Irã quer dar provas de força. Depois de ameaçar bloquear o transporte de petróleo no Estreito de Ormuz, país anunciou testes com mísseis de médio alcance no Golfo Pérsico. Analistas estão céticos quanto a ameaças.
Na manhã deste sábado (31/12), Teerã irá "testar alguns mísseis de médio alcance no Golfo Pérsico", segundo informou o vice-comandante da Marinha, marechal Mahmud Mussavi, à agência de notícias Fars, ligada ao governo. Os mísseis iranianos do tipo Shabad 3 podem, teoricamente, atingir alvos em Israel ou bases norte-americanas na região do Golfo e no Afeganistão.
Sinal de força
Os testes com os mísseis fazem parte de grandes manobras das forças de segurança iranianas no mar, que começaram no último fim de semana. Os exercícios deverão prosseguir até a próxima segunda-feira e, nas palavras de Mussavi, entram agora em sua fase mais importante. O propósito é preparar a Marinha iraniana para uma situação de guerra.
O medo de uma nova crise na região foi despertado pela mais recente ameaça do governo iraniano de bloquear o Estreito de Ormuz, passagem de grande importância estratégica, caso, como anunciado, o Ocidente imponha embargo às exportações de petróleo do país, em represália ao programa nuclear mantido por Teerã.
Pela passagem marítima de mais de 200 quilômetros de extensão, cuja distância entre as duas margens chega a ser de apenas cerca de 54 quilômetros, no ponto mais estreito, escoa grande parte das exportações de petróleo do Oriente Médio. O estreito liga o Golfo Pérsico ao Mar Arábico e ao Oceano Índico.
Divergências entre lideranças iranianas
Um bloqueio na passagem causaria sérios dados ao abastecimento de energia em todo o mundo. Os trajetos de transporte de petróleo seriam mais longos e os custos aumentariam assustadoramente. "Os norte-americanos não iriam tolerar que o Estreito fosse fechado", afirma o jornalista e escritor iraniano Bahman Nirumand. Um bloqueio, significaria guerra, e o governo iraniano tem consciência disso, diz.
Nirumand não crê que Teerã queira se arriscar tanto. Embora haja facções radicais na máquina do poder que desejam um conflito militar na região. "Eles acreditam que isso levaria a um ganho de poder", assinala.
"No Irã, existe uma briga de poder enorme entre as facções. Isso é perceptível na forma de articulação do ministro do Exterior, que é, por sua vez, muito diferente daquela dos militares. A questão é saber qual facção vai impor sua vontade e qual será a decisão das lideranças", completa o jornalista iraniano.
Jochen Hippler, cientista político da Universidade de Duisburg-Essen, não acredita que um bloqueio do Estreito de Ormuz se concretize, de fato, como retaliação ao acirramento das sanções contra o Irã. "As lideranças não são coesas no que diz respeito a este assunto", avalia Hippler. No mais, o Irã não conseguiria manter militarmente um bloqueio por mais de dois ou três dias, frente à superpotência militar dos EUA.
Se as circunstâncias fossem outras
No entanto, a situação seria muito diferente no caso de um ataque de Israel ou dos EUA às usinas nucleares iranianas. Aí, diz Volker Perthes, diretor do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), é possível que o Irã partisse para o uso dessa última forma de retaliação. A Marinha iraniana poderia encher o estreito de bombas, usando pequenos barcos. Um método muito mais difícil de ser combatido do que um simples bloqueio com navios de guerra.
Do ponto de vista militar, o conflito com o Irã não tem solução: quanto a isso, os três especialistas – Nirumand, Hippler e Perthes – estão de pleno acordo. Todos eles defendem uma desescalada da situação e um retorno aos meios diplomáticos. "As sanções mais rigorosas não irão forçar o Irã a abandonar seu programa nuclear", salienta Jochen Hippler, para quem já chegou a hora de desenvolver um conceito de longo prazo para a região.
"O regime iraniano sente-se ameaçado", diz Bahman Nirumand. O país está cercado por bases militares norte-americanas. Vizinhos como o Paquistão, Índia, Rússia e Israel possuem bombas atômicas. "Quem quiser encontrar uma solução, deverá, primeiro, garantir a segurança nas fronteiras iranianas", diz o especialista.
Nirumand defende um plano de paz mais amplo para a região, bem como a criação de uma zona isenta de armas nucleares. Segundo ele, não há outra saída. "É possível bombardear as usinas nucleares. Isso iria, caso o Irã de fato esteja construindo a bomba, retardar o processo em um ou dois anos, mas aí tudo começaria outra vez. O problema tem que ser solucionado na raiz", conclui.
Autor: Nils Naumann (sv) - Revisão: Augusto Valente
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