Nos últimos meses a cidade de Maputo tem sido assolada por uma vaga de sequestros, sendo que as principais vítimas são empresários moçambicanos de origem asiática residentes na capital do país. A falta de esclarecimentos por parte da Polícia da República de Moçambique (PRM) levou o Governo a debruçar-se sobre estes crimes na 4ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros realizada esta terça-feira em Maputo. “Há pessoas detidas em conexão com os sequestros, estamos em fase de investigação, os supostos praticantes depois de confirmado o seu envolvimento, serão levadas à barra do tribunal para responder pelos seus actos” afirmou o porta-voz do governo Alberto Nkutumula, à saída da reunião governamental.
“As informações a que o governo teve acesso foram de índole operativa, elas podem comprometer o curso norma das investigações se forem divulgadas neste momento”, começou por esclarecer Nkutumula, que também é vice-ministro da Justiça, acrescentando que “as investigações estão a correr positivamente. Já se sabe qual é o modus operandi dos supostos raptores e de outras pessoas envolvidas nos raptos”.
Segundo o porta voz do governo a PRM já descobriu o modus operandi dos criminosos começam por identificar as vítimas, aceder aos seus saldos bancários, conhecer as sua rotinas diárias das vítimas e posteriormente realizam os sequestros, nalgumas vezes com recurso a violência.
Para o vice-ministro da Justiça estamos perante um crime organizado que nos dias de hoje é de carácter transnacional. Nkutumula disse que a PRM está preparada para fazer face a vaga de raptos que tiram sono aos moçambicanos e não só, sobretudo aos munícipes desta urbe.
Questionado se os raptos registados na cidade de Maputo podem ou não comprometer a imagem do país, Nkutumula disse, “qualquer crime pode comprometer a imagem do país, facto que pode sobremaneira retrair a entrada de estrangeiros no nosso país”.
PRM lamenta falta de colaboração das vítimas
Entretanto, recentemente, o Comandante Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Jorge Kalau, deixou transparecer publicamente o seu desapontamento com a falta de colaboração dos familiares das alegadas vítimas de raptos, que nos casos anteriores terão mesmo pago os resgates exigidos pelos criminosos, o que resvala numa cumplicidade para com actos absolutamente condenáveis. Kalau pediu que se deixe a polícia fazer o seu trabalho que os casos serão esclarecidos.
Ainda nas suas declarações, o Comandante Geral da PRM referiu que alguns dos sequestros, cujas vítimas não os participam às autoridades policiais, podem não ser verdadeiros e que alguns dos empresários alegadamente raptados podem estar a usar este subterfúgio para traficar valores monetários para fora de Moçambique. Jorge Kalau interroga-se das razões que levam empresários a guardarem nas suas casas elevadas quantias em dinheiro em vez de usarem as instituições bancárias que existem para o efeito.
Procurador-Geral da República atenta a onda de sequestros
O Procurador-geral da República, Augusto Paulino, efectuou, recentemente, uma visita pontual de trabalho à Polícia de Investigação Criminal (PIC) da cidade de Maputo, com o objectivo de “perceber os contornos à volta dos sequestros e avaliar o que está a ser feito do ponto de vista processual para lidar com o fenómeno”. Augusto Paulino quis, com a sua visita, inteirar-se do trabalho em curso na Polícia de Investigação Criminal, “visando esclarecer os contornos à volta dos raptos e sequestros” de empresários moçambicanos de origem asiática e seus familiares directos.
A PGR acrescenta que, no final da visita, “o Procurador-geral da República deixou recomendações específicas, para além de ter tomado medidas de procedimento interno para reverter a situação e melhorar a capacidade de resposta da Polícia de Investigação Criminal face aos raptos e sequestros”.
Na verdade, a visita de Augusto Paulino surge na sequência de críticas de vários sectores da sociedade civil que apontavam para a inoperância das autoridades na investigação da onda de sequestros que abala a comunidade moçambicana de origem asiática no nosso país. Aliás, numa recente carta enviada às redacções, a comunidade moçambicana de origem asiática manifestava a sua preocupação com a inércia das autoridades policiais.
“A comunidade asiática tem vindo, nos últimos tempos, a sofrer raptos por quadrilhas supostamente organizadas e, de certa forma, protegidas, onde se pode suspeitar a protecção policial de alto nível, bem como de pessoas poderosas, pois não se percebe o enorme silêncio em volta destes acontecimentos”, refere a comunidade.
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