sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Euro se impôs como moeda, mas enfrenta sérios problemas estruturais




DEUTSCHE WELLE

O euro é amplamente usado como meio circulante e moeda de reserva, mas corre graves riscos devido à situação financeira de alguns países: uma situação já prevista há dez anos, quando a moeda europeia começou a circular.

Em meados de dezembro de 2001, os cidadãos de 12 países europeus tiveram, pela primeira vez, euros em suas mãos. Na época, foram distribuídos "kits iniciais" para familiarizar as pessoas com a nova moeda, que passou a circular a partir do dia 1° de janeiro de 2002 nos países da "zona do euro". Transcorridos dez anos, as opiniões a respeito do sucesso (ou não) da União Monetária são divergentes.

Quatro anos antes de a moeda comum começar a circular, em 1998, era fundado o Banco Central Europeu (BCE), com sede em Frankfurt. A instituição foi criada nos moldes do Banco Central Alemão, tendo como única obrigação zelar pela estabilidade do euro – um aspecto muito importante para a Alemanha. Tomando-se as taxas de inflação e o câmbio de outras moedas como parâmetro, é possível definir a história do euro como bem-sucedida.

O BCE conseguiu pilotar o euro, até agora, através de todas as turbulências monetárias ocorridas desde sua criação. Em seu primeiro dia como moeda comercial, o 4 de janeiro de 1999, quando foi introduzido em 11 países, ele era cotado a 1,18 dólar. A seguir, políticos e economistas foram ficando cada vez mais nervosos, já que o euro foi sendo desvalorizado. Em outubro de 2000, ele chegou a seu recorde mínimo de 0,82 centavos de dólar.

Comentários proféticos

"Os mercados de divisas sentem com exatidão se os políticos seguem um caminho correto ou não para estabilizar uma moeda. Foi quando os políticos europeus chegaram, permitindo aos italianos novos endividamentos e indo contra os critérios de estabilidade da moeda. E, para coroar a situação, ainda resolveram fechar os olhos, aceitando a Grécia como 12° membro da união monetária. Não é nenhum milagre o fato de que os mercados não tenham confiança no euro", dizia um articulista da Deutsche Welle em comentário redigido há 11 anos, em outubro de 2000.

"O problema está na Grécia, que não deveria ter entrado na União Econômica e Monetária", diz hoje Theo Waigel, ministro alemão das Finanças nos anos 1990, que participou na época das negociações para a introdução do euro. "O que temos são problemas financeiros em alguns países, surgidos a partir da grande crise financeira dos últimos 80 anos e também por causa de erros de alguns países. Não temos um problema monetário, mas sim problemas específicos desses países", diz o ex-ministro.

Em outras palavras: não há uma crise do euro. Embora diversos países da zona do euro tenham muitos problemas de endividamento, o euro se firmou otimamente como moeda, poupando aos cofres das empresas bilhões, antes gastos com transações financeiras. Além disso, o a moeda única proporcionou aos alemães um aumento enorme das exportações para países periféricos, devido aos juros baixos mantidos por longo tempo. Atrás do dólar, o euro ascendeu à categoria de segunda moeda de reservas financeiras mais importante do mundo. E, apesar de todas as turbulências, o câmbio do euro continua surpreendentemente estável.

Saudades do marco alemão

Entretanto, quem não lida com exportações em dólar nem passa férias em países onde circula a moeda, pouco se interessa pelo câmbio do euro, estando muito mais interessado na estabilidade interna da moeda. Sobretudo na Alemanha, o euro foi visto, de início, como símbolo de aumento de preços e a população do país só se despediu a contragosto do marco alemão. Até hoje, paira uma insistente sensação de que a moeda nacional foi desvalorizada, embora as estatísticas provem o contrário: nos dez anos transcorridos desde a introdução do euro, a inflação foi menor que nos últimos dez anos de marco alemão.

Considerando as taxas de inflação e o câmbio, o euro pode ser considerado como uma história de sucesso. Por outro lado, foi o próprio euro o responsável pela séria inadimplência de alguns países. "Os problemas financeiros dos países do Sul da Europa, especialmente da Grécia e de Portugal, têm razões predominantemente domésticas", escreve o Instituto da Economia Alemã. "Pois, na verdade, a introdução do euro deu boas chances a esses Estados hoje em crise".

Por volta de 1995, o anúncio de que a nova moeda seria introduzida no país já era uma garantia de redução dos juros, que os países do Sul, comparados à Alemanha, por exemplo, tinham que pagar pelos títulos públicos. Com isso, o peso dos juros diminuiu consideravelmente. Por outro lado, nem gregos nem portugueses fizeram uso dessa margem ampliada de ação. "Em lugar de investimentos que impulsionam o crescimento, eles aumentaram sobretudo os encargos sociais, ultrapassando na Grécia os 19% do PIB em 1995 e os 35% em 2007. Em Portugal, esses encargos aumentaram de forma semelhante", escreve o Instituto da Economia Alemã.

O outro lado da moeda

Através de juros baixos, o Estado, as empresas e até os cidadãos, com seus orçamentos privados, foram sendo induzidos a fazer empréstimos. Com isso, surgiu um boom econômico artificial, financiado pelos empréstimos, que elevou os preços e os salários de maneira muito mais rápida do que em outros países europeus, aumentando também as importações e diminuindo as exportações. Criou-se uma bolha econômica, que explodiu quando os mercados de capital recusaram-se a continuar financiando os violentos déficits orçamentários sem cobrar taxas adicionais de risco por isso.

É por isso que os países do boom de então, com seus preços e salários exorbitantes, encontram-se hoje em meio a uma profunda crise estrutural e não conseguem mais enfrentar a concorrência. Na verdade, eles precisariam de um reajuste cambial, ou seja, de uma desvalorização da moeda nacional, a fim de se tornarem capazes de enfrentar a concorrência novamente.

Mas essa possibilidade não existe dentro do sistema do euro. Quem adota a moeda comum, não pode desvalorizá-la apenas dentro de suas fronteiras, ou seja, tem também que arcar com suas desvantagens. Este é o outro lado desta moeda uma década depois de sua introdução: um balanço, no mínimo, ambivalente.

Autor: Rolf Wenkel (sv) - Revisão: Augusto Valente

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