terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

COELHO DE CARNAVAL




Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues

Pedro Passos Coelho precisa de ter um discurso. E que esse discurso seja coerente. E a coerência do seu discurso é esta: sacrifícios e austeridade. Tinha, por isso, de acabar com a tolerância de ponto do Carnaval. Que existe desde que eu me lembro de existir. Se Pedro Passos Coelho conhecesse mais empresas para além das do seu amigo Ângelo Correia e o País para lá dos jantares da carne assada do PSD saberia que o problema da nossa produtividade nada tem a ver com as horas que trabalhamos. Nem com os feriados. Tem a ver com características da nossa economia, com o mau funcionamento do Estado e com a má organização das empresas.

Deixo aqui claro que não sou grande entusiasta de tolerâncias de ponto. Acho que os direitos dos trabalhadores devem estar previamente estipulados e que os agentes económicos devem saber com segurança e previsibilidade com que linhas se cozem. Nem uns nem outros devem depender de decisões casuísticas, ano a ano, de cada governo. Mas o mundo real não se move por o que eu acho. E uma decisão destas, que afeta a economia local de tantos concelhos, tem de ser ponderada pelos seus resultados e não pela frase de efeito que dela se pode tirar. O ar de pai tirano de quem está a pôr os meninos preguiçosos na ordem, que o primeiro-ministro decidiu usar para falar deste assunto, não acrescenta um cêntimo à nossa economia.

Os resultados desta decisão só podem ser dois. Um: os privados e o poder local não acatam a decisão e tudo fica mais ou menos na mesma. Passos Coelho fez-nos perder tempo, criou irritação e confusão e será desautorizado pelo País inteiro. Outro: o país vai mesmo trabalhar na terça-feira, as câmaras municipais perdem milhões do investimento que fizeram, o comércio local e a hotelaria têm mais um rombo e a nossa depauperada economia fica a perder. Apenas para o primeiro-ministro ser coerente.

Nesta matéria, concordo com o que ouvi da boca de António Capucho: se o governo quer acabar com esta tolerância de ponto avisa com a mesma antecedência com que ela começa a ser preparada por esse país fora: um ano. E autarquias, hotelaria, restauração e cidadãos preparam-se para esta alteração. É assim, e não para os telejornais, que se governa um País. Querem uma prova que estas coisas precisam de tempo? O ministro da Educação do governo que tomou esta decisão não consegue abrir as escolas no Carnaval. Diz que é uma pausa letiva normal. Mas não é isso. É apenas porque, em grande escala, vinte dias não chegam para mudar "velhas tradições".

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