sábado, 17 de dezembro de 2011

Portugal e Cabo Verde vão reabilitar Cidade Velha e criar Centro de Documentação do Tarrafal



RTP

Portugal e Cabo Verde assinaram sexta-feira na Cidade da Praia dois protocolos destinados a restaurar o património histórico da Cidade Velha e preservar a memória do Campo de Concentração do Tarrafal, este através de um centro de documentação.

Para a Cidade Velha, 15 quilómetros a oeste da capital cabo-verdiana, os 200 mil euros disponibilizados pelo Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) vão permitir ao gabinete do arquiteto português Álvaro Siza Vieira retomar um projeto de reconversão da Ribeira Grande de Santiago que já devia estar concluído há três anos.

"Temos de avançar para consolidar o título concedido pela UNESCO (Património Mundial da Humanidade) e é preciso avançar para o restauro de alguns monumentos que estão a degradar-se, para a legislação e expansão da cidade", disse o ministro da Cultura cabo-verdiano, Mário Lúcio, aos jornalistas.

"Este protocolo permite que Siza Vieira venha fazer um levantamento exaustivo e detalhado de toda a Cidade Velha para então se poder traçar um plano para o futuro", acrescentou, defendendo a valorização do património cabo-verdiano.

Por seu lado, o presidente do IPAD, Manuel Correia, adiantou que o protocolo permitirá que o gabinete de Siza Vieira discuta o plano com Cabo Verde, de forma a ter-se a perceção da volumetria e de como deve ficar a parte histórica da Cidade Velha, a primeira localidade construída pelos europeus nos trópicos, em 1462, neste caso, pelos portugueses, que descobriram a ilha de Santiago dois anos antes.

Além disso, acrescentou, vai possibilitar ainda avaliar a "envolvente não histórica" da cidade para se tentar "padronizar" a pressão imobiliária que se faz sentir na Cidade Velha desde que, em 2009, passou a Património da Humanidade.

Em relação ao Campo de Concentração do Tarrafal - por onde passaram, numa primeira fase, antifascistas portugueses (1936/54) e, numa segunda, nacionalistas africanos (1961/74) -, o protocolo foi assinado entre o Arquivo Histórico de Cabo Verde e a Fundação Mário Soares (FMS).

A este respeito, Mário Lúcio indicou que o protocolo prevê a transferência de documentação comum da fundação portuguesa para, em conjugação com a existente no arquivo cabo-verdiano, se poder criar o Centro de Documentação do Tarrafal.

"Nós próprios somos um património do mundo e é nessa perspetiva que caminhamos. Os nossos patrimónios são comuns, não são só nossos. O campo de concentração e a Cidade Velha são exemplos disso, independentemente das vicissitudes históricas, porque somos fruto dessas vicissitudes", sublinhou.

Presente no ato, Alfredo Caldeira, administrador da Biblioteca e Arquivos da FMS, afirmou que o protocolo é a formalização do que já existia no trabalho conjunto entre o arquivo cabo-verdiano e a fundação portuguesa.

"Trata-se de uma cooperação técnica, de digitalização e de recuperação de documentação de interesse comum, com um foco especial para a questão do Tarrafal, ou seja, encontrar documentação e colocá-la disponível ao público", afirmou.

Alfredo Caldeira adiantou, por outro lado, que, também em conjunto com as autoridades cabo-verdianas, está a proceder-se a um levantamento documental sobre as fomes dos anos 40 do século XX em Cabo Verde, para, mais tarde, ser apresentado em forma de exposição, primeiro em Lisboa, e, depois, na Cidade da Praia.

*Foto em Lusa

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