RTP – Lusa, com foto
O escritor equato-guineense Juan Tomás Ávila defendeu, em entrevista à Lusa, que para o povo da Guiné-Equatorial é "absolutamente indiferente" a entrada do país para a comunidade lusófona, sustentando que ali jamais se falará português.
"Não conhecendo os equato-guineenses o que é a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), é-lhes absolutamente indiferente. No que respeita ao quotidiano dos seus cidadãos, a Guiné-Equatorial nunca será da CPLP. No papel, por causa dos negócios, claro que se pode dizer que é, mas isso não incidirá nunca na vida dos equato-guineenses", disse Juan Tomás Ávila.
O escritor e ativista da Guiné-Equatorial está de visita a Portugal para participar numa série de conferências sobre a situação política do seu país - a começar já hoje numa iniciativa do Centro Intercultura Cidade de Lisboa -, onde Teodoro Obiang governa há mais de 30 anos, e onde são frequentes as denúncias de falta de liberdade e violação dos direitos humanos. "Dir-se-á que a Guiné-Equatorial é membro de qualquer coisa, mas será como dizer que houve um terramoto em Osaka. Para os guineenses é exatamente igual", sublinhou.
A Guiné Equatorial, país com pouco mais de 600 mil habitantes, rico em petróleo e gás natural, aprovou em outubro do ano passado o português como terceira língua oficial, além do espanhol e do francês, como parte do seu processo de aproximação à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O país ambiciona trocar, em julho próximo, o atual estatuto de país observador da CPLP pelo de membro de pleno de direito.
O escritor adiantou que não é por aprovar o português como língua oficial que o país terá mais afinidades com o espaço lusófono.
"A Guiné-Equatorial faz parte da francofonia e as pessoas sabem que na Guiné-Equatorial não se fala nem se falará francês nunca", exemplificou.
Juan Tomás Ávila, que desde fevereiro do ano passado vive exilado em Barcelona, não vislumbra na adesão da Guiné-Equatorial ao espaço lusófono qualquer benefício, considerando que isso contribuirá apenas para legitimar o regime de Obiang.
"O ditador, que em alguns períodos esteve isolado, tem interesse em não estar só, em mostrar o dinheiro que tem e em dar a entender que é uma pessoa muito bem relacionada. Ter amigos em muitos sítios, reforçará o seu poder", disse.
Questionado sobre o interesse da CPLP em ter a Guiné-Equatorial como membro efetivo, Juan Tomás Ávila criticou a forma como os europeus olham para África.
"Se a honestidade fosse uma virtude em política seria impensável que um ditador fosse membro de uma organização a que por direito natural não pertence. O presidente ou o primeiro-ministro de Portugal teria grandes reticências em receber um ministro ladrão e corrupto de Espanha, por exemplo. Porque é que em relação a África isso se dilui?", questionou.
"O que se está a dizer é que um africano pode ser ladrão e corrupto. Se se considera que por ser africano se pode ser ladrão e líder, está-se a julgar muito mal os africanos. Não se está a usar a mesma medida", lamentou.
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