Martinho Júnior, Luanda
Depois do desmantelamento da Jugoslávia, do Koweit, do Iraque, do Afeganistão, do Sudão e da Líbia, com todos os outros incêndios acumulados (as “revoltas populares controladas” das presumíveis “revoluções coloridas”), segue-se no escalonamento da “cruzada ocidental”, a corrente de acções “tácticas” contra a Síria e o Irão, com o cerco geo estratégico à Rússia e à China como pano de fundo.
Vários cenários estão em curso e quase todos eles propõem o cerco à Síria, ao Líbano e ao Irão como a opção antes dos demais.
O cerco é económico, financeiro, militar e de inteligência, provocando acções pontuais que adensam as ingerências e as manipulações da hegemonia unilateral.
Na Síria, desde a ementa de mais uma “revolução colorida”, até à ementa “humanitária” da Líbia, talvez com outros protagonistas filiados na NATO, tudo engrossa o que está em curso com maior ou menor discrição.
Há um ponto de vista muito crítico de muitos analistas e observadores não tocados pelos vírus do capitalismo neo liberal, que aguçam a observação e o estudo sobre o engenho militar e de inteligência do meteoro constituído pelo núcleo duro que são os Estados Unidos e de sua cauda de aliados, sempre com referência ao petróleo, ao gás, à água e à panóplia de sistemas de transporte das riquezas, nos oceanos, nos mares (incluindo mares interiores como o Cáspio), como nos imensos espaços continentais.
A Síria e o Irão só não foram ainda neutralizados por que a vontade dos emergentes contra essa hegemonia unipolar o impede, agora de forma mais resoluta do que antes conforme as ocorrências históricas da Jugoslávia, do Kuwait, do Iraque, do Sudão, do Afeganistão e do Bahrein.
A doutrina de choque (vide Naomi Klein – ), está em pleno vigor e por isso, mesmo que o Pentágono perca guerras, o que interessa é a aristocracia financeira mundial, os grandes bancos de família, os cartéis e os monopólios filiados terem ainda mais lucros, por vezes especulativos lucros, ensanguentando a humanidade e perigando a vida no planeta, asfixiando esta casa comum que tão imprudentemente tem sido por eles gerida.
À aspiração colectiva de vida, 1% da humanidade expõe a morte numa fasquia nunca antes atingida e impõe-na contra a vontade dos povos!
Escreveu recentemente e a propósito James Petras em “O imperialismo e o anti imperialismo dos tolos” (http://resistir.info/; http://petras.lahaine.org/?p=1886):
“Liberais ocidentais, progressistas e gente de esquerda que se apaixonou pelo anti-imperialismo promovido pelos imperialistas são também grandes perdedores.
Seu apoio ao ataque da NATO à Jugoslávia levou ao despedaçar de um estado multinacional e à criação de enormes bases militares da NATO e a um paraíso para traficantes de escravas no Kosovo.
Seu apoio cego à promovida libertação imperial da Europa Oriental devastou o estado previdência, eliminando a pressão sobre os regimes ocidentais da necessidade de competir em disposições de bem-estar.
Os principais beneficiários dos avanços imperiais do ocidente via levantamentos de base foram as corporações multinacionais, Pentágono e os neoliberais do livre mercado de extrema direita.
Quando todo o espectro político se move para a direita um sector da esquerda e progressistas finalmente salta para o comboio.
Os moralistas de esquerda perderam credibilidade e apoio, seus movimentos de paz minguaram, suas críticas morais perderam ressonância.
A esquerda e progressistas que foram a reboque dos movimentos de base apoiados pelo império, quer em nome do anti-stalinismo, pró democracia ou anti-imperialismo nunca se empenharam em qualquer reflexão crítica; nenhum esforço para analisar as consequências negativas a longo prazo das suas posições em termos de perdas de bem-estar social, independência nacional ou dignidade pessoal.
A longa história da manipulação imperialista de narrativas anti-imperialistas encontrou expressão virulenta nos dias de hoje.
A Nova Guerra Fria lançada por Obama contra a China e a Rússia, a guerra quente que fermenta no Golfo sobre a alegada ameaça militar do Irão, a ameaça intervencionista contra redes de droga da Venezuela e o banho de sangue da Síria são parte integral da utilização e abuso do anti-imperialismo para promover um império em declínio.
Esperançosamente, os escritores de esquerda aprenderão com as ciladas ideológicas do passado e resistirão à tentação de terem acesso aos mass media proporcionando uma cobertura progressista a dúbios rebeldes imperiais.
Já é tempo de distinguir entre movimentos anti-imperialistas e pró democracia genuínos e aqueles promovidos por Washington, NATO e os mass media”.
Essa intervenção crítica de James Petras inclui os meus pontos de vista de há muitos anos a esta parte, quando por exemplo tive a oportunidade de detalhar o comportamento elitista a partir do império britânico e sob a égide de Cecil John Rhodes no continente africano no então semanário Actual, naqueles anos idos de 2002, 2003 e 2004.
Isso impunha-se a mim acima de tudo o mais como velho combatente comprometido com a construção de maior felicidade para África: o movimento de libertação nada tinha a ver com esse elitismo, mesmo que ele fosse tisnado de todas as cores do arco íris, como nada tem a ver com as “revoluções coloridas” deste sangrento percurso de capitalismo neo liberal e de império.
Assim analisar a evolução na Síria, como no Irão, como outra qualquer situação que ocorra onde quer que seja no mundo, não pode deixar de ter essas referências que confirmam convicções, princípios e um ponto de vista ético a que eu chamo sentido de vida, em proveito de toda a humanidade e do planeta.
Todas as situações críticas têm o seu próprio roteiro de fermentação, ingerência e manipulação sob os auspícios do Pentágono, do sistema de inteligência norte americano, dos falcões de Israel e do cortejo de alianças que vão desde a NATO às monarquias árabes.
Em “The March to War”, o analista Mahdi Darius Nazemroaya sintetiza o roteiro imposto à Síria e Líbano: (http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=28018).
Por seu turno e em relação ao Irão, numa série bastante alargada de artigos dos quais vou destacar “When war games go live”, Michel chossudovsky sintetiza de forma fundamentada: (http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=28542).
Enquanto militante do movimento de libertação em África, quando todos os povos do mundo estão sujeitos a uma tipologia de riscos que põe em cheque a vida e o planeta, não posso deixar-me de associar a uma das últimas reflexões de Fidel (A paz mundial pende por um fio – http://pt.cubadebate.cu/reflexoes-fidel/2012/01/14/paz-mundial-pende-de-um-fio/ ):
“Por meu lado acho que a situação política criada em torno ao Irã e aos riscos duma guerra nuclear que dela emanam e a todos envolve –possuam ou não tais armas– são bem delicados porque ameaçam a própria existência de nossa espécie.
O Oriente Médio tem-se tornado na região mais conflituosa do mundo, e a área onde se geram os recursos energéticos vitais para a economia do planeta.
O poder destruidor e os sofrimentos maciços que originavam alguns dos meios utilizados na Segunda Guerra Mundial motivaram uma forte tendência a proibir algumas armas como os gases asfixiantes e outras empregues naquela guerra.
No entanto, as pugnas de interesses e os enormes lucros dos produtores de armas os levou ao fabrico de armamentos mais cruéis e destruidores, até que a tecnologia moderna contribuiu com o material e os meios cujo emprego numa guerra mundial conduzia ao extermínio.
Sustento o critério, sem dúvidas compartilhado por todas as pessoas com um sentido elementar de responsabilidade, de que nenhum país grande ou pequeno tem o direito de possuir armas nucleares.
Nunca elas deveram ser usadas para atacar duas cidades indefesas como Hiroshima e Nagasaki, assassinando e irradiando com efeitos horríveis e duradouros a centenas de milhares de homens, mulheres e crianças, em um país que já estava militarmente vencido”…
*Ler partes anteriores deste título em MARTINHO JÚNIOR
Sem comentários:
Enviar um comentário