sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A ANGOLA MIMADA PELO DR. RELVAS (E PELA RTP E RDP)



Henrique Raposo – Expresso, opinião, em Blogues

A RTP, a dr.ª Fátima Campos Ferreira (eterna-ideóloga-de-quem-se-senta-no-poder), a RDP e o dr. Relvas deviam ler este livrinho. Não custa nada. Soares de Oliveira explica aqui uma coisa muito simples: Angola está, vá, assombrada pela maldição dos recursos. Tal como todos os países produtores de petróleo de África, Angola é controlada por uma petro-elite (que aparece muito no El Corte Inglês e nas lojas da Av. Liberdade). O que é uma petro-elite? São aqueles senhores e aquelas senhoras que não aplicam as receitas do petróleo na construção de um país. Nada dessas frescuras ocidentais. A petro-elite é uma entidade predatória, pois transforma a riqueza nacional numa coutada privada. Quando faz programas sobre Angola, a RTP não pode esquecer isto. E a RDP não pode dispensar uma pessoa só porque essa pessoa tem a coragem para dizer isto. Como dizia o meu avô num português perfeito: shame on you.

Mas há mais. Soares de Oliveira é particularmente sofisticado na forma como aborda o paradoxo dos "estados falhados de sucesso" (Angola é um deles). Estes Estados têm todas as características dos estados-falhados, mas, de forma surpreendente, não entram em colapso. Isto sucede porque as petro-elites conseguem fazer duas coisas: (a) capturaram a riqueza do país, como já afirmámos, e (b) alcançam legitimidade no exterior. Quem é que fica preso e esquecido entre (a) e (b)? A população do país, que não é tida nem achada. Neste contexto, o Estado acaba por ser um mero entreposto comercial que permite à elite local vender petróleo ao exterior sem prestar contas ao resto da população. Ao fazer programas que não passam de propaganda do MPLA, a RTP está a legitimar a elite angolana. E isso tem um nome: shame-on-you.

Portugal e as empresas portuguesas podem (e devem) fazer negócios com Angola. Os revolucionários de cadeirão que se indignem com esse facto da vidinha. Mas os órgãos de comunicação social e o governo de Portugal não se podem curvar perante um regime ditatorial. Portanto, vale a pena repetir: uma coisa é fazer negócios com uma ditadura; outra coisa é legitimar politicamente essa ditadura. Uma coisa é o jogo do cifrão; outra coisa é o jogo da legitimidade. Uma coisa é ir a um restaurante com um sujeito; outra coisa é abrir a nossa casa a esse sujeito.

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