quarta-feira, 2 de novembro de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 59




MARTINHO JÚNIOR, Luanda

FRANÇA – PEQUENA RADIOGRAFIA DO PODER GLOBAL

A “democracia representativa”, um pouco por todo o lado em que se foi implantando, é fundamentalmente a cosmética que mascara os grandes interesses financeiros e industriais, que mascara os interesses das oligarquias e das elites, que mascara o seu movimento e tornou-se “modelo” nos países que foram consolidados com os benefícios das revoluções industrial e das novas tecnologias.

Os grandes interesses controlam as indústrias ligadas à energia, ao armamento e, em pleno neo liberalismo, simultaneamente, os “média dominantes”.

Essa cosmética utiliza as ideologias que se prendem ao “mercado”, para ir fazendo prevalecer os seus interesses, com todo o arraial de publicidade e de “marketing”, concentrando cada vez em menos mãos a riqueza e o poder, daí a sintomática deriva à direita conservadora e liberal, num ambiente típico da civilização judaico-cristã!

Por essa razão a mescla de feudalismo continua a prevalecer a nível das ideologias, favorecendo a ascensão da social democracia e da democracia cristã!

No momento em que a NATO oficialmente diz que acabou sua missão na Líbia, interessa fazer a radiografia de quem comanda os poderes na Europa.

Servimo-nos do exemplo da França com a consciência que processos similares ocorrem em todos os países da União Europeia, das mais expressivas potências (casos da Alemanha, Reino Unido e França), até às “médias potências” (como a Itália, a Turquia, ou a Espanha), ou a “potências intermediárias” (como a Grécia, ou Portugal).

No caso francês, interessa chamar a atenção para o seguinte:

- O artigo do “Horizons et débats” é de Outubro de 2006, fez 5 anos.

- Ocorreu numa época em que as indústrias da aeronáutica e do espaço entravam numa nova era de completa integração na Europa.

- As interconexões Europeias no quadro dessa indústria, possibilitaram a gestação das indústrias de armamento, integrando e aglutinando as necessidades do quadro da NATO.

- Foi esse estímulo que, instigado também pelos Estados Unidos, propiciou a oportunidade para as profundas alterações geo estratégicas da NATO a partir desse ano, “inauguradas” com a “Steadfast Jaguar 2006” em Cabo Verde.

- O facto da direita conservadora e liberal assumir o poder sobretudo na Grã Bretanha, na França e em Itália, influenciando a conjuntura sócio-política na Alemanha, foi determinante também para os mesmos poderes controlarem os média: os mandatários seus agentes precisam das “caixas de ressonância” para fazer a propaganda as suas filosofias, ideologias, políticas e… das suas sistemáticas mentiras!...

A gravura divulgada pelo “Horizons et débats” tem o mérito das sínteses analíticas, que passam pelo papel centralizador, neste caso, da casa Rothschild (em França como na Alemanha, como na Suíça, como na Itália, ou ainda como no Reino Unido).

"Le capitalisme est le racket légitime organisé par la classe dominante." Al Capone, 1930!

Quantos destes interesses, a coberto do “mercado”, não se estão a relacionar e a impor-se a África?

As “OGMA”, Oficinas Gerais de Material Aeronáutico” de Portugal, (a “OGMA” é uma empresa do estado português acerca da qual não existe pronunciamento algum em termos de crise), é um desses exemplos “intermediários” em relação a Angola.

Foram as “OGMA” que nas oficinas de Alverca transformaram sob autorização discreta norte americana, por exemplo os Lokheed PV-2 Harpoon, de aparelhos de reconhecimento marítimo (que operaram na Base Aérea nº 6 do Montijo), em aviões aptos para reconhecimento em terra, bombardeamento e ataque ao solo em Angola (Base Aérea nº 9, Luanda)…

Há 50 anos, no início da guerra colonial, quando as autoridades fascistas e coloniais de Portugal atacaram, por via da “Operação Cassange”, os revoltosos da Baixa do Cassange em Janeiro e Fevereiro de 1961, a partir da base Aérea no 9, em Luanda e do Aeródromo Base nº 3 em Negage, até o “napalm” foi utilizado para sufocar a insurreição e dar um castigo exemplar aos angolanos, para que eles não voltassem a repetir!

Foram as “OGMA” que preparavam os T-6 Harvard para os teatros operacionais de Angola, Moçambique e Guiné Bissau, assim como garantiam a manutenção e revisão dos F-84 e Fiat G-91!...

Muito recentemente as “OGMA” receberam para revisão e manutenção dois Hercules C-130, da Força Aérea Líbia (governo de Kadafi), que foram retidos até ao momento; um deles, segundo notícias, acaba de ser entregue ao Conselho Nacional de Transição da Líbia, enquanto o outro aguarda ainda por peças de reposição dos Estados Unidos…

Obedecendo a quem comanda a hegemonia (as peças são fabricadas nos parques industriais europeu e norte americano), as “OGMA” estão em Angola ao abrigo de relações bilaterais que as potências que mandam em Portugal a qualquer momento podem “filtrar”, ou pôr em causa.

Foi assim com Kadafi e o “mercado” líbio e poderá ser com qualquer outro “mercado” apetitoso (basta que haja petróleo, diamantes, ouro, urânio e água em abundância)!

No discurso de prestação de contas à nação, o Presidente Angolano dizia as palavras que soam bem às “democracias representativas” judaico-cristãs e ocidentais (http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2011/9/42/Integra-discurso-Chefe-Estado-sobre-Estado-Nacao,d1bec350-9ac7-4bc3-852d-fe2b046699ab.html):

“Ao fazermos uma opção política e ideológica pela democracia pluripartidária e pela economia social de mercado, escolhemos realizar a democracia política, económica, social e cultural, fundada na igualdade e no respeito das liberdades e garantias dos cidadãos.

O nosso objectivo é edificar uma economia de mercado que sirva os Angolanos e garanta a melhoria crescente das suas condições de vida.

A economia nacional ainda está em fase de estruturação, mas não há economia de mercado sem empresários e proprietários privados e desejamos que sejam os empresários angolanos, grandes, médios e pequenos, que comecem a controlar desde já a nossa economia produtiva e de prestação de serviços, à medida que o Estado for reduzindo aí a sua presença”…

Esperemos que a redução do papel do estado não seja feita de forma abrupta, de certo modo como o está a acontecer na Líbia, no âmbito da aplicação duma “doutrina de choque” que vai implicar em severas penas para o Povo Líbio, para além das causadas nestes últimos 8 meses com o derrube de Kadafi e para os Povos vizinhos de todo o Sahel: é que “minas e armadilhas” do “mercado” dos grandes falcões é o que há por demais também em Angola e as “inocentes” novas elites angolanas, tão ávidas de emparceiramentos “contra natura” quão sacralizadas pelo discurso Presidencial, podem estar muito bem preparadas para o comércio, ter muitos lucros com ele e até garantir o mercenarismo das suas opções…

…Duvido que elas estejam efectivamente preparadas para as estratégias tão necessárias ao exercício real de soberania, à garantia da independência, ao aprofundamento da democracia cidadã e participativa, à luta contra o subdesenvolvimento e contra o neo colonialismo!!!...

Quinhentos anos depois, as lantejoulas e os espelhos dos mercadores do século XXI são as “novas tecnologias” produzidas desde a revolução industrial até à nova revolução tecnológica e o exemplo das opções da Grã Bretanha e da França na Líbia, são um alerta para todos os africanos e a sorte que os espera!

Gravura:
Extraída do artigo do “Horizons et débats” – “Spécial France” – “Les nércons au pouvoir en France?” – http://www.horizons-et-debats.ch/express/HD_special_France.pdf - leitura a não perder.

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