segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

NA SEGUNDA SÓ CAI QUEM QUER




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje esperar que "nunca venham mais a ser precisas em Portugal" medidas adicionais de austeridade e que todas as medidas adoptadas "estejam dentro do quadro que está actualmente em vigor".

Alguém acredita? Não. Nem ele acredita, seja na versão isolada ou na de Pedro Miguel Passos Relvas Coelho. Aliás, o primeiro-ministro já está na fase de dizer uma coisa às segundas, quartas e sextas, e outra às terças, quintas e sábados.

O primeiro-ministro fez esta afirmação depois de elogiar a evolução das exportações portuguesas e de criticar as "vozes" que defendem "que é preciso flexibilizar, querendo dizer que é preciso abrandar este ritmo, não ter tanta pressão para cumprir os objectivos" a que Portugal está obrigado.

"Se essas vozes fossem escutadas, aí sim, nós poderíamos ficar em piores circunstâncias. E se os resultados, em consequência desse abrandamento, dessa flexibilização, nos tivessem de conduzir a um desempenho pior, aí sim, seria necessário reforçar medidas, que eu espero nunca venham mais a ser precisas em Portugal", afirmou Passos Coelho, durante uma visita ao 17º Salão Internacional do Sector Alimentar e Bebidas (SISAB), no Pavilhão Atlântico, em Lisboa.
Passos Coelho manifestou-se convicto de que, se Portugal "não abrandar, não aligeirar o esforço" que está a fazer, vai ser bem sucedido e não serão necessárias "medidas adicionais".

Recorde-se que foi este mesmo Pedro Passos Coelho quem, antes de chegar à gamela, dizia que:

“Estas medidas (do governo anterior) põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução. Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa”.

“Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias. Sabemos hoje que o Governo fez de conta. Disse que ia cortar e não cortou. Nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que podem ser reduzidas”.

“O pior que pode acontecer a Portugal neste momento é que todas as situações financeiras não venham para cima da mesa. Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos”.

“Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos. Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos. Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado”.

“Já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o que assina em nome de Portugal. O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando”.

“Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa. Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas”.

“Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português. A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento.

“A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos. Não aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que quem não está caladinho não é patriota”.

“O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento. Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate”.

Ou ainda: “Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?”

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: MUKANDA PARA RAFAEL MASSANGA SAVIMBI

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