quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Portugal - Greve Geral: CGTP E UGT ESPERAM QUE GREVE DÊ “SÉRIO AVISO AO GOVERNO”



RTP

"Medo é compreensível"

Uma jornada de luta “diferente”, que constitua um “sério aviso ao Governo”, é aquilo que CGTP e UGT esperam ver concretizado na paralisação desta quinta-feira. Unidos pela segunda vez numa greve geral, depois da ação conjunta de outubro de 2010, Carvalho da Silva e João Proença coincidem na ideia de que “é preciso o país levantar-se” contra o “empobrecimento” e o “retrocesso civilizacional”. Mesmo que o “medo” de perder o emprego seja “compreensível”, como admitiu à agência Lusa o líder da Intersindical.

“O medo é compreensível, é um sinal da condição humana”. Carvalho da Silva respondeu assim a uma pergunta da Lusa sobre os receios de perda do posto de trabalho em dias de crise. Em declarações à agência de notícias, na véspera da greve geral de quinta-feira, a sétima em quase três décadas, o secretário-geral da CGTP deixou vincada a expectativa de que a indignação se sobreponha ao medo. Até porque, arguiu, “esta greve se realiza num contexto de exigência de um enormíssimo sacrifício aos trabalhadores portugueses”.

“Neste momento há portugueses que vivem muito mal, em situação de pobreza, quer sejam trabalhadores no ativo, quer desempregados e pensionistas ou reformados, e há outros que, não vivendo na pobreza, às vezes cinco ou dez euros no orçamento familiar conta muito”, apontou Carvalho da Silva, crítico de um Governo ao qual atribui uma política que desafia o país “a empobrecer” e de “patrões sem escrúpulos, que aproveitam para intensificar a repressão e a exploração”.

Para o dirigente sindical, “há um pressuposto imprescindível”: “Saber que estamos a sacrificar-nos e a trabalhar para um futuro melhor e isso os portugueses começam a perceber”.

“Indignação e descontentamento”

Também João Proença, que partilha com Carvalho da Silva a organização da segunda greve geral conjunta, espera uma manifestação de “indignação e descontentamento”: “Porque as pessoas sentem que os seus direitos foram fortemente afetados, com os cortes brutais nos salários da Administração Pública e no Setor Empresarial do Estado e a ameaça de total desregulamentação dos horários de trabalho no setor privado”.

“Temos uma situação em que todos vemos que em 2012 a recessão vai ser muito profunda e que o desemprego vai agravar-se e o Governo ignora isto e, em vez de dar segurança para o futuro, assume políticas de quero, posso e mando”, reprovou o secretário-geral da UGT, igualmente ouvido pela agência Lusa na contagem decrescente para a paralisação.

A greve, sublinhou ainda o dirigente sindical, “pretende ser um sério aviso ao Governo e também aos empresários de que temos de ter um Portugal preocupado com a competitividade, o crescimento e o emprego”. À espera de uma “forte adesão”, João Proença admite que o contexto de crise venha a demover muitos profissionais: “Muita gente não faz greve geral apesar de estar totalmente solidária com os motivos da greve, mas vai encontrar forma de não trabalhar e justificar a falta ao trabalho para não perder o dia de salário, nomeadamente a falta de transportes”.

Como Carvalho da Silva, João Proença recusa-se a ver na austeridade a única resposta à crise económica e financeira. “Não podemos ter um país de joelhos perante a troika, não podemos ter uma país de joelhos perante quem pôs a Grécia de joelhos, porque não queremos ser como a Grécia, queremos ser um país que resolve os seus problemas”, frisou.

Transportes públicos à cabeça da greve

É no domínio dos transportes públicos que a greve geral deve produzir os primeiros efeitos. As maiores perturbações são esperadas nos comboios, transportes fluviais, autocarros e Metro de Lisboa. No Metropolitano, o serviço vai ser interrompido já na próxima noite – das 23h30 até à 1h00 de sexta-feira.

Já a CP está à espera de “perturbações e algumas supressões de comboios” a partir do final do dia. “Apesar dos serviços mínimos decretados, que correspondem a menos de 20 por cento da oferta diária da empresa a nível nacional, haverá fortes perturbações em todos os serviços”, antecipou a empresa de transportes ferroviários, citada pela Lusa.

Por sua vez, a Carris conta garantir 50 por cento do regime normal de 13 carreiras (12, 36, 703, 708, 735, 738, 742, 751, 755, 758, 760, 767, e 790) e o transporte exclusivo de deficientes, operações definidas como serviços mínimos pelo Tribunal Arbitral do Conselho Económico e Social (CES). A norte, a Sociedade de Transportes Coletivos do Porto prevê assegurar o funcionamento de 50 por cento do regime normal das carreiras 200, 205, 300, 301, 305, 400, 402, 500, 501, 508, 600, 602, 603, 701, 702, 801, 901, 902, 903, 905, 907, 4M e 5M.

O grupo Transtejo-Soflusa indica, no seu portal online, que, “dado que não foram decretados serviços mínimos pelo Tribunal Arbitral do CES, a existência de transporte fica dependente da adesão à greve por parte dos trabalhadores”.

Há também previsão de dificuldades no funcionamento dos aeroportos: a greve conta com a participação do Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos, do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo e da Aviação Civil, estrutura representativa dos tripulantes de cabina, e da Comissão de Trabalhadores da NAV.

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