JOÃO SILVESTRE ALVARENGA – O LIBERAL, opinião
Emprego. Extinguimos o Ministério do Trabalho para, em seu lugar erguermos o Ministério do Emprego. Qual é a sabedoria subjacente a esse “expediente”: como não há trabalho, especialmente, para os jovens, inventa-se “empregos”. Só que esses tais “empregos” são selectivos e preferenciais aos “camaradinhas” bem comportados, desejável que possuam “carteirinha” jovem como diferencial competitivo. Porém, devido à “massificação” de “carteirinhas” jovens provocada pelas ondas das sucessivas campanhas eleitorais há necessidade de fortes “conexions” para a efectiva empregabilidade.
Trabalho & emprego. Diz-se que os jovens não querem trabalhar embora haja muita coisa a ser feita: dos trabalhos mais braçais aos mais “intelectualizados” de “gabinete”. Por que essa aparente contradição? Será que o incentivo ao “emprego” não constitui uma forte desmotivação ao “trabalho”? – como gostamos de copiar, lembrei-me da história do “Boiznho”, no Brasil: “Boizinho” era um boi muito trabalhador que morava num dos Municípios interioranos do Brasil. Por ser tão trabalhador, o “Boizinho” virou famoso e era chamado para tudo quanto é canto para carretos e outros trabalhos. A fama do “Boizinho” correu tanto até chegar aos ouvidos do Prefeito da cidade. Ao conhecer a fama de excelente trabalhador que era o “Boizinho” e sabendo dos problemas de produtividade crónica dos funcionários da Prefeitura, o Prefeito resolve contratar o “Boizinho” como “empregado” da Prefeitura. Então, o “Boizinho” passou a ter direito a horário fixo, gabinete de trabalho, salário, entre outros benefícios. No dia seguinte à tomada de posse do “Boizinho”, eis que ele aparece, bem cedo, no local do emprego – Prefeitura. O Prefeito exclama: bravo, sr. “Boizinho”, que bom se todos fossem com você?!!!! O visado responde – obrigado, sr. Prefeito. O Prefeito aproveita para indicar a lista de trabalho que havia reservado ao mais novo “empregado” e ordena “agora vai trabalhar, sr. “Boizinho”. O “Boizinho” mugiu “muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu”, “muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.” A partir do dia em que o “Boizinho” encontrou “emprego”, ele deixou de trabalhar e sempre que alguém lhe solicitasse algum trabalho, ele respondia da mesma forma, mugindo! Neste contexto, estar “empregado” significa, estar encostado em algum lugar para receber direitos e benefícios de forma regular, estável e contínuo, indeterminadamente mas sem fazer nada – sem trabalhar. Trabalhar significa luta, esforço, suor, cansaço, dedicação, profissionalismo. Nós mudamos o Ministério do Trabalho para o Ministério do Emprego: Que “Boizinho” empregado e vai trabalhar? E que “camarada” vai buscar “trabalho” ao invés de “emprego’’ sabendo que pelo “expediente” e “conexions” poderá conseguir um ou vários “empregos”?!!!!
Recursos Humanos. Um dos nossos maiores mitos é que a nossa maior riqueza está nos recursos humanos já que não temos ouro nem petróleo. Até já se criou um Ministério para isso. A política dos Recursos Humanos entre nós iguala competentes a incompetentes, “trabalhadores” produtivos a “empregados” relapsos, indivíduos motivados aos desmotivados, trabalhadores especialistas aos generalistas. Será essa a melhor política para os Recursos Humanos que podemos empreender? Qual é a capacidade de emprego ou trabalho que as instituições de ensino profissionalizante e superior têm para oferecer e garantir aos jovens? Ou seja, quantos têm a garantia de emprego/trabalho quando terminarem a sua formação? Daqueles sortudos que conseguirem algum emprego/trabalho será que vão auferir um salário que lhes permitirão adquiri terreno/casa, veículo de transporte para a si e família, condições materiais para constituir família, educar os filhos e cuidar dos pais? Quais programas de treinamento e desenvolvimento de Recursos Humanos temos e será que, em existindo, são adequados aos nossos propósitos de desenvolvimento e de desenvolvimento com sustentabilidade? Quanto à questão da remuneração: Os PCCS (Planos de Cargos, Carreiras e Salários) inexistentes ou congelados há décadas, os desfasamentos salariais, os atrasos nas nomeações, classificações, promoções, progressões, (re)integrações e outros direitos são sinais de excelência em matéria de uma boa promoção da política de Recursos Humanos?
Juventude. A maior camada social em termos demográficos nos classifica como “Nação jovem”, média de idade em torno dos 22 anos. Esperava-se, por conseguinte, que os jovens tivessem mais protagonismo em termos económicos, sociais, políticos, culturais. Qual é a visibilidade que temos dos jovens: thugs em batalhas urbanas se matando e morrendo diariamente, jovens sem oportunidade de trabalho digno socialmente e bem remunerado, jovens sem acesso às escolas profissionalizantes e também aos centros de ensino superiores, jovens desmotivados, desalentados e com poucas perspectivas para si academicamente, profissionalmente e pessoalmente, jovens queixando de desigualdade de tratamento nos centros de ensino e de trabalho. Nunca tinha deparado com tantos jovens alcoólatras e drogados como agora em tudo quanto é canto. Achar que a banalização do consumo de bebidas alcoólicas e drogas é uma boa política para a juventude é sinónimo de deitar gasolina numa casa e atear fogo e esperar o que acontece: parece que só um grande milagre para salvar alguma coisa com essas atitudes.
JOÃO SILVESTRE ALVARENGA joaostav@hotmail.com
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