segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

RAMOS-HORTA NÃO PODE COMETER ERRO HISTÓRICO



JOÃO SEVERINO, jornalista – PAU PARA TODA A OBRA

Resolvi escrever sobre José Ramos-Horta porque o conheço há mais de quarenta nos. Ainda tenho uma lesão no ombro por ter jogado ténis com ele na Austrália, nos anos 1990, sem ter efectuado o aquecimento preliminar. José Ramos-Horta tem defeitos como todos nós, mas tem muito mais virtudes. Desde jovem que é um lutador, profícuo autodidata e ambicioso investigador das mais deferentes matérias do conhecimento humano. Nos seus estudos liceais foi colega de minha mulher e ela tudo fez para corresponder aos pedidos do José Ramos-Horta no sentido de aprender o mais possível do currículo académico. Ao longo da sua vida compreendeu perfeitamente que o seu destino iria ficar estreitamente ligado à terra que o viu nascer. A sua missão tinha valores universais a defender. E tudo tentou na defesa da liberdade dos seus irmãos timorenses.

José Ramos-Horta correu o mundo com uma abordagem no interior da pasta. A abordagem etimológica, paradoxal e mobilizadora de que o seu povo tinha o direito à liberdade e à independência. O seu discurso foi escutado e as altas esferas da política internacional cederam à pressão verbal do jovem político que até tinha acabado por apreender os ditames da diplomacia. O Nobel da Paz veio premiar o lutador, o verbalista, o estudioso, o argumentista, o ambicioso, tudo em defesa de uma causa - a de uma defesa intransigente dos benefícios terrenos para o seu povo. O seu último discurso no dia 28 de Novembro, em comemoração da proclamação de independência de Timor-Leste foi significativo. Ramos-Horta mostrou-se amargurado por ainda - apesar de ter chegado ao cargo mais alto da hierarquia do Estado -, na sua condição de Presidente da República não ter conseguido que o seu país chegasse a um patamar de progresso e desenvolvimento direccionados aos melhoramentos sociais mínimos dos quais o seu povo carece.

José Ramos-Horta já sofreu um atentado a cargo de algozes possivelmente pagos por forças externas aos verdadeiros interesses de Timor-Leste, mas apesar da dor e do desespero, regressou ao seu cargo de Chefe de Estado e o povo timorense nunca esquecerá esse gesto. E é por esta razão que Ramos-Horta não pode cometer um erro histórico, o erro de abandonar os milhares de timorenses que continuam a confiar na sua inteligência para o contributo peculiar da estabilidade política da nação. Ramos-Horta tem de se decidir por um, só mais um, sacrifício em prol de quem ele sempre afirmou defender, o seu povo. O actual Presidente da República de Timor-Leste tem de interiorizar que o povo timorense não pode atravessar mais qualquer deserto de convulsões e de instabilidades. Sem dúvida, que Ramos-Horta não pode negar uma recandidatura ao cargo de Chefe de Estado. É imperioso para que Timor-Leste prossiga na senda do progresso pacífico que o homem defensor da paz possa continuar mais um mandato presidencial a defender essa mesma paz.

As próximas eleições presidenciais em Timor-Leste não podem servir como espelho dramático de uma instabilidade política em função da diversidade pouco segura e transparente. Os actuais candidatos ao cargo de Presidente da República decidiriam, estou certo, na sua maioria, por suspender a intenção de candidatura se lhes fosse dada a garantia de que José Ramos-Horta se recanditaria ao cargo. O actual Presidente terá de reconsiderar profundamente que a sua missão ainda não terminou e que o seu povo não lhe perdoaria o erro histórico de desistir precisamente num momento histórico da existência do seu novel país.

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