Manuel António Pina – Jornal de Notícias, opinião
Não sou quem o diz, é a Comissão Europeia: "Entre os seis países da UE mais afectados pela crise, Portugal é o único onde as medidas de austeridade exigiram um esforço financeiro aos pobres superior ao que foi pedido aos ricos, revela um estudo recente publicado pela Comissão Europeia".
A notícia vem no "Jornal de Negócios" e suscita uma questão: sendo o empobrecimento do país a estratégia de saída da crise publicamente assumida pelo actual Governo, não se justificaria que a austeridade incidisse fortemente sobre os ricos até fazer deles pobres? Democratizando a pobreza ao mesmo tempo que democratiza a economia, o Governo realizaria o suave e patriótico milagre da multiplicação dos pobres mais eficazmente do que limitando-se a empobrecer ainda mais os pobres que já são pobres.
Imagino até um "slogan" para convencer os ricos, que costumam ser renitentes quando se trata de deixarem de ser tão ricos: "Faça algo pelo seu país: não vá empobrecer para a Holanda".
Nota: Na passagem sobre as mulheres que abortam da homilia do arcebispo de Granada citada na crónica de ontem há um erro de tradução (de minha responsabilidade) que altera o seu sentido. Traduzi "traga", do verbo "tragar", como sendo uma forma do verbo "traer" (trazer) quando, de facto, é do verbo "tragar" (tragar; suportar). Assim, a parte final dessa passagem é "ela é que suporta a tragédia, e suporta-a como se fosse um direito" e não como publicado.
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