terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

“NÃO AGUENTAMOS MAIS” É O GRITO DE PROTESTO NA GRÉCIA




Pedro Crisóstomo - Público

20 mil nas ruas de Atenas e Salónica

Comboios e barcos parados, autocarros e metro a meio gás. Escolas, ministérios e hospitais com os serviços mínimos. E 20 mil manifestantes nas ruas de Atenas e de Salónica na greve geral de 24 horas em protesto contra as medidas de austeridade, no dia em que o Governo procura um consenso entre as forças da coligação para finalizar um acordo sobre as reformas económicas exigidas pela troika para a Grécia receber um segundo empréstimo.

Milhares convocados pelas duas maiores centrais sindicais do país (do sector público e do privado) concentraram-se no centro de Atenas e, apesar da chuva que caía esta manhã na capital, rumaram até à praça Syntagma, lugar habitual de protesto.

A BBC mostrou imagens de um momento de alguma tensão entre a polícia e os manifestantes, que tentavam subir uma escada que dá acesso à parte frontal do edifício parlamentar. Os cartazes que ergueram na marcha de protesto que impediu a circulação normal do trânsito faziam eco da palavra de ordem da greve de hoje: “Chega, não aguentamos mais”. A agência AFP fez uma súmula de alguns cartazes: “Não aos despedimentos na função pública”, “não à baixa do salário mínimo”, “não às reduções das reformas complementares”. Foi queimada uma bandeira alemã e erguida uma outra, grega, que um manifestante em sinal de vitória ajudou a levantar.

É o grito de revolta contra as medidas adicionais de austeridade e as reformas económicas que a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu exigem à Grécia para ser validado pela troika o segundo empréstimo.

Vassilis Bakalis, um dos manifestantes que a AFP encontrou em Atenas, resumia assim o sentimento de alguns que marcharam até à Syntagma: “Estamos aqui porque seremos os primeiros da próxima fornada de 15 mil a serem despedidos [na função pública]”. Bakalis tem 34 anos e é curador no Museu Bizantino de Atenas.

A contestação nas ruas opôs-se com veemência às medidas já adoptadas nos sucessivos planos de austeridade que o anterior Governo, de Georgios Papandreou (líder dos socialistas), implementou em 2011 e às que a troika quer ver postas em marcha este ano como contrapartida para a Grécia receber um segundo empréstimo, a rondar os 130 mil milhões de euros.

Os motivos do protesto reflectem também o que a imprensa grega diz estar em cima da mesa das negociações que hoje prosseguem entre os três partidos com assento no executivo de unidade nacional de Lucas Papademos para ser fechado um acordo sobre as propostas da troika.

No meio do impasse das últimas discussões entre o primeiro-ministro e os líderes do partido socialista, conservador e de extrema-direita, o Governo acabou ontem por anunciar consenso quanto ao despedimento de 15 mil funcionários públicos este ano.

A redução em 20% do salário mínimo, para os 525 euros mensais, é uma das hipóteses que o jornal grego Kathimerini dá como mais provável para os partidos subscreverem a proposta de acordo. O ministro das Finanças, Vénizélos, continuava, contudo, a falar em “falta de unidade” e numa “negociação crítica”.

É um “momento decisivo para o futuro da Grécia e da Europa”, considerou já hoje o Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, no meio da pressão a que Atenas tem sido submetida pela zona euro para aceitar rapidamente um novo acordo. Bruxelas avisou ontem através de um porta-voz que o Governo grego já tinha ultrapassado o prazo para responder positivamente às reformas pedidas pela troika. Angela Merkel e Nicolas Sarkozy dramatizaram ontem o apelo. Durão Barroso mostrou-se hoje confiante num “acordo final” em breve e insistiu: “Queremos que a Grécia continue no euro”.

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