quinta-feira, 15 de março de 2012

Kumba Ialá, o homem do barrete vermelho e recordista das corridas a Presidente



MB – FP - Lusa

Bissau, 15 mar (Lusa) - Nas eleições presidenciais de domingo na Guiné-Bissau, Kumba Ialá marcará o seu nome nas páginas da história como candidato a todas as corridas à Presidência da República desde que há pluralismo democrático no país.

Conhecido sobretudo pela sua imagem de marca, o barrete vermelho que traz sempre nas aparições públicas, Kumba Ialá faz precisamente hoje, 15 de março, 59 anos.

"Velha raposa" da política guineense, desafiou nas eleições de 1994 como líder do Partido da Renovação Social (PRS, por ele fundado) o então chefe de Estado, o general João Bernardo 'Nino' Vieira, mas saiu derrotado numa segunda volta renhida.

De então para cá, Ialá nunca mais faltou aos embates para a corrida presidencial, onde chegaria nas eleições de 1999/2000. Os analistas da política guineense não se cansam de afirmar que Kumba Ialá só foi eleito na altura porque, segundo analistas políticos, o país "estava cansado do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde)", o partido histórico que tinha mergulhado a Guiné-Bissau numa guerra civil de 11 meses.

Devido aos erros que o próprio admitiu recentemente, dos quais pediu desculpa aos guineenses, Kumba Ialá só ficaria na cadeira presidencial durante três anos, sendo destituído num golpe de Estado militar.

Convidado a ir para um país estrangeiro, Kumba Ialá nunca quis deixar a Guiné-Bissau. Candidatou-se novamente à Presidência da República nas eleições de 2005. Contra todas as expetativas, foi o terceiro candidato mais votado.

Não teve votos suficientes para disputar a segunda volta, mas foi decisivo com o seu PRS para fazer eleger 'Nino' Vieira, que disputou a segunda volta com Malam Bacai Sanhá.

João Bernardo 'Nino' Vieira foi eleito Presidente, mas não terminou o seu mandato porque seria assassinado na sua residência em março de 2009. Novamente o país foi obrigado a organizar eleições presidenciais antecipadas, novamente Kumba Ialá se apresentou como candidato.

Desta vez na segunda volta contra Malam Bacai Sanhá, Kumba Ialá foi derrotado nas urnas e exilou-se em Dacar (Senegal) e depois em Rabat (Marrocos).

Quando em janeiro último foi anunciada a morte de Malam Bacai Sanhá, vítima de doença, Kumba Ialá, de etnia balanta, filho de agricultores de Bula, reaparece em cena.

Para trás ficara a sua filiação no PAIGC quando adolescente, a criação do PRS e os comícios de discursos populistas que mobilizavam multidões. Agora aparentemente mais calmo, Kumba Ialá diz que quer ser Presidente para unir os guineenses, promover a paz, a justiça, a tolerância e a reconciliação.

Desportista, refugiou-se em Portugal para fugir ao serviço militar (ainda no tempo colonial). Fez o liceu em Loulé e Lisboa e, segundo a sua biografia oficial, licenciou-se em Filosofia e Teologia em 1981. Formou-se ainda em ciência política, em Berlim e em 1987 chefiou uma delegação do PAIGC a Moscovo (ao 70.º aniversário da revolução de outubro).

Ainda segundo a mesma biografia, em 1990 saiu do PAIGC e quatro anos depois foi eleito deputado já pelo PRS. Em 1995 concluiu a licenciatura em Direito, em Bissau. É casado e tem vários filhos.

No meio do seu percurso político entre as corridas eleitorais, converteu-se ao islamismo, mas raras são as vezes em que é chamado pelo nome por ele adotado quando se converteu: Mohamed Ialá. Simplesmente continua a ser Kumba Ialá, ou Koumba Yalá Kobde Nhanca, mesmo nas camisolas da campanha.

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