segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Moçambique: ASSASSINOS DE CARLOS CARDOSO SUSPEITOS DE SEQUESTROS EM MAPUTO



Polícia deita a mão aos primeiros suspeitos de envolvimento nos sequestros na Cidade de Maputo Nini e Ramaya sob controlo dos investigadores

Emídio Beúla - Savana, com foto

Está definitivamente confirmado que a transferência de Nini Abdul Satar e Vicente Ramaya, ambos condenados a penas de prisão maior pelo seu envolvimento no assassinato do jornalista Carlos Cardoso, esteja relacionada com a recente onda de raptos registados na cidade de Maputo. Os dois indiciados foram transferidos na tarde desta segunda-feira da BO da Machava (Brigada Operacional) para as celas do mesmo estabelecimento prisional anexas ao Comando da PRM da Cidade de Maputo.

Não se sabe até que ponto os dois condenados estariam envolvidos com a onda de raptos que até aqui vinha sendo considerada misteriosa. A Polícia confirma apenas a sua transferência da Cadeia de Máxima Segurança da Machava, mais conhecida por BO, para o Comando da Polícia da Cidade de Maputo, escusando-se de fornecer quaisquer outros pormenores.

Contudo, o SAVANA apurou, de fontes bem informadas, que a transferência está directamente relacionada com os raptos, e que Nini e Ramaya seriam os prováveis mandantes destes actos.

Ainda relacionado com o caso dos raptos, a Polícia mantém sob custódia um outro indivíduo conhecido apenas por Mahomed, acusado de ter raptado, no dia 28 de Janeiro, uma cidadã paquistanesa que se dá simplesmente pelo nome de Soraya.

SISE

Depois de três semanas de investigações, a Polícia terá solicitado a intervenção dos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE), que identificaram Nini Satar e Vicente Ramaya como os principais suspeitos de serem os autores morais dos sequestros.

Supõe-se que mesmo em regime de privação de liberdade, Nini Satar e Vicente Ramaya estariam a comunicar com o mundo exterior, coordenando as acções de rapto e outras actividades que a Polícia terá agora de esclarecer.

Há suspeitas de que os raptos estejam relacionados com actividades de agiotagem, e que as vítimas destes actos sejam indivíduos que tenham beneficiado de empréstimos concedidos por Nini Satar e Vicente Ramaya, mas que depois não conseguiram até aqui pagar.

A medida da sua transferência visa mantê-los sob controlo dos investigadores, e sem acesso à comunicação com o exterior através de telemóveis. Na verdade, os investigadores acreditam que os indiciados colaboravam com os autores materiais (ainda por identificar) para a consumação dos crimes através de telemóveis, pequenos aparelhos de comunicação que configuram novas sociabilidades entre os detidos e o mundo exterior.

Nini sempre comunicou com o exterior

A partir das celas da BO da Machava, Nini Satar mantém uma ligação quase regular com o mundo exterior através das novas tecnologias de informação e comunicação. Em 2009 criou um blogue cujo endereço é “www.ninisatar.blogspot.com/”. A última actualização data de 31 de Agosto de 2009, intitulada “Oito anos de injustiça. Casos: Cardoso e Siba-Siba”. A partir do seu blog é possível aceder às páginas do Ministério da Justiça e da Ordem dos Advogados de Moçambique. Tem ainda uma conta activa no Facebook, a maior rede social do mundo, com mais de 1500 amigos.

No exterior das celas, Nini Satar é dado como tendo fortes ligações com a Remix Property, uma empresa em forte crescimento criada em finais de 2010. A mesma tem interesses nas áreas de mediação imobiliária, assessoria e consultoria jurídica, projectos de arquitectura e construção civil. O negócio inclui ainda o aluguer de viaturas (rent-a-car) e a venda de electrodomésticos, conforme atesta um letreiro que anuncia para breve a abertura da primeira loja na Cidade de Maputo.

No ano passado, a Remix atraiu os holofotes de alguma imprensa local quando no segundo semestre de 2011 rematou a hasta pública de um imóvel da “Modas Niza”, grupo comercial que viu seus bens penhorados e colocados à venda em hasta pública pela primeira secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, para o pagamento de uma dívida à mCel (operadora pública de telefonia móvel) no valor de 270 milhões de meticais.

O imóvel situado no largo João Albasini, no bairro do Alto Maé, Cidade de Maputo, custou à Remix aproximadamente 300 mil dólares. A empresa investiu em obras de reabilitação e, ao que tudo indica, o imóvel deverá voltar a servir como loja de venda de electrodomésticos. Tal como sucedia quando o mesmo era propriedade do grupo “Modas Niza”.

Polícia confirma transferência

Na manhã desta quarta-feira, Orlando Modumane, um dos porta-vozes do Comando da PRM da Cidade de Maputo, confirmou ao SAVANA a transferência de Nini Satar e Vicente Ramaya da BO da Machava para as celas do mesmo estabelecimento prisional anexas ao Comando da Cidade. “Nós (Polícia) não sabemos por que razões eles foram transferidos para as celas do Comando da Cidade. Isso cabe ao Serviço Nacional das Prisões explicar. Eles é que decidiram fazer a transferência”, respondeu ao SAVANA quando questionado sobre os motivos da transferência.

Apesar de ignorar as razões da mesma, Modumane não estranha a transferência: “As celas do Comando da Cidade estão anexas à Brigada Operacional onde eles estavam encarcerados. Portanto, achamos que é normal que eles tenham sido transferidos para este lugar. Como deve saber, este não é o primeiro caso de transferência de prisioneiros da BO para aqui”.

Não se sabe se Nini e Ramaya encontram-se isolados dos outros reclusos que estão nas celas anexas da BO anexas ao Comando da Cidade. Mas Modumane garantiu que as celas não “albergam ninguém separadamente”. “Isso só acontece quando há espaço livre, mas neste momento as celas estão cheias”.

Na terça-feira, o porta-voz do Comando-Geral da PRM prometeu que a Polícia irá esclarecer "dentro de dias" os mediáticos casos de sequestros de empresários em Maputo, regra geral seguidos de resgates milionários.

No habitual balanço semanal à imprensa, Pedro Cossa anunciou a detenção de um jovem indiciado de rapto de uma mulher em Janeiro último. “Já estamos a trabalhar com vista a esclarecer o mais rapidamente possível esses raptos. Acreditamos que dentro em breve os bandidos serão conhecidos e conduzidos à cadeia”, assegurou.

Sem explicações aprofundadas para o fenómeno, o porta-voz afirmou que a actuação dos criminosos envolvidos nos raptos assemelha-se a casos de ajuste de contas o que, a seus olhos, dá a entender que este tipo de crime não é característico dos moçambicanos. “Existe gente de outras nacionalidades envolvida”, disse Cossa.

Advogados e familiares lamentam falta de informação

Familiares dos reclusos dizem que tomaram conhecimento da transferência através de fontes informais. Lamentam ainda que não lhes é permitido qualquer tipo de contacto com os condenados, incluindo a entrega de refeições.

O advogado Abdul Gani também apareceu numa estação televisiva a queixar-se de ter sido impedido de contactar os seus constituintes. Gani falou de um “bloqueio total” e disse que não sabia de que eram acusados os seus constituintes.

Mais um rapto

Entretanto, enquanto Nini Satar e Vicente Ramaya estão verdadeiramente monitorados no Comando da Cidade, mais um rapto aconteceu no início da noite desta quarta-feira numa das artérias da cidade de Maputo. As informações, tal como tem estado a acontecer em vários casos de raptos, são verdadeiramente escassas, tudo porque as pessoas continuam fechadas a sete chaves. Ninguém quer falar, alegadamente por medo de os raptores porem fim a vida dos sequestrados e seus familiares.

Para o rapto desta quarta-feira, diz-se que a vítima é mãe de um empresário ligado ao grupo Aga Khan, entidade que detém a titularidade do Hotel Polana, um dos principais cartões de visita de Maputo, no que à hotelaria e turismo diz respeito.

Polícia lançou mega-operação nesta quinta-feira

Na madrugada de quinta-feira entre a Cidade da Maxixe e Maputo a polícia montou dezenas de controlo mandando parar todas viaturas circulando no sentido ascendente e descendente em relação à capital do país.

Era notório que a polícia procurava potenciais elementos sequestrados nos últimos dias.

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