Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Diz o órgão oficial do regime angolano, o Jornal de Angola, que “a autoridade tradicional máxima do Bailundo, Ekuikui IV, morreu ontem, aos 94 anos, na cidade do Huambo, vítima de doença”.
Acrescenta o jornal que “o anúncio foi feito em comunicado pelo bureau político do MPLA, partido do qual era militante e que representou, como deputado, na Assembleia Nacional”.
Vamos lá puxar um pouquinho pela memória. No dia 30 de Abril de 2008, uma viatura de marca Land Rover, foi entregue (foto) ao rei Ekuikui IV “Katehiotololo” do Bailundo, na sede comunal do Alto Hama, município do Lunduimbali, província do Huambo.
O carro foi entregue (e não sou eu que o digo mas a própria AngolaPress) pelo coordenador adjunto para a campanha eleitoral do MPLA, João Lourenço, “à margem de um acto político de massas, na sequência do realizado no dia anterior na cidade do Huambo, ao qual o soberano fez questão de assistir”.
“O rei Ekuikui IV do Bailundo, acompanhado por uma das suas esposas, agradeceu o gesto de José Eduardo dos Santos, ao mesmo tempo expressou a sua satisfação pela reabilitação das estradas e progressiva melhoria das condições de vida das populações do Bailundo”, salientou então a agência oficial do regime, ou seja, do MPLA e do seu presidente, José Eduardo dos Santos.
O soberano anunciou então, em declarações à imprensa, que em Setembro desse ano, por ocasião das eleições legislativas, diria algo importante aos angolanos.
Nessa altura, no artigo “Um Land Rover para um rei a cinco meses das... eleições”, escrevi aqui que desconhecia se o rei iria ao volante do seu Land Rover fazer as anunciadas importantes declarações, acrescentando, contudo, que de uma coisa se podia já ter a certeza: o rei não iria cuspir no prato de quem lhe ofereceu a viatura.
Em cheio. O rei, também conhecido pelo soba dos sobas, manifestou o seu apoio ao MPLA.
De acordo com o comunicado do bureau político do MPLA, “o partido que serviu durante vários anos reconhece nele um exemplo de resistência tenaz contra o colonialismo português, de amor à pátria, de trabalho e de muita devoção à causa da paz, da unidade e reconciliação nacional, da liberdade e desenvolvimento do país”.
Com tantas qualidades só poderia ser do MPLA. Aliás, Ekuikui IV só passou de besta a bestial quando, para além do Land Rover, aceitou filiar-se no partido que governa Angola desde 1975.
Ainda em termos de memória, com a morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi, em 2002, e o fim da guerra, Ekuikui IV passou a ser o dono do trono.
E foi depois de 2002 que o até então poderoso, respeitado e honorável reino do Bailundo entrou na sua fase mais descendente com uma inaudita vassalagem ao rei do MPLA, José Eduardo dos Santos.
Vassalagem que, de acordo com a estratégia o MPLA e com a colaboração activa de Ekuikui IV, levou em 2008 à eliminação física do rei Utondossi II.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: SINDICATO CONTESTA ENCERRAMENTO DA “FOCUS”
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