terça-feira, 22 de novembro de 2011

Portugal: ENTÃO AGORA JÁ NÃO GOSTAM DA "TROIKA"?




PEDRO TADEU – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

É complexo analisar, estudar e concluir sobre correctas políticas de estabilização monetária. Em contrapartida não é preciso perceber de finanças para entender que, independentemente do valor momentâneo do dinheiro, alto ou baixo, nenhuma sociedade é saudável se a repartição da massa monetária que houver disponível for injusta.

Só um grande especialista é capaz de projectar, com um nível razoável de segurança, o comportamento dos diferentes sectores da actividade económica. Qualquer analfabeto, no entanto, é capaz de perceber que se um Governo anuncia políticas que projectam recessão económica isso significa, é inevitável, que muitas empresas entrem na falência e que muitas pessoas, vidas concretas e reais, passarão pela experiência inaceitável da miséria.

A redacção de um Orçamento do Estado, mesmo sem estar sujeito a constrangimentos de maior, é trabalho para iniciados, para técnicos que compreendem os mecanismos das dotações, das receitas, das provisões, das despesas, dos normativos aplicáveis, dos impostos, das retenções, eu sei lá que mais. Mas até um ignorante percebe claramente que o princípio básico da sua construção é saber decidir, com bom senso, face ao bolo previsível de dinheiro que irá entrar, qual a melhor maneira de o aplicar.

A semana passada fiquei envergonhado com o orgulho com que os nossos governantes e muitos comentadores políticos anunciaram a, cito, "passagem de Portugal no exame da troika".

Os amanuenses da macroeconomia estavam satisfeitos com a aplicação correcta de medidas financeiras de emergência. Qualquer contestação a estas recomendações foi classificada - como é recorrente - pelos alunos subservientes destes doutores que nada sabem sobre a vida, na categoria dos protestos "populistas" e "demagógicos" de quem não percebe nada de economia. Isto apesar do brutal custo social que está subjacente ao programa em curso.

Até que a troika alvitrou a hipótese de reduzir salários no sector privado. Aí, foi um instante, muitos dos aplaudidores, os ditos especialistas em verdades económicas supostamente incontestáveis, assustaram-se e, pela primeira vez, quando finalmente perceberam que a guilhotina financeira também é com eles e vai-lhes ao bolso, esboçaram o primeiro protesto contra os contabilistas europeus, glosando o "populismo" e a "demagogia" que antes criticavam.

Só espero que, rapidamente, Portugal volte a ser governado por gente sábia, sim, mas em política, não em somas e subtracções de contabilidade de mercearia.

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