Eduardo Febbro - Direto de Atenas – Carta Maior
Costas Isychos, membro da Secretaria Política de Synaspismos, partido da esquerda grega, evoca nesta entrevista a tragédia social que vive a Grécia, o temor das pessoas de que se repita aqui a hecatombe argentina e desenvolve a ideia segundo a qual a Grécia está sendo uma espécie de laboratório neoliberal no sul da Europa. "Creio que veremos lutas históricas na Europa. A experiência argentina deixou uma lição positiva: o povo pode derrotar governos que estejam ao serviço do capital financeiro".
Os comunistas e a coalizão da esquerda radical grega não deram voto de confiança para o novo primeiro ministro grego, o banqueiro Lukas Papademos. O Partido Comunista e a Synaspismos são os únicos partidos com representação parlamentar que de modo algum pactuaram com esse OVNI político que tem a forma de um Executivo sob o mando de um banqueiro que jamais competiu nas urnas e no qual o partido da extrema direita grega, LAOS, com apenas 15 cadeiras, entrou com um ministro, dois secretários de Estado e um vice-ministro.
Costas Isychos, membro da Secretaria Política de Synaspismos, evoca nesta entrevista a tragédia social que vive a Grécia, o temor das pessoas de que se repita aqui a hecatombe argentina e desenvolve a ideia segundo a qual a Grécia está sendo uma espécie de laboratório neoliberal no sul da Europa.
Estamos no quarto país da Europa que perde um governo eleito, atingido pela crise, e onde organizam outro governo dirigido por banqueiros. Um mal comum que desembocou em cada caso em uma resposta similar.
Hoje estamos escutando na boca de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy que as eleições são perigosas. Essas coisas eram ouvidas nas décadas de 70 e 80 na América Latina, mas escutá-las na Europa em 2012 é outra coisa. Em resumo, a receita é comum em toda a Europa: Estados mais autoritários, mais selvagens, pacotes de austeridade que condenam ao desemprego e à fome a grande parte dos povos.
Estão nos condenando a uma vida que se parece muito mais a da Europa do século XIX: 14 horas de trabalho diário, um salário mínimo que não ultrapassa os 500 euros, o que é uma miséria porque é preciso levar em conta que, na Grécia, um litro de leite custa três euros. Por isso temos cifras alarmantes, que se parecem com aquelas da Argentina na década dos 90: 20% de desemprego, 48% de desemprego entre os jovens com menos de 35 anos e 9% dos jovens querendo sair do país.
Estamos em uma crise profunda e perigosa. Os aposentados, os empregados, perderam quase 50% de seus ganhos em função das leis votadas pelo governo socialista do Pasok. O ex-primeiro ministro Yorgos Papandreu implementou uma política de austeridade selvagem.
A Grécia é um país sob intervenção do FMI, do Banco Central Europeu, da União Europeia e também de responsáveis políticos que se mostraram muito agressivos, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy. Essa dupla já tem um apelido na Europa: Merkozy.
Sim. Merkozy é atualmente o núcleo político que está ditando todas as políticas neoliberais que estão sendo aplicadas na periferia da Europa, nos chamados Estados PIGS, ou seja, Portugal, Itália, Grécia e Irlanda. Por outro lado, creio que outros países vão se somar a esses, incluindo a França. Mas o concreto é que, neste momento, a Grécia é o laboratório ultra-liberal no canto da Europa.
Nosso novo primeiro-ministro, Lukas Papademos, é uma pessoa que em toda a sua vida cumpriu com seus deveres de servir ao capital financeiro especulativo. Não tem nenhum programa conhecido. A única coisa que diz é que a Grécia tem que seguir por este caminho ultra-liberal. É preciso levar em conta que estamos vivendo momentos históricos nos quais podemos voltar 150 anos ou voltar a ter revoluções populares, muito parecidas com a que ocorreu no Norte da África. As pessoas não querem que a vida mude de uma maneira tão brutal.
Creio que veremos lutas históricas na Europa. Na Grécia, as pessoas têm medo de que se repita aqui a experiência neoliberal da Argentina dos anos 90 com todas aquelas políticas neoliberais que levaram ao abismo e à destruição da Argentina. Mas dessa experiência argentina também ficou uma lição positiva: as pessoas sabem que o povo pode derrotar governos que estejam ao serviço do capital financeiro. Por isso, em muitas das manifestações que ocorrem hoje na Grécia, as pessoas saem na rua com bandeiras argentinas. O povo grego sabe que pode derrubar este mundo selvagem e neoliberal que nos aterroriza.
Por fim, se olhamos os casos da Grã-Bretanha, Espanha e Grécia, constatamos que o socialismo europeu foi mais liberal que os próprios liberais.
É verdade. Temos uma mutação ideológica e política da social-democracia europeia. É importante saber que o ex-primeiro ministro Yorgos Papandreu segue sendo o presidente da Internacional Socialista! A social-democracia europeia passou por um caminho ultra-liberal com privatizações e baixa de salários dos trabalhadores. Tudo o que tem a ver com Estado, com as políticas públicas, as políticas sociais, a saúde pública, a educação, está desaparecendo do mapa ideológico, político e programático da social-democracia grega e europeia. Mas estou convencido de que, com tudo o que aconteceu na Grécia, aqui nascerá um movimento sólido, anti-liberal e progressista que será capaz de mudar as coisas neste país.
Tradução: Katarina Peixoto
Costas Isychos, membro da Secretaria Política de Synaspismos, evoca nesta entrevista a tragédia social que vive a Grécia, o temor das pessoas de que se repita aqui a hecatombe argentina e desenvolve a ideia segundo a qual a Grécia está sendo uma espécie de laboratório neoliberal no sul da Europa.
Estamos no quarto país da Europa que perde um governo eleito, atingido pela crise, e onde organizam outro governo dirigido por banqueiros. Um mal comum que desembocou em cada caso em uma resposta similar.
Hoje estamos escutando na boca de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy que as eleições são perigosas. Essas coisas eram ouvidas nas décadas de 70 e 80 na América Latina, mas escutá-las na Europa em 2012 é outra coisa. Em resumo, a receita é comum em toda a Europa: Estados mais autoritários, mais selvagens, pacotes de austeridade que condenam ao desemprego e à fome a grande parte dos povos.
Estão nos condenando a uma vida que se parece muito mais a da Europa do século XIX: 14 horas de trabalho diário, um salário mínimo que não ultrapassa os 500 euros, o que é uma miséria porque é preciso levar em conta que, na Grécia, um litro de leite custa três euros. Por isso temos cifras alarmantes, que se parecem com aquelas da Argentina na década dos 90: 20% de desemprego, 48% de desemprego entre os jovens com menos de 35 anos e 9% dos jovens querendo sair do país.
Estamos em uma crise profunda e perigosa. Os aposentados, os empregados, perderam quase 50% de seus ganhos em função das leis votadas pelo governo socialista do Pasok. O ex-primeiro ministro Yorgos Papandreu implementou uma política de austeridade selvagem.
A Grécia é um país sob intervenção do FMI, do Banco Central Europeu, da União Europeia e também de responsáveis políticos que se mostraram muito agressivos, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy. Essa dupla já tem um apelido na Europa: Merkozy.
Sim. Merkozy é atualmente o núcleo político que está ditando todas as políticas neoliberais que estão sendo aplicadas na periferia da Europa, nos chamados Estados PIGS, ou seja, Portugal, Itália, Grécia e Irlanda. Por outro lado, creio que outros países vão se somar a esses, incluindo a França. Mas o concreto é que, neste momento, a Grécia é o laboratório ultra-liberal no canto da Europa.
Nosso novo primeiro-ministro, Lukas Papademos, é uma pessoa que em toda a sua vida cumpriu com seus deveres de servir ao capital financeiro especulativo. Não tem nenhum programa conhecido. A única coisa que diz é que a Grécia tem que seguir por este caminho ultra-liberal. É preciso levar em conta que estamos vivendo momentos históricos nos quais podemos voltar 150 anos ou voltar a ter revoluções populares, muito parecidas com a que ocorreu no Norte da África. As pessoas não querem que a vida mude de uma maneira tão brutal.
Creio que veremos lutas históricas na Europa. Na Grécia, as pessoas têm medo de que se repita aqui a experiência neoliberal da Argentina dos anos 90 com todas aquelas políticas neoliberais que levaram ao abismo e à destruição da Argentina. Mas dessa experiência argentina também ficou uma lição positiva: as pessoas sabem que o povo pode derrotar governos que estejam ao serviço do capital financeiro. Por isso, em muitas das manifestações que ocorrem hoje na Grécia, as pessoas saem na rua com bandeiras argentinas. O povo grego sabe que pode derrubar este mundo selvagem e neoliberal que nos aterroriza.
Por fim, se olhamos os casos da Grã-Bretanha, Espanha e Grécia, constatamos que o socialismo europeu foi mais liberal que os próprios liberais.
É verdade. Temos uma mutação ideológica e política da social-democracia europeia. É importante saber que o ex-primeiro ministro Yorgos Papandreu segue sendo o presidente da Internacional Socialista! A social-democracia europeia passou por um caminho ultra-liberal com privatizações e baixa de salários dos trabalhadores. Tudo o que tem a ver com Estado, com as políticas públicas, as políticas sociais, a saúde pública, a educação, está desaparecendo do mapa ideológico, político e programático da social-democracia grega e europeia. Mas estou convencido de que, com tudo o que aconteceu na Grécia, aqui nascerá um movimento sólido, anti-liberal e progressista que será capaz de mudar as coisas neste país.
Tradução: Katarina Peixoto
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