segunda-feira, 12 de março de 2012

O SOL DO REGIME ANGOLANO




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Segundo o jornal (português? angolano?) Sol, o que ontem se passou em Luanda pouco mais foi do que uma encenação de meia dúzia de energúmenos.

“Este sábado fica marcado pela realização de protestos em Angola contra a actual Comissão Nacional Eleitoral, nomeadamente contra a nomeação de Susana Inglês para o cargo de presidente desse órgão que vai regular o processo eleitoral marcado para este ano”, escreve o Sol, provavelmente num texto visado pela Comissão de Censura do MPLA.

O referido jornal não reparou, obviamente, que os protestos também visavam o “querido líder” angolano, há 32 anos no poder sem nunca ter sido eleito, José Eduardo dos Santos.

“De acordo com as informações disponíveis, sabe-se que houve tentativas de organizar manifestações, tanto em Luanda como em Benguela, pelo Movimento Revolucionário Estudantil”, escreve o MPLA no artigo publicado no Sol, acrescentando que “os relatos conhecidos apontam para o fracasso destes dois protestos e para a acção policial que terá provocado alguns feridos nas duas cidades angolanas”.

O Sol não fez, aliás, o trabalho que lhe fora recomendado pelo MPLA. Se o tivesse feito, certamente saberia que os feridos aleijaram-se quando tropeçaram numa lagosta que devoravam, acompanhados por algumas Cucas.

Diz ainda o órgão semi-oficial do regime angolano, que “estes protestos seguem-se a várias iniciativas dos três maiores partidos da oposição - UNITA, PRS e FNLA - no Conselho Superior da Magistratura Judicial e do Tribunal Supremo. As três forças partidárias interpuseram uma providência cautelar que foi rejeitada por ambos os órgãos judiciais”.

“Na capital, a manifestação tinha início marcado no Cazenga e pretendia passar pela Praça da Independência, terminando na Cidade Alta onde está o Palácio presidencial”, escreve o Sol, acrescentando que “a polícia terá usado bastões para desmobilizar os manifestantes que, mesmo assim, insistiram em chegar à Praça da Independência em grupos mais reduzidos”.

A polícia “terá usado bastões”, escreve o Sol num impreciso parágrafo, desde logo porque todos sabem que a polícia do regime angolano não usa bastões, nem armas. Os sipaios fardados (os do Sol vestem à civil) são uma polícia civilizada que não faz mal a ninguém e, por isso, não pode ser culpada quando os manifestantes se ferem uns aos outros com a vil intenção e denegrir o regime.

“Apesar destes factos, quem circulou por Luanda durante a manhã não terá notado movimentações anormais, mesmo nas zonas próximas dos locais onde os manifestantes pretendiam chegar”, diz o Sol.

E tem toda a razão. Desde logo porque, não sendo um jornal, o Sol não tem responsabilidades éticas e deontológicas e muito menos qualquer compromisso com a verdade.

Em matéria angolana, o único compromisso é com a versão oficial do regime, cujos conteúdos tem de publicar. Aliás, o Sol – pelos vistos – não tem outro remédio. Ou publica apenas a verdade oficial ou sujeita-se a perder as lagostas e a ter de comer farelo.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.


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