sábado, 3 de março de 2012

O SUPERPREFEITO DE TEERÃ




Samy Adghirni - Folha, com foto

Como todos os povos do Oriente Médio, iranianos adoram debater política. Ao menos em Teerã, é surpreendente notar como ninguém tem medo de falar abertamente mal do regime e seus dirigentes. O único político que costuma sair ileso das conversas é o prefeito da capital, o conservador e pragmático Mohamed Qalibaf. É comum ouvir a seu respeito frases como “este trabalha duro” ou “ele está determinado em melhorar a cidade”.

Na visão dominante, o mérito de Qalibaf é conseguir tornar a vida um pouco menos dura numa metrópole de 12 milhões que ninguém ousaria chamar de boa para morar. Contra o trânsito sufocante e sem lei, que faz parecer São Paulo um mar de civilidade, o prefeito implementou rodízio e está construindo uma malha de viadutos e túneis para aliviar as artérias principais, impraticáveis após às 17h. Qalibaf também inovou ao criar corredores de ônibus. O transporte público, aliás, é bom e baratíssimo. Uma passagem custa em média US$ 0,15. Os ônibus, onde a parte traseira é exclusiva para mulheres, são silenciosos e espaçosos. O metrô, também separado em vagões para cada gênero, é moderno e tem estações limpas. Ruim mesmo é a híperlotação durante a maior parte do dia, ônibus e metrô. Nos horários de pico, fica difícil até respirar com tanta gente espremida.

Qalibaf, 50, também recebe elogios por ter enfeitado a sisuda Teerã. Mandou instalar painéis de azulejo colorido em viadutos e muros pela cidade, destoando do cinza/marrom predominante. Os parques são bem cuidados e floridos. Há obras por toda parte para melhorar a rede de água potável e esgoto.

O prefeito goza de uma imagem de eficiência, honestidade e dedicação que lhe rende elogios tanto dos ricos moderninhos do norte de Teerã como dos comerciantes e religiosos do centro e do sul da capital. Em 2008, foi finalista do prêmio de melhor prefeito do mundo.

Mesmo visto como um líder que flutua acima das disputas partidárias, Qalibaf é um puro produto do regime teocrático em vigor desde a Revolução Islâmica de 1979. Quando jovem, integrou as forças armadas e o basij, a milícia de voluntários a serviço do líder supremo. Com apenas 19 anos, comandou um batalhão importante na guerra contra o Iraque de Saddam Hussein (1980-1988). No fim dos anos 90, deixou as fileiras militares para tornar-se chefão da polícia nacional. Já adulto, resolveu aprender a pilotar jatos comerciais. Até hoje leva passageiros ao menos uma vez por mês, geralmente com destino à Europa. Ele alega que precisa manter horas de voo suficientes para não perder a licença de piloto.

O prefeito da capital é nomeado por um conselho municipal supervisionado pelo governo nacional. Qalibaf foi apontado para o cargo em 2005, após perder a eleição presidencial para o então prefeito de Teerã, um certo Mahmoud Ahmadinejad. Hoje os dois homens se detestam e é dado como certo que Qalibaf está de olho na Presidência, que Ahmadinejad será obrigado a deixar para trás no ano que vem após dois mandatos.

Os fãs de Qalibaf esperam que ele, a exemplo de Ahmadinejad, se beneficiará do período na prefeitura como um trampolim para a Presidência.

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