Helena Ricoli
ONDE ESTÁS ABRIL?
Foi naquela madrugada de há 38 anos. Acabaram-se os miúdos que iam para a escola descalços (os que iam), com fome, às vezes com uma camisa coçada, velha, do pai, apesar de fazer um frio de gelar os pingos de orvalho. Foram tempos dificeis que superámos depois de tanta fome, de tanta escravidão, de tanto mau trato, de tanta exploração, de tanta guerra, de tantos mortos e estropiados. Naquela madrugada começámos a ouvir a palavra NÃO, primeiro baixinho, dita só por alguns, e depois mais alto e dita por mais, e mais, e mais, e muitos e todos!
Abriram-se as portas. As portas que Abril abriu estão agora a querer fechá-las completamente. A amnésia invadiu os portugueses. O desânimo também. Estamos a voltar à fome permanente, à escravidão, ao mau trato, à exploração, talvez volte uma guerra qualquer que os poderosos considerem de sua utilidade e daqueles que servem? Voltará a PIDE a entrar pelas nossas casas de madrugada e a levar os nossos filhos, os nossos pais, os nossos netos, homens, jovens, mulheres, só porque querem voltar a Abril, só porque querem liberdade, justiça e democracia?
Onde estás Abril? Porque quase não te vimos e quando apareces és tão difuso que muitas das vezes nem pareces ser tu?
E os portugueses nada farão para te salvar? Para se salvarem?
25 de Abril Já!
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