ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*
O presidente da Cáritas Portuguesa revelou hoje que desde o início de 2011 surgiram 4645 novos agregados familiares a pedirem ajuda à instituição, uma média mensal de 516 novas famílias carenciadas.
São factos que dão razão a Cavaco Silva quando fala de “insuficiência alimentar” dos portugueses (um eufemismo para todos os que passam fome), ou a Passos Coelho quando – antes de estar no poleiro – dizia: “Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa”.
Desde o início do ano, a Cáritas Portuguesa atendeu 28 mil famílias. Baixos rendimentos, desemprego e habitação são as três grandes preocupações das pessoas que surgem a pedir ajuda. "Muitas, apesar de se manterem empregadas", estão neste momento confrontadas "com o aumento de despesas e a diminuição dos rendimentos", explica Eugénio da Fonseca, dando o exemplo de funcionários públicos, pensionistas e daquelas pessoas que acabaram por perder o direito ao Rendimento Social de Inserção.
Pois é. Razão tinha Passos Coelho quando – antes de ser primeiro-ministro – dizia: “Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo (do PS) anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias”.
O desemprego e a precariedade dos trabalhos "é outro dos dramas", disse o presidente da Cáritas, à margem do Conselho Geral, que se reuniu em Fátima, para debater a evolução dos atendimentos sociais, bem como a situação social e económica do país.
A habitação é o terceiro motivo que leva as famílias a pedirem ajuda. Por um lado, as Cáritas Diocesanas são cada vez mais confrontadas "com as pessoas que deixam de pagar rendas e vão viver para casa dos pais", por outro, "com as famílias que deixam de ter condições para pagar os empréstimos" da habitação.
Razão tinha Passos Coelho quando – antes de assumir a liderança do governo – dizia: “Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos”.
Ainda segundo Eugénio da Fonseca, muitas famílias “chegam ao banco, entregam chaves e escrituras que fizeram e dizem que já não têm nada a ver com aquilo", mas "é preciso explicar-lhes que não é por entregarem a chave que deixam de ter a dívida".
Razão tinha Passos Coelho – antes apanhar o cheque em branco que os portugueses lhe deram – quando dizia: “Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos. Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado”.
Razão tinha Passos Coelho – antes de se descobrir que é um aldrabão – quando dizia que “para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa”.
Razão tinha Passos Coelho – antes de assumir a liderança de um governo esclavagista – quando dizia: “Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas. Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”.
Razão tinha Passos Coelho – antes de ter comprado o reino – quando dizia: “A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento. A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos”.
Tal como tinha razão quando perguntava: “Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?”
Pois é. Os portugueses fazem hoje a mesma pergunta, mas já é tarde. A não ser que para grandes males se descubram grandes remédios…
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: E O FARELO PARECE UMA SUBLIME IGUARIA
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