<> Artur Queiroz*, Luanda ---
Nos meus tempos de rapaz, tudo o que acontecia de mau era culpa dos besugos, os portugueses branquinhos e analfabetos que falavam “axim” e desembarcavam no porto de Luanda, cheios de medo dos bichos que rilhavam os pés (matacanhas) e dos mosquitos que chupavam o sangue e provocavam sezões (paludismo). Como eram mesmo muito brancos também lhes chamávamos polacos. Coitados, não tinham culpa de nada e eram tão explorados como os negros “gentios”, porque os assimilados estavam mais acima na escala social.
O Executivo ocupa hoje o lugar
dos besugos ou polacos. O Bartolomeu Dias torrou o kumbu, a culpa é do governo.
Um advogado chama corrupto ao Chefe de Estado. Vai responder
A TPA ontem abriu o seu
noticiário principal com 33 minutos de tangas sobre a União Africana,
O crime contra o Jornalismo cometido no noticiário da TPA dá que pensar. Em primeiro lugar revela que há uma confrangedora falta de profissionalismo na direcção do canal público. Qualquer motorista da casa sabe que no audiovisual 33 minutos são uma eternidade, que ninguém aguenta. Nem o Duda nem a Kieza. A gramática da linguagem radiofónica e televisiva também não aguenta essa enormidade. O tempo na Rádio e na Televisão mede-se ao segundo. No essencial prevalece o tempo real. Intervalo.
No regresso apareceu o ministro Mário Oliveira debitando ameaças: “Vamos acabar com serviços ilegais de televisão por cabo e satélite”. Este senhor faz tanta falta no Executivo e no Jornalismo como o Adalberto da Cota Júnior no conselho de ministros. Colocar o “Doutor Jaime” a debitar propaganda logo na abertura do noticiário, durante longos minutos, é uma prova evidente de que a direcção daTPA sabe zero de Jornalismo e muito pouco de propaganda acéfala. Aquilo não interessa a ninguém.
A TPA tem 50 anos. Sempre foi servida por profissionais de altíssimo nível. Ao longo dos anos teve alto e baixos, mas nunca desceu abaixo do nível da dignidade profissional. Na “Era Tchizé” até criou as suas próprias vedetas, peças essenciais no espectáculo televisivo. Hoje continua a ter excelentes profissionais, basta um olhar atento às emissões para verificar esta realidade. Mário Oliveira estraga tudo. Os directores que nomeia sujam tudo. Está na hora de acabar com o Ministério da Comunicação Social, mesmo que o tenham atrelado às tecnologias da informação.
Então qual é o problema? Custa-me muito responder mas está na hora de esclarecer a classe jornalística. Em Angola a Liberdade de Imprensa é uma realidade indesmentível. Mas muitos jornalistas (a grande maioria) têm um nível muito baixo. Abaixo dos mínimos que permitem exigir o dever de cuidado. Entre nós há quem não saiba que não existem liberdades ilimitadas nem direitos absolutos. Uma grande parte da classe não tem condições para exercer uma profissão tão exigente e que, juntamente com o pilar da Justiça, sustenta o regime democrático.
É muito duro ter de criticar o
governo apoiado na Assembleia Nacional pelo MPLA. Mas também jamais imaginei
que uma senhora do Bureau Político do partido, a ministra das Finanças, Vera
Daves, tenha feito carreira política com orações ao Espírito Santo e muita fé
Roberta Vieira Lazzerini de Sousa Malaquias foi nomeada Delegada Provincial de Finanças de Luanda. Nerethz Faria Coelho da Cruz Tati é agora a responsável máxima da Direção-Geral do Instituto de Supervisão de Jogos, substituindo Paulo Jorge Ringote e Saydi Henda Mendes Leitão.
A protegida de Deus e do Espírito Santo tem outra protecção divina: João Lourenço. A senhora não se atrevia a baralhar e dar de novo, depois dos escândalos na Autoridade Geral Tributária, se não tivesse recebido ordens do Presidente da República e Titular do Poder Executivo. A Procuradoria-Geral da República, guarda pretoriana do chefe máximo, já anunciou que vai ter muita dificuldade em reunir provas do desvio de milhões na Autoridade Tributária. Claro!
A responsável política máxima, Vera Daves, continua a mandar. O responsável directo, José Vieira Nuno Leiria, continua no cargo. Senhor Presidente da República! Prova mais provada de impunidade não há. A culpa não é dos besugos ou polacos. É de vossa excelência.
* Jornalista
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