ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*
O indicador coincidente do consumo privado do Banco de Portugal registou uma quebra de 3,9% em Outubro deste ano, uma descida sem paralelo nos registos, que remontam a 1978.
Fica assim provado que a estratégia do governo começa a dar os resultados pretendidos. De facto, os portugueses estão mesmo a aprender a viver sem comer. Ainda não estão diplomados, mas andam lá perto. É certo que os que mais se aproximaram desse desiderato… morreram. Mas até isso, segundo a super equipa de Passos Coelho, é bom sinal. Sobretudo se morrerem sem obrigar o Serviço Nacional de Saúde a ter despesas.
De acordo com os indicadores de conjuntura de Novembro do Banco de Portugal, o indicador coincidente do consumo privado encontra-se em queda desde Dezembro de 2010, tendo-se vindo a agravar para lá dos 3% a partir de Julho deste ano.
Porque já não é possível culpar a “velha senhora” (não Salazar mas José Sócrates), Passos Coelho sustenta a tese – corroborada pelo Banco de Portugal – que a pão e laranja, ou até mesmo a farelo, os portugueses vão sobreviver e conseguir sustentar o estado esclavagista liderado por uma casta superior de portugueses de primeira.
Casta essa onde pontificam, entre outros, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Faria de Oliveira, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Mexia, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões, Duarte Lima.
Em vez de se preocuparem com a qualidade do farelo, parece que há pelas ocidentais praias lusitanas uma onda contra o facto de alguns elementos dessa reconhecida casta superior beneficiarem, por exemplo, de pensões vitalícias.
Nada mais errado. Como bem sabem os 800 mil desempregados, os 20% que ainda vivem (isto é como quem diz) na miséria e os outros 20% que a têm à porta, em todas as sociedades pré-civilizadas (é o caso de Portugal) existem seres superiores e inferiores, em que os esclavagista estão no poder, e onde os escravos têm de pagar essas pensões vitalícias e outros emolumentos.
Aliás, importa dizê-lo, por muito que seja o dinheiro envolvido na chulice, os políticos portugueses, os de ontem e os de hoje (possivelmente também os de amanhã), são mesmo seres superiores que, como exímios azeiteiros, exploram os escravos até ao tutano. E exploram porque tal lhes é permitido. E sé é isso que a plebe quer, não há nada a fazer.
Aliás, basta ver a galeria de notáveis e superiores cidadãos lusos para ter a certeza de que todos eles merecem tudo o que recebem e ainda muito mais.
Se em Portugal a casta superior é constituída por todos aqueles que trabalham não para os milhões que têm pouco ou nada (os escravos), mas sim para os poucos que têm cada vez mais milhões, ninguém pode dizer que eles (socialistas e sociais-democratas dividem entre si o espólio) não são competentes e merecedores que os plebeus continuam a pagar para manter a sua mama.
Quando alguns alegam que, perante a Constituição, todos são iguais, farto-me de rir (a barriga vazia não anula – por enquanto - o meu sentido de humor).
Todos são iguais? Onde?
São todos iguais a ponto de como bom “africanista de Massamá”, Passos Coelho reeditar para os escravos a política colonial imortalizada no poema Monangambé de António Jacinto: fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinquenta angolares e porrada se refilares.
E, tal como no tempo de Salazar, Passos Coelho avisa que o Governo não permitirá o direito à indignação aos “que pensam que podem incendiar as ruas" e trazer "o tumulto". Tirem os escravos daí a ideia.
É certo que em Portugal aumenta o número dos que pensam que a crise (da maioria, de quase sempre os mesmo) só se revolve a tiro. Até os militares sonham, embora em silêncio e com as paredes do cérebro insonorizadas, que essa é uma alternativa. Por mim parece-me uma boa opção, sobretudo porque apesar da fraqueza física haverá sempre força para puxar o gatilho.
Mesmo que assim seja, se calhar os responsáveis pela tragédia vão continuar a ter pelo menos três boas refeições por dia e chorudas pensões vitalícias. Quase sempre é assim. As revoluções só conseguem mudar algumas moscas…
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: BAJULAÇÃO A MAIS UM “LÍDER CARISMÁTICO”
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