Gilson Caroni Filho, do Rio de Janeiro – Correio do Brasil, opinião
Há 90 anos, precisamente a partir de 25 de março de 1992, os comunistas passaram a existir de fato na sociedade brasileira. Independentemente de divergências no campo progressista, não se pode negar ao PCB sua importância histórica como um dos referenciais elementares na articulação da cultura e política contemporânea do Brasil contemporâneo. E neste lapso histórico, até a legalização em 1985, contam-se nos dedos os anos em que os comunistas se beneficiaram de garantias cívicas – que, genericamente, se realizam no direito à existência legal como partido político.
É claro que a discriminação cívica dos comunistas não foi um fenômeno peculiar. Ela se inseriu como um dos aspectos particulares daquele que, durante muito tempo, foi um padrão constante da formação social brasileira: a exclusão das massas trabalhadoras do processo político. A negação da vida pública aos partidos de esquerda fez parte da negação maior realizada sistematicamente pelas classes dominantes brasileiras: a tentativa de impedir e ou neutralizar a intervenção do povo na nossa história.
Entretanto, este aspecto particular da tradicional natureza antidemocrática , antipopular e excludente da ordem política brasileira revestiu-se de um sentido absolutamente decisivo no processo de declínio histórico do regime implantado com o golpe de 1964. E pelo que contém de pedagógico não podemos deixar de passar em branco esse ponto.
A nossa experiência política revela a que serviu a interdição da legalidade aos comunistas. Todos sabem que o anticomunismo e a repressão a seus quadros foram o pretexto e o vestíbulo ao cerceamento de todas as correntes do pensamento progressista, uma espada de Dâmocles, que se manteve suspensa sobre todas as cabeças que exercitaram o dever de dissentir, de discutir e de projetar um futuro diferente a partir do presente transformado. No momento em que o capital financeiro, apoiado pelas grandes corporações midiáticas, dissolve conquistas históricas da classe trabalhadora européia, a lembrança viva desse passado recente é um imperativo democrático para brasileiros e demais povos sul-americanos.
Sempre é bom recordar que a luta pela livre organização e a legalização das mais diversas correntes de opinião concentrou muitas das determinações da questão democrática brasileira. Nestas condições, a luta dos comunistas foi pertinente a todas as forças democráticas. O impedimento de existência legal do PCB significou para elas uma restrição, uma ameaça, um instrumento de chantagem.
O partido que contou com quadros da estatura de João Amazonas, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Diógenes Arruda Câmara e Luís Carlos Prestes condensou a consciência possível de uma parcela expressiva das populações trabalhadoras da cidade e do campo e as melhores tradições de nossa intelectualidade. Apesar dos erros cometidos e dos percalços de seu itinerário, instaurou-se como uma constelação política nacional, como uma vontade política genuinamente nacional.
Combateu por uma legislação social justa, pela defesa da industrialização, pelo monopólio estatal do petróleo, pela educação pública fundamental e superior, pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, pela proteção à infância, contra discriminação racial, religiosa e cultural, contra todas as formas de censura e obscurantismo, pela democratização da vida social e por melhores condições sociais para todos os trabalhadores. Estiveram presentes na campanha das “Diretas Já”, contribuindo para o avanço da luta democrática. O aporte que ofereceram à cultura e às ciências históricas e sociais com a difusão pioneira do marxismo é de uma relevância íntima.
Vinculados à solidariedade internacional, lutaram contra o fascismo espanhol e denunciaram sempre o colonialismo. Deram seu sangue nos campos de batalha da Itália e nas câmaras das ditaduras que macularam a dignidade nacional. Se entendemos o socialismo como desejo e tarefa de homens e mulheres, como obra coletiva dos trabalhadores, devemos reverenciar a trajetória de homens como Mário Alves, Gregório Bezerra, Henrique Cordeiro e Apolônio Carvalho entre tantos outros. Eventuais divergências táticas não justificam o esquecimento de atores que lutaram pela democracia como valor estratégico.
Ao presenciarmos a ação de sistemas despolitizantes que pretendem reduzir questões sociais e políticas públicas a problemas técnicos, que devem ser elucidados mediante a interação entre cúpulas de organismos multilaterais, agências de risco e corporações midiáticas, precisamos resgatar o legado dos que lutaram por uma vida à luz do dia, regida pelas normas de convivência pluralista e democrática. Viva a paz ! Viva a democracia! Viva o socialismo!
Na foto: Os fundadores do PCB foram, de pé da esquerda: Manoel Cendon, Joaquim Barbosa, Astrojildo Pereira, João da Costa Pimenta, Luis Peres e José Elias da Silva; sentados, da esquerda para a direita: Hermogênio Silva, Abílio de Nequete e Cristiano Cordeiro
* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Correio do Brasil e do Jornal do Brasil.
8 comentários:
o senhor falou tanta lorota, mas tanta, que se esqueceu de um fato histórico: o PCB nunca foi partido do proletariado, mas da CLASSE MÉDIA, um certo grupo social que os comunistas brasileiros sempre demonizaram.
esses camaradas aí citados tiveram sua origem na pequena burguesia.
ABERRAÇÃO HISTÓRICA E IDEOLÓGICA!
Não é novidade muitos quadros dos Partidos Comunistas serem originários das pequenas e médias burguesias: foi desse modo, com essas origens, que eles assumiram a energia disposta para a luta, a energia disposta a remover montanhas, por que é uma energia que vem do humus de sua própria existência, até atingir a consciência necessária e pronta para a rebeldia e para essa mesma luta!
Os comunistas identificam-se com os trabalhadores, com os explorados, com os deserdados da Terra e sabem que hoje, mais que nunca, integram como vanguarda de consciência 99% da humanidade!
Nenum comunista é mentor de império, de tensões, de conflitos e de guerras!
A paz solidária e com justiça social preenche todos os seus horizontes e afirmar que alguém proveniente da pequena ou média burguesia não é capaz de interiorizar isso e traduzi-lo em actos conscientes, é uma aberração histórica e ideológica!
falou bonito mas falou BOBAGEM !!!
"A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame".
Olavo de Carvalho
"BOBAGENS" SEM OU COM ÉTICA!
Bobagem é não reconhecer que a lógica capitalista provoca uma dialéctica de classes, de que ninguém individualmente se pode furtar, que implica dum lado, do lado dos trabalhadores e deserdados da Terra, ética e moral e do outro, cada vez mais, a criminalização de sua vocação, caminho seguro para todo o tipo de tensões, conflitos e guerras!
Desse modo há os que se colocam a favor das oligarquias, com ou sem ideologia, tal como os que se colocam a favor dos explorados, com ou sem ideologia.
Isso é o fundamento para tudo o demais, o fundamento para o sentido de vida e o sentido da morte antecipada.
É evidente que assumir a energia e a acção dos que se devotam à busca da justiça social, buscando equilíbrio, solidariedade, paz e humanização, colocando o homem como prioridade para a acção e respeitando ao mesmo tempo a Mãe Terra, implica assumir a dialéctica do processo com ética e com moral.
O lucro a qualquer preço a favor duma minoria, cada vez mais minoria, é desde logo uma arbitrariedade que induz a condução dos destinos da humanidade para o beco sem saída que alguns querem "preservar", quando afinal há cada vez mais rupturas nesse caminho!
Bobagem é não saber distinguir isso, a dialéctica entre os 1% e os 99% a que chegamos hoje!
"Uma vez que se tenha entendido que são os indivíduos que agem - e não as forças de produção -, todo o esquema marxista sobre a evolução histórica cai por terra. Se são os seres humanos que criam por seus próprios atos as forças de produção, ao invés de serem as forças de produção que determinam esses atos, então a transição de um sistema econômico para outro não é uma inevitabilidade, como Marx dizia ser. Tais mudanças irão ocorrer apenas SE as pessoas agirem para criá-las - E SOMENTE ASSIM. Se alguém contestar dizendo que existem leis que determinam a ação humana, esse contestador terá de ter a bondade de produzir essas leis para que possamos examiná-las."
Quer fazer mais algum discurso de COMUNISTA BURRO? Faça, que eu nem vou ler. Vc não é capaz de compreender o que está escrito logo acima.
O infeliz nem tenta defender os tiranos que por décadas foram chamados de comunistas, e que hoje são os tais "marxistas vulgares".
Quando fascista comete genocídio ele não deixa de ser fascista. Quando um comunista comete o mesmo tipo de crime abominável, é um "marxista vulgar".
...São os "democratas" paridos nas vossa lógica e nas vossas ideologias, há séculos os maiores predadores da humanidade e do planeta e vocês vêm com essa de "comunistas que comem criancinhas"!
Esse é um discurso estafado que cada vez mais vai perdendo crédito: parecem estar a esquecer-se que a ditadura brasileira só foi possível um dia por que os vossos "democratas" assim o quiseram e que foram brasileiros, alguns deles comunistas, que lutaram contra ela e continuam hoje a lutar contra as injustiças sociais, os desequilíbrios, a exploração desenfreada de seres humanos, a miséria, o que nutre a pança dos vampiros...
Com 7 mil milhões de seres em vida no planeta ainda privilegiam no vosso raciocínio "o indivíduo": que amor pelo indivíduo... para fazer prevalecer o império!
O mundo é uma casa comum que só não tem causa comum por que os predadores estão à solta e, ao invés de pensar e agir em função de toda a humanidade, pensam e agem em nome da elite que eles constituem, uma poderosa elite que não olha a meios para impor a sua vontade!
Pensar e agir em função do sentido da vida é o que nunca foram capazes, por que nunca foram capazes de solidariedade e de justiça e julgam arrogantemente que o modelo de suas sociedades basta para fazer alguma vez convencer!...
Nunca mais
Adolfo Pérez Esquivel
Revista Amauta
La dictadura militar en Brasil, que gobernó desde 1964 hasta 1985, se basó en la Doctrina de Seguridad Nacional Norteamericana y formó a muchos de sus militares en la Escuela de las Américas en Panamá y en las Academias militares de los Estados Unidos.
La concepción ideológica y metodológica fue estudiada y perfeccionada en la Escuela Superior de Guerra de Brasil y sirvió como formación y adoctrinamiento de las fuerzas armadas de otros países en donde también se instrumentó el Plan Cóndor, con el objetivo de imponer la internacional del terror, secuestros, torturas, asesinatos, traslado de prisioneros de un país a otro y operativos conjuntos en diversos países por grupos de tareas de Chile, Argentina, Brasil, Paraguay, Uruguay y su extensión a otros países centroamericanos.
Esta concepción ideológica enmarcada en la confrontación Este-Oeste fue impuesta en todo el continente de la mano de la hipótesis de conflicto del enemigo interno, transformando a las fuerzas armadas en tropas de ocupación de su propio pueblo.
No es el motivo de este artículo extenderme en el análisis de esto que señalo, pero me gustaría recomendar los trabajos de investigación del sacerdote belga que vivió gran parte de su vida en Brasil, Joseph Comblín, sobre la Doctrina de Seguridad Nacional, y de la investigadora y periodista argentina Stella Calloni, quien publicó la obra La hora del lobo...
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=146933
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