Luís Reis Pires - Económico
Mesmo que tivesse feito tudo o que acordou com a ‘troika’, Grécia falharia metas do défice.
Evangelia Papaioannou, editora da revista financeira 'Epilogi', diz que a Grécia se sente ofendida pela Europa, que não reconhece o esforço que o país tem feito para sair da crise. Frisa que as metas exigidas pela "toika" não são exequíveis, mas garante que o país não quer sair da moeda única.
A Europa diz que a Grécia não cumpriu o que acordou. Muitos analistas dizem que o problema não é esse, mas sim a austeridade cega que arrasou o crescimento. Qual é a verdadeira situação da Grécia? O que falhou?
Fomos lentos nas medidas estruturais. Mas, de qualquer forma, as metas nunca seriam atingidas. Quando se quer reestruturar uma economia, há um período de transição. Redireccionar empregos e investimento de um determinado sector para outro, por exemplo, é algo que leva tempo. E durante este período de transição perde-se o crescimento. A consolidação orçamental tem de se fazer, mas não pode ser a única coisa, porque a consolidação dá resultados até a economia entrar em recessão. Depois disso, como se consegue reduzir um défice face a um PIB que está a encolher? As receitas caem, o desemprego sobe... É muito complicado. O problema é que se exige uma consolidação muito rápida, sem apoio à economia. Não fizemos tudo, ok, é verdade. Mas mesmo que tivéssemos feito, não chegaríamos lá.
Este novo plano é de novo só austeridade. A Grécia aguenta?
Os bancos estão fora do mercado, ninguém pode financiar investimentos... Vai ser muito difícil. Temos de despedir trabalhadores públicos, é verdade, já devia até ter sido feito antes. Não é justo ter um sector público super protegido face ao privado. Mas ter de cortar o défice para 5% do PIB este ano não é exequível. Ainda para mais com a recessão. Acho que a ‘troika' está a fazer tudo segundo as regras do livro. E a realidade não funciona assim.
O povo grego quer sair do euro?
Não, a Grécia quer estar no euro. Mas tem feito um grande esforço para conseguir cumprir o programa e os gregos sentem-se ofendidos porque só chovem críticas. Sentem-se humilhados, toda a gente critica, diz que somos preguiçosos, que não fizemos nada. As pessoas sentem-se muito ofendidas porque o esforço que têm feito não tem sido reconhecido. Ninguém quer falhar, nós não queremos falhar. E temos feito o esforço, ainda que sem os resultados desejados. Esse esforço é que não tem sido reconhecido. Mas não queremos sair do euro.
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