quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Macau: FÁBRICA DE SENHORES DOUTORES



Vanessa Amaro – Hoje Macau, com imagem

Macau está em risco de, daqui a meia dúzia de anos, ser uma terra onde todo santo residente é doutor. O director do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), Sou Chio Fai, revelou ontem, durante um Fórum sobre gestão universitária, que 90% dos estudantes que saem do secundário entram para o ensino superior – mais da metade deles, ou 55%, continua a estudar no território, enquanto o restante ruma ao estrangeiro.

Nem nos mais países mais desenvolvidos do mundo, como Finlândia ou Canadá, o rácio estudantes universitários e população é tão elevado. Em Portugal, por exemplo, apenas 21% dos jovens na faixa dos 25 aos 34 anos tem um grau académico – um número abaixo da média da União Europeia, que é de 34%.

As 10 instituições de ensino superior de Macau – quatro deles públicas e seis privadas – recebem em média mais 20% de estudantes do que no ano anterior. A Universidade Cidade de Macau, mais conhecida como Universidade Aberta, é a recordista no número de inscrições. Dos mais de 32 mil alunos que no ano lectivo 2009/2010 entraram para o ensino superior, mais de 9700 foram lá parar. A Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST, na sigla inglesa) há muito ultrapassou a principal instituição de ensino superior da RAEM. Enquanto que a privada recebeu 9364 alunos, a Universidade de Macau, condicionada por limitações de espaço, ficou-se pelos 6700. Os cursos de Gestão e Turismos seduzem mais de 65% dos novos alunos.

Com números tão pujantes, é incontornável não questionar a qualidade dos milhares de graduados anos após ano. Ouve-se falar em estudantes que tiram um curso cuja língua veicular é o inglês e que acabam a licenciatura sem conseguir juntar duas frases num diálogo. Ou em graduados da área de Ciências e Engenharias que não sabem somar dois com dois. E ouvem-se ainda incontáveis casos de professores que são obrigados a passar alunos sem o mínimo dos mínimos das qualificações só para que a instituição de ensino fique bem no jogo dos números.

O número de doutorandos neste ano lectivo aumentou 40 vezes em relação aos dados registados em 2000/2001. Mas Macau não é de certeza um tema que mereça a atenção destes talentos. A maior parte das áreas de pesquisa no campo de Humanidades está centrada na China e nas relações internacionais, onde a RAEM não ganha nenhum destaque. Quando precisamos de saber de forma científica o que se passa em Macau, liga-se para a região vizinha e encomenda-se de lá um estudo fresquinho.

Depois ouve-se casos de alunos locais que querem a toda força fazer investigações sobre a cidade onde vivem, mas são dissuadidos pelos orientadores, muito deles vindos do Interior da China, a mudarem de tema para não ferir susceptibilidades por cá. Também se fala de recusas por parte de professores chineses em trabalhar com residentes de origem estrangeira devido a possíveis choques culturais.

Leia mais sobre Macau – procure na barra lateral o banner de Macau ou os símbolos para se ligar aos países lusófonos pretendidos

Sem comentários:

Mais lidas da semana