quinta-feira, 17 de novembro de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 64




MARTINHO JÚNIOR, Luanda

A EMERGÊNCIA POR VIA DA ÁGUA!

Se há preciosidade maior que Angola detém como recurso, essa preciosidade é a água!

O Congo e Angola são, conjuntamente, detentores duma enorme percentagem de água num continente em que ela tende a tornar-se escassa e onde há enormes regiões desérticas e com solos pouco fecundos.

Por altura das comemorações da independência de Angola, estabelecer as estratégias emergentes em função da vida, da vida que constitui a água, é o maior dos reptos para Angola e para o futuro do país e de toda a região.

A água é vital para o homem e para todo o tipo de estratégias que conduzem ao desenvolvimento sustentável, na agricultura, na pecuária, na piscicultura, enquanto recurso hídrico para a produção de energia, como ponto de partida para se alcançar respostas para fazer face à crise que também atingiu a alimentação em muitas regiões do globo.

Será a partir por sua vez da agricultura, da pecuária e da piscicultura que se poderão fazer amplos aproveitamentos industriais.

A água que existe no interior do país, complementa a que existe no oceano contíguo à costa angolana, com os imensos recursos da corrente fria de Benguela.

Angola integra cinco bacias importantes: a do Zambeze, a do Cubango (Okawango), a subterrânea que vem à superfície no lago Etosha (no norte da Namíbia), a dos rios que desaguam na costa angolana do Atlântico e por fim os rios afluentes da grande bacia do Congo (principalmente o Cuango e o Cassai).

Todo esse manancial nasce na região fulcral e vital do planalto do Bié, a região central das grandes nascentes, situada bem no centro geográfico do país.

É essa região que será sempre decisiva para Angola, também nos termos possíveis do desenvolvimento sustentável e é aí que eu sempre tenho preconizado a instalação da capital do país voltado para o futuro.

A noção de que a água interior será decisiva para a estratégia de desenvolvimento humano está já enraizada, sendo necessário aprofundar conhecimentos, métodos e aplicações, principalmente aqueles que causam impactos antropológicos de forma a dar luta ao subdesenvolvimento.

É a luta contra o subdesenvolvimento decisivo para a emergência nacional e regional, por que essa luta terá de ser feita no imenso espaço do país, substancialmente nas regiões rurais, onde há manchas de miséria, de tradições que, sendo importante respeitar, é também importante integrar.

É necessário inventariar onde se faz ainda recolecção em Angola, onde se pratica a auto subsistência, avaliar os procedimentos das franjas da população nesses regimes, de forma a procurar, por via do esforço familiar, integrar nas projecções de desenvolvimento sustentável.

Há dificuldades nesse sentido, por que há vastas regiões onde a ocupação humana é exígua e as comunidades têm grandes distâncias entre si.

A água sendo vida na natureza e no próprio homem, é o potencial que levará Angola a não mais ficar dependente das indústrias de extracção (petróleo, diamantes e outros minerais), até por que a água é abrangente, está relativamente bem distribuída em todo o espaço nacional e em relação aos seus recursos e aos recursos que gera, há garantias que só se poderão calcular com estratégias a curto, médio, longo e muito longo prazos.

Nas comemorações dos 36 anos da independência, duas referências merecem ser evidenciadas:

No acto central, realizado em N’dalatando, foram anunciadas duas novas centrais hidroeléctricas: “Centrais Hidroeléctricas em Laúca e Caculo Cabaça” – http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/centrais_hidroelectricas_em_lauca_e_caculo_cabaca.

No Cuito Cuanavale os antigos combatentes dessa batalha estão empenhados no início dum enorme esforço agrícola: “Heróis da guerra lutam pela paz” – http://jornaldeangola.sapo.ao/25/0/herois_da_guerra_lutam_pela_paz.

Creio que o trabalho que nascerá a partir dos esforços do aproveitamento da água interior e do oceano, será decisivo para a emergência de Angola e, num momento em que, com a ausência de tiros, todos lembram os heróis e os mártires do passado, acho que é cada vez mais saudável anunciar-se dessa maneira o futuro!

Julgo mesmo que Angola só será um país emergente quando, livre do peso das multinacionais do petróleo e dos minerais, exercer de facto soberania sustentável sobre sua própria água interior e oceânica.

É importante andar depressa, pois é sintomático o interesse em dominar bacias hidrográficas que são a chave de África (Nilo e Congo), conforme se vai constatando por via dos Estados Unidos e da sua hegemonia agressiva.

A emergência de Angola e de toda a região Austral e Central de África, sê-lo-á em paz e pela via da água!

Foto: Nova ponte sobre o rio Catumbela, uma obra que nada tem a ver com o passado; Município da Catumbela.


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