sexta-feira, 2 de março de 2012

São Tomé e Príncipe: Estaremos todos melhores dentro de cinco anos?



Ludmilo Tiny – Téla Nón, opinião

Interrogação de Ludmilo Tiny. Estudante em Portugal, numa reflexão sobre o momento actual do país, aponta algumas pistas que podem promover o bem-estar das populações, e não de grupos, amigos, e clientes permanentemente em contenda.

Depois de todo o País se ter verdadeiramente ocupado dos assuntos que mais relevam para o desenvolvimento socioeconómico da sociedade – existência da eterna carta de renúncia de um deputado; viagem para o exterior de um réu com julgamento marcado; a não auscultação do partido do Governo por parte do Presidente da República sobre a eterna carta de renúncia e a consciência do Presidente da Assembleia Nacional ou o regimento deste órgão como fonte de decisão – suponho termos já reunidas as condições para pensarmos. Sim, pensarmos, pelo menos, um bocadinho.

Dentre muitos mitos que têm comprometido a execução do programa de desenvolvimento nacional, ressalta-se a existência de uma falacia segundo a qual a relevância de um assunto para o País depende do número de órgãos de soberania envolvidos na sua discussão ou do “barulho social” produzido. A isto designo de “febre da histeria nacional”.

A importância nacional de um assunto depende do grau, da intensidade e da escala dos efeitos a ele ligados. Naturalmente que para esta falacia contribuem a comunicação social com o seu deficiente profissionalismo e determinados sectores da sociedade civil que, sustentados em duvidosos dizeres tais como “ê sô do partido glorioso, os gloriosos é que têm razão” ou “deixa governo trabalhar, xê”, paradoxalmente subestimam as prioridades objectivas como, por exemplo, o bem-estar das pessoas propriamente dito.

Em sociedades onde a cultura política é quase nula e a qualidade da opinião pública é tremendamente má, os órgãos de soberania e a comunicação social ocupam-se demasiadamente com assuntos sem grande interesse prático para a sociedade.
Pensemos um pouco. A discussão fervida e profunda sobre os assuntos acima enunciados é verdadeiramente vital para o desenvolvimento socioeconómico das pessoas? A população de São João dos Angolares, a título de exemplo, terá acesso regulamente a água potável depois de se saber porquê que Manual Pinto da Costa não recebeu Levy Nazaré ou Patrice Trovoada sobre a eterna carta de renúncia?

A discussão sobre as dívidas do Partido de Convergência Democrática (PCD) para com os seus militantes e dirigentes ou sobre a pseudo-amizade (hoje, inimizade?) entre o deputado (?) Amândio Pinheiro e o empresário Delfim Neves resolve os problemas do Hospital da Ilha do Príncipe?

É evidente que a resposta a essas questões não pode deixar de ser, para o presente momento, um não redondo, convicto e sem qualquer margem para dúvida. É também provável, porém, que este artigo possa estar a partir de um pressuposto errado, o que de o nível actual de satisfação das pessoas é alto, e que dentro de cinco anos manter-se-á inalterado. Reparem bem que todos estes episódios trágico-cómicos podem corresponder ao normal anseio da sociedade, e, se assim for, então, tudo o que afirmo, aqui, não faz sentido. Deixemos este pormenor aos sociólogos, todavia.

Gostaria apenas que nós todos pensássemos no seguinte: a população são-tomense estará social e economicamente melhor dentro de cinco anos? A resposta passa por um exercício sério e rigoroso de pensamento e de mudança de atitudes relativamente a assuntos verdadeiramente relevantes, dos quais decorrem efeitos práticos na vida das pessoas.

Deveríamos todos – jornalistas, políticos, cidadãos, empresários, estudantes, especialistas, etc – nos debruçar sobre como contornar a forte dependência do financiamento externo aliada à profunda crise financeira internacional.

O que realmente importa para a vida das pessoas prende-se com a execução de uma estratégia de captação de investimento privado externo, por exemplo, medidas para atracção dos empresariados brasileiro, indiano, taiwanês e dos Emirados Árabes Unidos; efectivação de medidas urgentes e estruturais para a rentabilização da riqueza bruta da zona norte; e transformação do país num polo de fornecimentos de produtos aos mercados gabonês, angolano, nigeriano, equato-guineense e togolês. Notem que subjacente a esses três exemplos está a ideia de execução imediata. Ou alguém tem dúvida de quais devem ser as medidas a tomar em nome do progresso do País?

Se hoje perdermos demasiado tempo com os pseudo-assuntos, como a eterna carta de renúncia ou com as viagens dos réus com julgamento marcado, como se tratassem de problemas tão difíceis de resolver, dentro de cinco anos não estaremos melhores. Vale, por isso, dizer que o efeito prático positivo da histeria nacional é quase nulo.
É mesmo vital para a vida das pessoas? Eis a interrogação que deve presidir a qualquer discussão nacional.

Fevereiro de 2012 - Ludmilo Tiny

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