segunda-feira, 26 de março de 2012

Cabo Verde: O QUE FAZ AINDA UM HOMEM DESTES FORA DA PRISÃO?



Liberal (cv), editorial

Por isso é que num país destes o próprio Primeiro-ministro apropria-se de um terreno público e ninguém diz nada; um presidente de câmara lesa profundamente o município e não é responsabilizado pelos seus actos; ministras andam, às tantas da noite, em traficâncias eleitorais - e à chapada, como vulgares meretrizes - e toda a gente acha normal…

A notícia foi avançada por “A Nação”. Naturalmente que em qualquer democracia do mundo – mas, pelo visto, não na 26ª… - o caso teria merecido abertura de telejornal e o visado “perseguido” por um batalhão de jornalistas. A história é simples de contar, mas já não simples as consequências a ela apensas…

No que respeita ao badalado “caso Oficinas do Estado”, ali para Chã de Areia, as partes em litígio chegaram a acordo. Em causa, a disputa de propriedade do terreno, “airosa” – como refere “A Nação” – a saída para o imbróglio encontrada pelo Estado e o outro reclamante, a Sogei do sogro do Primeiro-ministro, Jorge Spencer Lima (Scapa); mas lesiva também, neste caso para os contribuintes da capital, porque a Câmara Municipal da Praia dirigida por Ulisses Correia e Silva vai ter que desembolsar ao Tesouro a quantia de cerca de 60 mil contos, por causa das trapalhadas do seu antecessor: Felisberto Vieira (Filú).
Para a história, fica a saber-se que a autarquia, sob o reinado de Filú, negociou terrenos que não lhe pertenciam – como vozes avisadas o haviam então denunciado -, mas mesmo assim a câmara nunca foi responsabilizada pela natureza ilegítima e ilegal dos seus actos. Ou seja, abichou largos milhares de contos e nunca no seu mandato Filú teve que os descontar no Fundo de Financiamento Municipal (FFM). É agora, com nova câmara e novo presidente que o acertar de contas irá ser feito. E sê-lo-á, seguramente, porque José Maria Neves – como já se percebeu -, entre as palmadas nas costas e elogios a Ulisses, vai no entretanto cravando algumas farpas, insinuando responsabilidades camarárias pelos incumprimentos da Electra e afirmando com despudor que, na Praia, o PAICV pode fazer melhor. Vê-se… com Filú, então, toda a gente viu…

Este caso, entre muitos outros que se conhecem, ilustra bem o tipo de cultura política instalada em Cabo Verde. Os pequenos sobas, das autarquias ao Governo, tratam a coisa pública como se fora terreno seu; promovendo negócios e abichando comissões; violando a Lei e favorecendo os amigos; fazendo e desfazendo sem dar contas a ninguém.

A Câmara Municipal da Praia foi, durante anos, terreno privado de Filú, palco de negociatas e enriquecimento ilícito de muita gente e do próprio, que antes de ser presidente não tinha onde cair morto. Toda a gente o sabe – mesmo os seus camaradas de partido -, mas assobiam para o lado como se nada fosse, como se roubar fosse algum acto digno, como se enriquecer à custa do povo e dos recursos públicos não fosse postura desprezível.

Por isso é que num país destes o próprio Primeiro-ministro apropria-se de um terreno público e ninguém diz nada; um presidente de câmara lesa profundamente o município e não é responsabilizado pelos seus actos, muito pelo, contrário como recompensa é nomeado ministro; directores envolvidos em sacos azuis são levados ao colo a altos cargos de governação; ministras andam, às tantas da noite, em traficâncias eleitorais - e à chapada, como vulgares meretrizes - e toda a gente acha normal…

Numa democracia a sério, Felisberto Vieira já estaria na prisão pelas patifarias que fez na Câmara Municipal da Praia. Mas não, nesta caricatura de Estado de Direito democrático, Filú passeia-se impunemente pelas ruas e faz-se passar por “pessoa de bem”. E, cobardolas e bazofeiro, sabe perfeitamente que, caso as coisas corressem para o torto e um magistrado “mais atrevido” lhe puxasse as orelhas, lá estaria - qual porto seguro - a providencial imunidade para o safar dos transtornos.

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