quinta-feira, 3 de novembro de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 60




MARTINHO JÚNIOR, Luanda

ESQUECERAM QUE A TERRA É A NOSSA MÃE

A aristocracia financeira mundial teve ao longo de gerações uma educação desajustada ao sentido da vida: todo o engenho e arte do seu estro e da sua posição de liderança nos processos capitalistas mundiais foram colocados ao sabor dum voraz apetite de lucro, “lucro a qualquer preço”, um lucro que está a provocar desequilíbrios humanos e ambientais insuportáveis.

Dois continentes têm sido alvos especiais dessa voracidade e da rapina que isso provoca: África e América Latina.

As violências que têm sido causadas foram ocorrendo de há mais de 500 anos a esta parte e hoje o espectro da guerra, por mais esclarecidos que sejam os dirigentes africanos na vocação de paz, continua bem presente, pendendo sobre as cabeças de todos nós.

A especulação do lucro está agora esventrada sobre a mesa da crise: enquanto as sociedades europeias periféricas são sacudidas pela convulsão que tende a salvar os bancos e sacrificando os povos, desenha-se o que pode ser o corolário das guerras que têm dilacerado o Médio Oriente e África, o ataque ao Irão!

Uma corrente do cristianismo marginalizada pelo Vaticano, assumiu uma posição, de há décadas, em relação aos fenómenos inerentes à lógica capitalista nesta fase de império, bebendo das filosofias dos povos ameríndios subjugados e não das elites globais.

Em resultado da encruzilhada em que se encontra a humanidade e a Terra, o século XXI, é um século em que à beira do abismo a humanidade tem a oportunidade de assumir as mais críticas decisões acerca de sua própria sobrevivência e do planeta.

Todos nós, seres humanos individuais, estamos de passagem na forma e nos conteúdos que nos deram vida, mas temos uma faculdade imensa: a percepção da necessidade de deixar garantias a todos aqueles que nos seguirão, às gerações futuras, a todos os seres e à Mãe Terra!

Recorde-se a entrevista de Leonardo Boff na Nicarágua, conforme divulgação do Adital, a 8 de Janeiro de 2010 (http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=ES&cod=45728), na esteira do Projecto de Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra:

“La idea de fondo es que la Tierra no necesita de nosotros, nosotros necesitamos de la Tierra.

La Tierra puede seguir adelante tranquilamente sin nosotros; pero el problema es las relaciones que tenemos con la Tierra, que es una relación de explotación, de agresión, de total falta de cuidado.

Entonces lo primero que hay que hacer, y sin el cual las demás medidas no tendrán eficacia, es cambiar nuestra mirada con respecto a la Tierra.

Entender la Madre Tierra como un baúl de recursos que uno puede explotar, sin entender la Tierra como fue definido oficialmente, proclamado en la ONU el 22 de abril de 2009: que la Tierra no solamente es Tierra que uno puede comprar, vender, manipular; que la Tierra es Madre, y una Madre no se compra, no se vende, no se manipula, sino que se cuida, se ama, se protege”…

Apesar dessa corrente vital de pensamento e de acção ser quase desconhecida em África, as elites intelectuais africanas vão dando sinais, em vários domínios, de entenderem os desequilíbrios, as manipulações e as ingerências de que África está sujeita e começam a procurar uma saída, que passam inevitavelmente pela redescoberta das capacidades próprias africanas, como pelo renascimento imprescindível ao continente.

Numa intervenção em Luanda, um historiador e professor da Universidade Agostinho Neto, (http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/africa/2011/10/44/Crises-causadas-por-falta-democracia-apetencia-potencias-estrangeiras,d3021c45-0f08-43bb-9cfc-35abcab6a4e9.html), coloca com sentido de oportunidade à visibilidade pública uma das tensões que mais tem dificultado o aprofundamento da democracia em África:

“O historiador Jean Martial Arséne Mbah defendeu hoje (terça-feira), em Luanda, que as crises em África são causadas por factores internos (falta de democracia) e externos interesses das potências estrangeiras na espoliação das riquezas do continente.

Entrevistado pela Angop para aflorar a actual situação politica e económica do Continente, a fonte sustentou que na altura das independências africanas na década de 60 do século XX, havia uma certa democracia nos países francófonos, como experiência trazida pelos adventos do pós segunda guerra mundial.


Lamentou que essa democracia tenha sido abolida pela França do general Charles De Gaulle, a partir de 1958, que não tolerava o sistema multipartidário nas suas possessões africanas, instalando governos que tinham legitimidade estrangeira, daí os golpes de Estado no Togo, Mali, e noutros países, onde foram derrubados os pais das independências.

Frisou que situação similar se viveu com a morte do presidente Léon Mba, no Gabão, em 1967, tendo a França optado pelo então vice-presidente do país, Omar Bongo.

É nessa fase que se instaura os partidos únicos em todo continente africano, lamentou o também professor de Metodologia e Investigação da História Africana do Instituto Superior de Ciências de Educação (ISCED) e Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.

Acrescentou que também que foi um período excepcional no continente pelo facto dos partidos únicos, então existentes, serem incapazes de resolver os problemas sociais e económicos dos seus povos.

Por isso, com o surgimento de crises políticas no leste europeu, nos anos 80, e a consequente queda do comunismo, regressou-se, outra vez, ao pluralismo político em África, o que forçosamente não significou a entrada do continente numa era democrática ou a instalação da democracia, disse.

A democracia para mim é o exercício do poder pelo povo, é um sistema no qual as populações devem participar na gestão dos assuntos públicos como actores e não telespectadores, enfatizou Jean Mbah.

Para o docente universitário, registou-se nessa fase uma mudança de atitude das potências estrangeiras em relação aos países africanos, a França que não apoiou o processo de democratização no continente, foi obrigada acompanhar a criação do sistema multipartidário impulsionado pelos Estados Unidos, com base nos seus interesses.

De acordo com o historiador os Estados Unidos não defendiam que a África fosse democrática, mas com o fim da guerra-fria os americanos queriam ocupar o terreno deixado pelos soviéticos e a França que acompanhava o processo conseguiu que fossem derrubados os líderes que se opunham a sua política no continente.

É assim que perderam o poder Moussa Traoré, do Mali, Didier Rastiraka, no Madagáscar, Denis Sassou Nguesso, no Congo, Mathieu Kerekou, no Benin, entre outros.

A influência francesa foi mais notória no caso do Congo que depois da eleição de Pascal Lissouba, este foi derrubado quando tentou modificar os interesses petrolíferos da França.

Situação similar, segundo a fonte, ocorreu recentemente na Côte d'Ivoire, com o presidente Laurent Gbagbo, que foi apeado no poder por tentar alterar as relações do neocolonialismo naquele país da África do oeste”.

A França para além do seu papel de potência colonial, manteve capacidades decisivas de ingerência em África nos termos do neo colonialismo, em prejuízo do aprofundamento da democracia cidadã e da participação de todos, inclusive na gestão dos assuntos geo estratégicos que se prendem com os interesses eminentemente africanos.

O holocausto no Ruanda, que se tem estendido aos Grandes Lagos e às convulsões que chegaram a Angola, prendeu-se ao contencioso entre a França e o “modelo” de hegemonia anglo saxónica e agora as responsabilidades históricas e humanas são uma vez mais imputadas só aos africanos pelas próprias elites africanas!

Perdidos nas manipulações, são essas próprias elites políticas africanas no poder que se deixam contagiar pelo ambiente e escondem os factores externos da ingerência e da manipulação, talvez por que subconscientemente percebem que se abrirem publicamente voz, por inteiro e corajosamente, é a sua própria sobrevivência que está desde logo em causa.


“Burundi.

Governo considera FDLR e LRA potenciais ameaças à segurança nos Grandes Lagos

Bujumbura– O primeiro Vice-Presidente do Burundi encarregue das Questões de Segurança, Políticas e Administrativas, Thérence, declarou segunda-feira, em Bujumbura, que as Forças Democráticas para a Libertação do Rwanda (FDLR, rebelião rwandesa) e o Exército de Resistência do Senhor (LRA, rebelião ugandesa) são as ameaças potenciais à segurança na região dos Grandes Lagos.

Thérence fez esta declaração quando intervinha durante a cerimónia de abertura de uma reunião de responsáveis dos serviços de inteligência de 11 países membros da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) iniciada segunda-feira na capital burundesa.

A CIGRL agrupa Angola, Burundi, Congo, República Centro Africana, República Democrática do Congo, Quénia, Rwanda, Sudão, Tanzânia, Uganda e a Zâmbia”.

Os africanos ousam condenar a FDLR, sem condenar seu instigador externo, a França!

Na sequência das contradições entre as potências em África (que é também a história da rapina contemporânea de África), na esteira da hegemonia que “defende” o império, quando um governo conservador e liberal como o de Sarkozy se assumiu, a França foi capaz de mais um oportunismo atroz: integrar o pelotão de ataque à Líbia, desprezando as tímidas tentativas africanas de resolver os contenciosos da crise pela via de manutenção da paz com diálogo, com reconciliação e com a abertura à possibilidade de estabilidade emocional, psicológica, social, económica e política!

A França mentora de colonialismo, a França mentora de neo colonialismo ainda que recorrendo à ausência de democracia e agora a França recorrendo a todo o tipo de oportunismos, recorrendo à construção do império e à fragilização dos povos!

Para os povos de todo o mundo a fronteira está bem visível e mesmo que os poderosos continuem a entender a humanidade e o planeta como a “cosa nostra” do seu egoísmo pérfido, manipulador e mortífero, a busca de equilíbrios em benefício de todos e da Mãe Terra é o único caminho digno, saudável e garante de renascimento, pelo que a paz com essa consciência, é uma fonte de inspiração inesgotável que merece ser cultivada na profundidade do século XXI em toda a África como em todos os continentes!

Que a lição seja bem digerida por todos os serviços de inteligência dos países que compõem o CIGRL!

PAZ SIM, NATO NÃO!

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