TSF, com foto de arquivo DN
Esta quinta-feira, passam 25 anos sobre a morte do cantor e compositor José Afonso, uma das maiores referências da música popular portuguesa e que se notabilizou por ter sido o autor da canção que foi a senha da Revolução do 25 de Abril, «Grândola, Vila Morena».
Falecido a 23 de Fevereiro de 1987, com 57 anos, Zeca Afonso, como também é conhecido, começou a sua carreira com a gravação de fados e baladas de Coimbra. Porém, viria a ser pela interpretação de canções, onde a mensagem era tão importante quanto a melodia, que ficaria a ser conhecido.
Ainda antes do 25 de Abril, gravou em Londres, Madrid e Paris, sempre tendo em atenção a realidade portuguesa, álbuns como «Traz Outro Amigo Também», «Cantigas do Maio», «Eu vou ser uma toupeira» e «Venham Mais Cinco».
Um mês antes da revolução, o cantor interpretou «Grândola, Vila Morena» no Coliseu de Lisboa, ao lado de Adriano Correia de Oliveira, Fernando Tordo e Manuel Freire.
Em 1983, já numa fase avançada da sua doença, regressou ao Coliseu de Lisboa para o seu último espectáculo. As homenagens multiplicaram-se e é condecorado com a Ordem da Liberdade.
Dois anos depois, Zeca Afonso edita o seu último disco, "Galinhas do Mato", no qual, devido ao estado da doença, não consegue interpretar todas as músicas previstas.
Actualmente, muitas das músicas de Zeca Afonso continuam a ser gravadas por diversos artistas portugueses e estrangeiros. O seu trabalho continua a ser reconhecido e apreciado. Eternizado.
*Um trabalho de Sara Edite Mendes
Letras de Zeca não caíram bem numa certa Esquerda, lembra historiadora
Isabel Pimentel recordou que antes do 25 de Abril existiam elementos da Esquerda que pretendiam que Zeca Afonso tivesse uma «linguagem directa que toda a gente entendesse».
A historiadora Irene Pimentel lembrou que o surrealismo de algumas letras de Zeca Afonso não caiu bem em alguns sectores da Esquerda, que preferiam mensagens mais panfletárias.
«Pouco antes do 25 de Abril, foi muito criticado por uma certa Esquerda, bastante mais radical, que dizia que não se percebia nada das músicas dele», recordou.
Ouvida pela TSF, esta autora de uma fotobiografia sobre José Afonso lembrou que estes elementos da Esquerda defendiam que um «cantor de intervenção e envolvido politicamente tinha que ter uma linguagem directa que toda a gente entendesse».
«Mesmo depois do 25 de Abril, o Zeca dizia sempre que a canção panfletária acabava por não ter efeito nenhum mesmo quando queria ser um panfleto e acabava por ter um efeito contrário pela sua má qualidade», explicou a historiadora, que qualificou Zeca Afonso como um «perfeccionista».
Rui Pato lembra Zeca como amigo distraído e de grande cultura
O actual director dos Hospitais de Coimbra e antigo guitarrista de Zeca recorda José Afonso como alguém «muito generoso, de grande cultura e de muita sensibilidade».
Rui Pato, actual director dos Hospitais da Universidade de Coimbra e guitarrista de Zeca entre 1961 e 1969, lembrou José Afonso como um amigo distraído e de grande cultura.
«Era um homem com muito bom humor, muito culto, muito amigo. Não conheço ninguém que tivesse apontado ao Zeca nessa altura algum defeito», explicou.
Ouvido pela TSF, Rui Pato recordou que alguns viam Zeca Afonso como alguém «muito exótico, outros achavam que ele era meio maluco, mas isso era porque era muito extravagante e muito distraído».
Contudo, o antigo guitarrista de José Afonso disse ainda que Zeca era «muito boa pessoa, muito generoso e de grande cultura e de muita sensibilidade», que o faziam ser uma «pessoa muito especial».
Com áudio e vídeo: Reviver José Afonso: em Lagos Vivianne recorda os «Índios da Meia Praia»
TSF em direto – Hoje (23) apresenta “Canções e Cidades de Zeca Afonso”, todo o dia.
1 comentário:
"...a canção panfletária acabava por não ter efeito nenhum mesmo quando queria ser um panfleto e acabava por ter um efeito contrário pela sua má qualidade..."
os responsáveis por propaganda política na Coréia do Norte ignoram essa logica.
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