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Lisboa, 15 nov (Lusa) - Angola é uma potência emergente na região centro-austral de África, faltando-lhe apenas o desenvolvimento tecnológico para se afirmar como potência efetiva, defende o autor de um livro a lançar hoje em Lisboa.
"Angola. Potência regional em emergência" é um ensaio baseado na tese de doutoramento de Eugénio Costa Almeida, para quem "Angola caminha a passos largos para ser uma forte potência regional, mas ainda lhe faltam algumas coisas para que seja um Estado diretor em toda a sua plenitude".
Definindo potência regional como um estado que determina a vida política, social, económica e militar de uma região, o autor recorda que "não se é potência só porque se praticam atos que se consideram normais numa potência, mas por haver fatores que determinam a existência de uma efetiva potência".
No caso de Angola, esses fatores estão quase todos reunidos: "Já tem projeção política, tem um impacto económico, embora ainda restrito, é claramente uma potência militar, mas falta-lhe claramente - e para isso caminha - a força tecnológica".
Eugénio Costa Almeida compara Angola com a África do Sul, que é a potência da região austral do continente africano e tem o desenvolvimento tecnológico do seu lado. "Por isso a África do Sul incorpora o G-20 [que reúne países industrializados e em vias de desenvolvimento para discutir a economia global] e Angola não", defende.
Ainda assim, diz, Angola é já uma potência emergente na região centro-austral de África, tendo influência sobre a República do Congo, a República Democrática do Congo, os Camarões, São Tomé e Príncipe, o Gabão, a Guiné Equatorial, a Zâmbia. Tem também alguma influência na Namíbia e no Zimbabué, que são dominados pela África do Sul e combate a influência da potência sul-africana na região dos Grandes Lagos, defende.
"Angola está para a região centro-austral da África como a Alemanha está para toda a Europa ocidental e central", exemplificou.
Questionado sobre o facto de a economia angolana ser dependente do petróleo, o autor admitiu que "numa primeira fase isso seria um obstáculo", mas recordou que "há vontade política dos atuais governantes em diversificar a economia".
Sobre a política interna do país, recordou que a União Soviética não era uma democracia e era uma super-potência, assim como a China, embora lhe convenha estar no BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), "é e tem todas as condições para ser uma super-potência".
"Não me parece que a democracia seja o ponto fulcral para a afirmação de qualquer estado como potência regional", afirmou.
No livro, o autor questiona ainda se será possível a existência de potências regionais no quadro da União Africana (UA), considerando que aquela organização prevê que haja "um único organismo que conglomere todos os países ao mesmo nível".
A resposta é sim: "Os países que potencialmente podem ser potências regionais em África - Egito, Senegal, Nigéria, Angola, África do Sul e talvez Quénia ou Uganda - servem-se da UA para determinados fins, mas não permitem que a UA interfira nos seus fins últimos".
O luso-angolano Eugénio Costa Almeida é mestre em Relações Internacionais (ISCSP) e doutorado em Ciências Sociais, ramo Relações Internacionais, com a dissertação "A União Africana e a Emergência de Estados-Directores no Continente Africano: O Caso de Angola", que deu origem ao livro a lançar hoje.
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