Martinho Júnior, Luanda
QUANDO O CONDOR PASSA
As experiências da pioneira “Operação Condor” que foi aplicada à América Latina em especial durante as quatro últimas décadas do século passado, continuam a ser motivo de inspiração no quadro das guerras de turno que em escalada vão ocorrendo no mundo e sobretudo na vasta região do Médio Oriente rica em petróleo e gás, geo estrategicamente vital para as potências.
O golpe de estado nas Honduras, contra o Presidente Manuel Zelaya foi uma das últimas consumações sangrentas, por tudo o que os “esquadrões da morte” protagonizaram sobretudo contra os membros da Frente Nacional de Resistência Popular.
Em 2011 foram 59 os assassinatos políticos, de acordo com o “site” da Frente!
Um dos aspectos da original “Operação Condor” foi a sua faceta selectiva, que atingiu uma parte importante não só dos sectores políticos que integravam as guerrilhas de esquerda, pelo menos uma parte muito activa da esquerda de então, mas também intelectuais não convertíveis ao “diktat” da hegemonia protagonizada pelos Estados Unidos, por via da multiplicidade de ditaduras que foram disseminadas a sul.
A “Operação Condor” teve seu autor intelectual e seus actores materiais: nunca as ditaduras latino americanas teriam ido tão longe nas práticas de repressão, sem o suporte dos Estados Unidos, sem a “inteligência” dos falcões de Israel e são agora os Estados Unidos que, conjuntamente com esses mesmos falcões, vão dando continuidade à “experiência”, seja por via da actuação humana directa, seja por via do emprego dos “drones” não necessariamente contra “terroristas”!
Em 2003, num artigo publicado no “Resistir Info”, Toni Solo, um activista radicado na América Central, dava conta das “Sequelas da Operação Condor”.
Na América Central, durante a década de 90 até aos nossos dias, evidências da presença dos serviços às ordens dos falcões de Israel foram sendo acumuladas em praticamente todos os países da região, pelo que um chão fértil para os “esquadrões da morte” ligados ao Mossad tiveram aí sua conexão e campo de manobra, na base do que vai hoje ocorrendo no Médio Oriente, tirando partido das “revoluções coloridas”.
O aproveitamento no Iraque, particularmente durante a fase da ocupação mais maciça, dos ensinamentos da “Operação Condor”, serviu como uma luva aos conceitos e práticas da “guerra assimétrica” e a intelectualidade científica do país tem pago uma pesada factura: mais de 300 professores, cientistas e intelectuais iraquianos têm sido mortos barbaramente desde então, conforme por exemplo o que se pode apurar no site Brussels Tribunal.
Em relação à Líbia e a outros países tocados pelas “revoluções coloridas”, não há grandes referências, mas essa “cultura” não deixou de ser aplicada.
A situação corrente na Liba é um ambiente muito favorável a que isso aconteça.
De escalada em escalada chegou a vez do Irão: no quadro de todo o tipo de pressões em função das iniciativas nucleares iranianas, quatro cientistas nucleares foram assassinados numa campanha que está em curso e está a ser atribuída ao Mossad e suas ligações; a campanha é um dos indicadores que conduzem à conclusão de que uma operação de ataque ao Irão está eminente - “Los socios del Mossaden Iran”.
Os assassinatos no Irão acontecem quando um clima de desestabilização está activado, acelerando o protagonismo de organizações e activistas ligados aos sistemas de inteligência ocidentais, particularmente os de inspiração anglo-saxónica.
Enquanto as campanhas prosseguem, Israel e os membros da NATO, continuam com muitas dificuldades de digerir a coragem de Mordechai Vanunu, o técnico israelita que denunciou o programa nuclear de Israel, um secreto tabu para os estados que compõem a NATO e para os “media de referência”.
Vanunu continua a ser alvo de perseguições, mas nenhum dos estados membros da NATO, tão lestos na manifestação de suas preocupações em relação aos Direitos Humanos onde quer que seja de seu interesse e conveniência, lhe dá projecção.
Segundo o Wikipedia Mordechai Vanunu permaneceu preso por 18 anos, sendo mais de 11 deles em prisão solitária.
Vanunu foi solto em 2004, porém ainda sujeito a uma série de restrições de comunicação e movimento.
Desde então Vanunu já foi preso por diversas vezes, acusado de não respeitar tais restrições.
Em março de 2005, foi citado por 21 acusações de contravenção à ordem legal, num máximo de 2 anos de prisão por acusação, e desde então espera pelo julgamento em liberdade.
Os procedimentos legais estão em andamento, assim como o recurso de Vanunu, que espera ser julgado pela Suprema Corte Israelense.
Alguns grupos de direitos humanos consideram Vanunu um prisioneiro de opinião.
Num comunicado à imprensa de 19 de abril de 2005, a Anistia Internacional condenou as atuais restrições impostas a Vanunu.
Entretanto, o governo israelense ainda o considera um traidor.
Alguns israelenses não concordam.
Issam Makhoul, líder do Partido Comunista de Israel e ex-membro do Knesset, considera Vanunu não um traidor, mas um herói de Israel.
Vanunu é um crítico áspero da política israelense, e rejeita a necessidade de um estado judeu”…
“Quando o Condor passa” há sempre uma regra: dois pesos, duas medidas, ou a maneira “inteligente” para garantir todo o tipo de manipulações, ingerências, desequilíbrios e injustiças para que 1% da humanidade garanta seu poder e os mecanismos que o servem!
… coisas que a globalização tece…
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