sábado, 21 de abril de 2012

CANIBALISMO NA LUNDA DOS ANOS DE MIL E OITOCENTOS




“AUTO DE DECLARAÇÃO PRESTADAS POR MONA-N’GUELLO, GRANDE E HERDEIRO DO ESTADO DE CAPENDA CAMULEMBA,CABANGUE SOBRINHO DO SOBA QUITUPO-CAHANDO E ZENGA SOBRINHO DO SOBA QUIZAZE”

Ao primeiro dia do mês de Junho do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos noventa e um na Estação Costa e Silva, sede da Delegação do governo Portuguez, na margem direita do rio Cuango, aonde se achava o delegado do governo Frederico César Trigo Teixeira, capitão do exercito da África Occidental, comigo António Augusto d’Araujo Palha de Carvalho ajudante da expedição, achando-se também presente o tenente Simão Candido Sarmento, delegado do governo Portuguez na região da LUNDA que a este veio em serviço publico e bem assim sua Exma Esposa D. Maria Felizarda de Amorim Sarmento, interprete Domingos Manoel da Silva, Manoel João Soares Braga, João Cunha Soares e Joaquim José Martins de Sant’Anna, 2.º cabo numero cincoenta e oito e quinhentos e oito da primeira companhia, Abel numero sessenta e duzentos e noventa da segunda companhia e Couro soldado numero cento e sete e seiscentos e quatorze da terceira companhia todos do batalhão de Caçadores numero três, destacados n’esta delegação;

Compareceram Mona N’guello, grande e herdeiro do Estado de Capenda Camulemba, Cabangue sobrinho do soba Quitupo-Cahando eZenga sobrinho do soba Quizaze, que declararam o seguinte;

Que em um dos dias do mês de Abril que não podem precisar passara em suas terras uma força de pretos ao serviço dos Estados Livres do Congo que se dirigiam para o Capenda Camulemba levando em sua companhia um preto que haviam comprado para os lados do Mussuco, o qual lhes consta fora morto no rio Lué, e comido pela mesma força, tendo-se encontrado uma mão da victima na banza do capenda.

Que desde princípio desconfiaram d’esta gente por costumarem metter agulhas no nariz para tirarem sangue que juntavam á comida, e tendo vivido sempre com os portuguezes de quem são subditos, nunca lhe viram praticar taes cousas.

Que achando-se aqui o delegado de Sua Majestade El-Rei de Portugal, único senhor de suas terras, vinham protestar contra tal crime, o primeiro d’este genero praticado em suas terras, e pedir para que fossem obrigados a retirar da banza do Capenda Camulemba e N’GuriA’cama, os Belgas que alli se acharem para evitarem digo evitar que se comettam outros crimes revoltantes como o que há pouco praticaram.

Que se não fora achar-se em suas terras o delegado de Sua Magestade Fidellissima El-Rei de Portugal, elles teriam feito justiça por suas mãos matando todos os belgas que se acham em Capenda Camulembae N’guri A’cama.

Pelo que se lavrou este auto que depois de lido por mim António Augusto de Araujo Palha de Carvalho e explicado pelo interprete na língua do paiz, vae assignado por todos e de cruz pelos que não sabem ler nem escrever e por mim António de Araujo Palha de Carvalho, escrivão nomeado para este auto.

(Ass.) Frederico Cesar Trigo Teixeira, cap.Do Deleg.º do Gov.º; Simão Candido Sarmento, Delegado do Governo na Lunda;Maria Felizarda d’Amorim Sarmento; Domingos Manoel da Silva; Manoel João SoaresBraga; + João da Cunha Soares; +Joaquim José Martins de Sant’Anna; +Abel;Couro; +Mona-N’guello grande herdeiro do Estado de Capenda Camulemba; +Calangue, sobrinho do soba Quitupo-Cahando; +Zenga, sobrinho do soba Quizaze.

O escrivão António Augusto de Araujo Palha deCarvalho, ajudante da expedição. Certifico serem dos proprios individuos asassignaturas feitas n’este auto. Eratut supra. O escrivão, António Augusto deAraujo Palha de Carvalho, Ajudante da expedição. 

Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda Tchokwe


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