domingo, 18 de março de 2012

Timor-Leste: "VAMOS SER UM PAÍS MUITO DEMOCRÁTICO"



AL – Ponto Final (Macau)

O ambiente está “surpreendentemente” pacífico, diz o português e residente de Macau André Madeira. André vive na segunda maior cidade de Timor-Leste, Baucau, onde está a desenvolver um projecto de permacultura financiado pelo Governo da RAEM.

Habituado a cenários de violência e problemas de segurança movidos por forças políticas, André está presentemente viver um “ambiente normalíssimo”, embora sinta que as forças policiais estão em alerta máximo, “devido aos desacatos das eleições anteriores”.

“Estou relativamente calmo, embora tenha algum receio que algo possa acontecer”, admite. Porque mais vale prevenir do que remediar, foi criada uma rede de apoio aos portugueses em Baucau, “que veio actualizar contactos e pontos estratégicos caso haja uma emergência, e inclusive, haverá escolta policial caso seja preciso”.

Pelo contrário, o representante da Fretilin em Baucau, Talik Reis, assegura que o povo timorense não está preocupado com a segurança. “O que realmente preocupa os timorenses é o final da Missão Integrada das Nações Unidas (UNMIT) e a retirada das forças australianas e neozelandesas do país”, diz.

Está tudo a postos para a primeira volta das eleições presidenciais de um dos países democráticos mais jovens e, ao mesmo tempo, instáveis do mundo. Poderá haver uma segunda volta em Abril, caso seja necessário.

Ouvidos pelo PONTO FINAL, cidadãos timorenses olham para o futuro do país com esperança e optimismo. Pela primeira vez, desde que o país conquistou a independência em 2002, tudo aponta para que as eleições decorram “normalmente”, e líderes e cidadãos mostram mais consciência do significado da palavra democracia.

Tempo de paz

“Paz, Estabilidade e Desenvolvimento” são as palavras de ordem destas eleições presidenciais que decorrem sob o olhar atento e receoso da comunidade internacional.

“A maioria das pessoas, principalmente os nossos dirigentes, está agora a dar mais ênfase à paz, unidade e estabilidade”, diz Leopoldino, membro da representação da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO na sigla inglesa) em Timor.

As eleições de sábado são um dos eventos mais importantes para determinar o futuro de Timor-Leste, diz Leopoldino, e os cidadãos estão mais cientes do significado da palavra democracia. “As pessoas são agora livres para escolher quem vai liderar esta nação ou o partido que pode governar o país. Todos têm o direito de participar activamente num partido ou de apoiar qualquer um dos candidatos, mas têm de evitar a violência e instabilidade”, avisa.

Já o activista e músico Eugénio Lemos reconhece que houve “alguns casos domésticos” de violência durante a campanha. Todavia, “a crise política de 2006 foi uma grande lição para a maioria dos timorenses e não vamos repetir isso outra vez”, afirma.

Hoje, Timor é um país mudado, continua Leopoldino. “Toda a gente está concentrada na estabilidade nacional depois da missão da ONU partir”, salienta.

Bons augúrios

André acredita que o facto de a campanha se ter desenvolvido sem grandes tumultos, é sinal de que as eleições vão decorrer sem problemas. “Estou confiante que estas eleições vão ser o ponto de transição entre a fase de instabilidade e o começo do desenvolvimento destemido da população”, salienta o português.

Para Talik Reis, estas eleições vão servir de referência para as próximas legislativas. Contudo, o militante da Fretilin condena o sistema de registo de eleitores, que pode deixar muita gente de fora do acto eleitoral.

“O problema é que a Aliança de Maioria Parlamentar aprovou uma lei em que cada eleitor deve votar no suco [circunscrição composta por uma ou mais aldeias] em que foi registado sem analisar o contexto social actual em que muitos estudantes e trabalhadores se encontram em distritos longe do seu suco”, critica.

De acordo com Talik, em Díli existem cerca de seis mil estudantes de cada um dos 13 distritos que estão longe dos seus sucos, “sem contar com os funcionários e trabalhadores do sector privado”. O representante da Fretilin estima que o número de eleitores que vai cumprir o dever cívico de votar sofrerá drasticamente.

Há 12 candidatos a concorrer ao lugar de Presidente da República Democrática de Timor-Leste. Os timorenses garantem que o elevado número é reflexo de maior consciência democrática.

“Isto [o número de candidatos] significa que o nosso sistema democrático está a crescer em Timor-Leste”, diz Leopoldino. “Significa que Timor-Leste está a caminhar para ser um país muito democrático”, acrescenta Eugénio Lemos.

Já André Madeira tem uma opinião diferente. O português acredita que a abundância de candidatos significa incerteza e instabilidade legislativa.

“Vive-se ainda um estilo de vida muito tribal em Timor e os candidatos políticos são criados sem bases para gerir um país. Alguns candidatos ainda vestem fardas militares, o que demonstra um pouco a energia em volta destas eleições”, explica.

“As pessoas em Timor, na sua grande maioria, procuram algo a que se possam agarrar e identificar, sem que saibam exactamente o que realmente é melhor para Timor-Leste. Isto facilita a procura de votos pelos candidatos, permitindo então que haja tantos”, conclui.

Timor-Leste realiza as terceiras eleições presidenciais no mesmo ano em que se preparar para celebrar o décimo aniversário da restauração da independência. A missão da ONU foi prolongada até ao final de Dezembro. As tropas vão começar a retirar gradualmente a partir das eleições legislativas marcadas para Junho.

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1 comentário:

Anónimo disse...

Taur será o novo presidente de Timor Leste. Luolo será o eterno vice

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