CARLOS BLANCO - O PAÍS (ao), opinião*
Em 2001 quatro aviões foram usados como mísseis contra as Torres Gémeas e o Pentágono. Outro, falhou a Casa Branca. 19 sequestradores mataram 2.977 pessoas. O mundo ficou horrorizado.
Bush não sabia que fazer. Anos mais tarde foi substituído por Barack Obama. Tudo parecia correr de feição para o novo Presidente da maior (ainda) potência mundial.
Mas, os ventos de recessão económica sopraram veloz e impediosamente por todo o lado. Não é pois de admirar que o olhar indignado dos americanos recaia, agora, sobre a família Obama, quando esta parece continuar a levar uma vida faustosa, enquanto a maior parte luta por princípios tão básicos como, manter o trabalho, a casa, e colocar comida no prato dos filhos.
Enquanto pede calma, compreensão e para “apertarem o cinto”, Obama continua a esbanjar dinheiro em festas, férias de sonho e caríssimas roupas de marca, ao mesmo tempo que faz operações de cosméstica banhando-se nos mares do Golfo do México… De acordo com a imprensa internacional, a família parece mesmo ter perdido o controlo, gastando desregradamente nestes tempos de crise e, numa altura, em que 10 por cento dos americanos procura trabalho.
Contas feitas e, a dois anos do fim do seu mandato, o comandante supremo do Estado americano terá já gasto perto de 10 milhões de dólares em festas regadas com álcool.
Isto para não falar no estilo de vida luxuoso que a primeira-dama tem levado. Ninguém ficou indiferente à sua viagem a Espanha, numa visita pessoal que terá custado perto de 400 mil dólares, segundo o “National Enquirer”. E todos reparam nos vestidos desenhados por famosos “designers” ou, por exemplo, nos ténis Lanvin de cerca de 500 dólares, que Michelle usou num evento do banco alimentar dos EUA.
Longe vão os tempos em que Michelle Obama era apontada como uma das mulheres de senador mais “simples e económicas”, usando modestos conjuntos de saia e casaco de 400 dólares. Porém, a chegada à Casa Branca apurou-lhe os gostos e o estilo. Na cerimónia de comemoração do primeiro ano como casal presidencial, a primeira-dama elegeu um casaco Moschino de 2.600 dólares.
Também as tendências de moda de Barack Obama vão das sedas italianas de Zegna e Canali, que custam 1.500 dólares, a fatos por medida, do costureiro parisiense Georges, que podem ultrapassar os 3.000 dólares.
Como se não bastasse, há as “saídas românticas” como aquela em que Obama levou Michelle a Nova Iorque, gastando mais de 19 mil dólares, ou as duas semanas no Hawai, no Natal, numa casa de praia por 3.300 dólares/dia. E a lista continua, perante a indignação e incredulidade do povo americano, que ainda recorda a festa de chegada à Casa Branca, orçada em cerca de 120 milhões de euros, a mais cara da História. E, embora os americanos achem que está na altura do Presidente apertar, também ele, o cinto, tudo continua igual.
É por demais evidente que o casal Obama não pode descurar a sua apresentação, está no papel e nas funções que desempenham. Não pode vestir da Feira de Carcavelos, ou do Mercado dos Congoleses….
Mas, meus amigos, um pouco de contenção também não lhe ficaria nada mal.
Esta estória faz-me lembrar Nelson Mandela. Mandela adora roupas. Sempre assim foi. Não dirá que as roupas fazem o homem, mas suscitam uma impressão imediata.
Segundo Mandela, quando se quer desempenhar um papel devemos envergar as roupas adequadas. Começou a aprender isto ainda muito pequeno, quando o pai cortou um par de calças de montar para lhe fazer umas calças para o primeiro dia de escola. O pai estava decidido a que o filho não parecesse um “nativo” incivilizado, tapado com uma manta. Mais tarde, quando já era crescido e estava ao cuidado do rei dos tembos, uma das suas tarefas consistia em passar a ferro os fatos do rei. Um rei tem de parecer um rei, e Mandela desempenhava meticulosamente a função.
Mandela prestava atenção à qualidade do tecido dos seus fatos, e também ao dos outros homens, e recorda-se com alguma exuberância de pormenores de um elegante jaquetão que o rei lhe mandou fazer antes de ingressar na Universidade de Fort Hare.
Mas, nem sempre teve dinheiro para se vestir como gostava. Quando foi viver para Joanesburgo, usou o mesmo fato durante cinco anos. Para o fim, já eram mais os remendos do que o tecido original.
Ao longo da sua vida, Mandela sempre aparentou – e representou um papel. Quando estudante, queria dar a ideia de que era organizado e meticuloso. Enquanto jovem e advogado, envergava fatos feitos por medida para impressionar juízes e clientes.
Hoje, Mandela usa vistosas camisas de seda decoradas com motivos africanos, que desencadearam uma moda.
É assim que um líder faz o seu trabalho. Obama, ainda tem muito para aprender com Mandela!
*Publicado em Outubro 2010
1 comentário:
Hoje, confirmada a reeleiçao de Obama, este texto está muito atual. Ele precisa aprender mais com Mandela. Devemos, entretanto, lembrar que se não vence Obama, o novo presidente seria uma péssima opçao para o mundo. Romero, Brasil
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