quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Timor-Leste: Massacre foi "mal necessário" para a luta de Timor - organizador protestos




MSE - LUSA

Díli, 10 nov (Lusa) - O massacre no cemitério de Santa Cruz em Díli, Timor-Leste, ocorrido há 20 anos, foi um "mal necessário" para a luta pela independência, afirma Gregório Saldanha, um dos organizadores da manifestação que antecedeu o ataque de 12 de novembro de 1991.

"Tenho a convicção de que o acontecimento de Santa Cruz foi um mal necessário para esta luta, sem isso não éramos livres como país", considera em entrevista à agência Lusa Gregório Saldanha.

Segundo o antigo deputado da Fretilin, o massacre divulgou o "silêncio" em que vivia o povo de Timor-Leste. "Quando aconteceu o massacre houve um passo muito importante para a luta toda. A ocupação não terminou mas deu um empurrão para apressar e resolver o problema de Timor-Leste", explica.

Salientando que o massacre "aconteceu dentro de outras tragédias", Gregório Saldanha defende que os acontecimentos de 12 de novembro de 1991 levaram o "mundo a reconhecer que o povo de Timor-Leste continuava a lutar pela sua independência, pela sua fé e que os indonésios continuavam a violar os direitos deles".

Na altura, Gregório Saldanha tinha 28 anos e após o massacre foi condenado a prisão perpétua.

"Como os indonésios descobriram que eu era um dos organizadores, e autoproclamei-me como o único organizador da manifestação, fui condenado à pena perpétua", conta.

Gregório Saldanha saiu da prisão a 10 de dezembro de 1999 e pôde, finalmente, cumprir duas das três promessas que fez a Nossa Senhora de Fátima se Timor-Leste se tornasse independente.

A primeira foi casar-se e a segunda foi chamar Fátima à primeira filha que tivesse.

A terceira está ainda a cumprir e passa por contribuir com o seu trabalho para o desenvolvimento do país.

Duas décadas depois do massacre, Gregório Saldanha defende que é preciso fazer mais por Timor-Leste e pelo povo.

"Eu posso comer três vezes por dia. Mas se formos para as aldeias, nas áreas remotas o povo come uma vez, não consegue eletricidade, água potável, não consegue cadeiras para os filhos sentarem e estudarem", diz.

Para Gregório Saldanha, "todos os governos têm a responsabilidade de mudar a vida deste povo que sofreu bastante e hoje continua a ficar atrás e a não usufruir desta independência".

Gregório Saldanha deixou a carreira política para coordenar o Comité de 12 de novembro, criado para encontrar as pessoas desaparecidas depois do massacre de Santa Cruz e apoiar as famílias das vítimas e sobreviventes.

"Nós temos a nossa prioridade que é encontrar os restos mortais. Para mim isso é justiça. A justiça significa que a população tem o direito de saber onde estão os seus filhos, onde estão os seus pais, onde estão os seus maridos", afirma.

A 12 de novembro de 1991 mais de duas mil pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em outubro desse ano por elementos ligados às forças indonésias.

No cemitério, militares indonésias abriram fogo sobre a multidão. Segundo números do Comité 12 de Novembro, 2261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.

A maior parte dos corpos continua em parte incerta.

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