MSE - Lusa
Díli, 11 fev (Lusa) - A timorense Maria (nome fictício) está a tirar um curso universitário e trabalha em Díli, Timor-Leste, uma vida que considera "boa", depois do pesadelo vivido quando foi vítima de abuso sexual.
Maria é uma das 150 jovens que o projeto Casa Vida já recolheu desde 2008, quando foi criado para proteger meninas e adolescentes em situação de risco, especialmente vítimas de violência doméstica e abuso sexual.
"Nestes quatro anos já atendemos 150 meninas, a maioria vítimas de abuso sexual dentro da família, 80 por centos das quais grávidas do próprio pai, tio ou avô", disse à agência Lusa Simone Assis, coordenadora do projeto.
Segundo a responsável, a maioria das meninas que passaram na Casa Vida foram depois reintegradas na família.
"Hoje, a Casa Vida toma conta de 41 meninas, 35 acima de seis anos e seis bebés", acrescentou Simone Assis.
Na Casa Vida, as meninas e adolescentes regressam à escola, tendo ao mesmo tempo formação em informática, costura e culinária.
Uma formação que lhes permite trabalhar em dois projetos daquela organização, o Café Aroma e o Doce Vida, para garantirem a sustentabilidade da Casa Vida, também apoiada pelo Governo timorense.
"Temos o Café Aroma, que é um restaurante escola onde estão 17 meninas a ser treinadas, cinco delas ainda a frequentar a universidade e temos o projeto Doce Vida criado para as meninas que têm filhos e que não têm condições para voltar à escola, mas que querem trabalhar para sustentar as crianças", explicou Simone Assis.
Questionado pela agência Lusa sobre o problema do abuso sexual em Timor-Leste, Simone Assis explicou que é "muito comum", considerando um número grande os casos que vão parar à Casa Vida, que não é conhecida nos distritos.
"Por incrível que pareça, temos visto que nos dois últimos anos o número de casos é maior devido ao conhecimento que as pessoas têm tido da violência, do abuso sexual que até há uns anos era visto como uma coisa comum, cultural", referiu.
As meninas vítimas de violência e abuso sexual chegam à Casa Vida através da polícia, do Ministério da Solidariedade Social ou do hospital.
"Nós somos apenas um braço do Governo. Fazemos um trabalho que é necessário e que o Governo não tinha condições de desenvolver", disse, salientando que foi criado um número de telefone, o SOS Criança (7319833) para as pessoas denunciarem casos de abuso sexual contra menores.
Para o futuro, Simone Assis tem planos para começar a trabalhar junto das comunidades, principalmente junto dos chefes de suco.
"É importante que o chefe do suco tenha noção que o abuso é um crime e que tem de ser levado à polícia e não resolvido da forma tradicional. Na verdade a justiça tradicional beneficia a família da criança, mas não traz benefícios para a criança, nem resolução para o problema que ela está a viver internamente", disse.
Para Maria, é tudo um problema de educação.
"Os homens que não têm educação são um problema. Bebem muito e abusam das meninas. As mulheres têm de educar os homens", disse Maria, que estuda economia e gestão e que, entretanto, casou com um professor.
1 comentário:
Foi muito bom ver sua postagem sobre esse lindo trabalho realizado no Timor Leste pela minha filha Simone. Parabens pela iniciativa.
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