém mais a aprende quando pequeno, e posteriormente pode-se abolir nas demais esferas sociais. Porém, as contradições são claras, já que esta não é a vontade do povo leste-timorense nem dos próprios governantes do país. Tal atitude contra a língua portuguesa está disfarçada e limitada a um número reduzido de elites estrangeiras e nativas leste-timorenses e de uns poucos governantes.

NOTA: algumas informações deste post tiveram a Agência Lusa e a Página Global como fontes de alguns dados.

*Davi B. de Albuquerque é linguista na Universidade de Brasília

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