quarta-feira, 25 de abril de 2012

Golpe de Estado afugenta doentes e médicos do hospital, diretor pede que voltem



MB - Lusa

Bissau, 25 abr (Lusa) - Das 120 camas existentes na pediatria do hospital Simão Mendes, principal unidade médica da Guiné-Bissau, apenas 20 têm crianças internadas, porque as restantes foram levadas para casa pelos familiares, que receiam a violência no país.

Este é o retrato do Simão Mendes feito hoje à Agência Lusa pelo diretor do estabelecimento, Francisco Aleluia Lopes, para ilustrar a situação do hospital desde o dia em que eclodiu mais um golpe de Estado na Guiné-Bissau, no passado dia 12.

Com a crise militar "os doentes fugiram do hospital, com medo de violência", contou Aleluia Lopes, acrescentando ainda que o Hospital se ressente com a greve geral dos funcionários públicos convocada pelos sindicatos que protestam contra o golpe de Estado.

"Ainda noutro dia fizemos um apelo no sentido de pessoal médico vir trabalhar, mas também apelamos aos doentes para que voltem ao hospital", afirmou o diretor do Simão Mendes.

O apelo tem tido resposta satisfatória "porque alguns enfermeiros regressaram ao trabalho". Já os doentes, esses é que continuam a não aparecer, disse Aleluia Lopes.

Sem doentes e com o pessoal médico ausente, alguns serviços estão praticamente a "meio gás", como são os casos da radiografias, urgência e consulta externa, explicou o diretor do Simão Mendes, uma situação que, disse, tem contribuído igualmente para a quebra da receita do hospital.

Nestes dias não tem havido consultas externas para doentes com problemas de urologia, cardiologia, medicina interna ou para aqueles que precisarem de cirurgia, disse Francisco Lopes.

O diretor do hospital adiantou ainda que o Simão Mendes já tem um plano de contingência caso a situação militar venha a degradar-se mas também em caso do surgimento de doenças endémicas como é o caso da cólera.

Francisco Aleluia diz que em situação normal o Simão Mendes conta com 48 médicos e cerca de 80 enfermeiros, mas com o golpe de Estado apenas aparecem "um enfermeiro em serviços em que em condição normal estariam três ou quatro".

O responsável do hospital receia que a mortalidade infanto-materna possa aumentar no país com a fraca assistência médica, já que o Simão Mendes é o hospital de referencia do país o que, disse, poderá fazer cair o nível do cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.

Em termos de alimentação e de combustível, Francisco Aleluia Lopes diz que a situação "até nem é má" isto porque o hospital tem recebido apoios de particulares o que, sublinhou, "dá para aguentar pelo menos dois meses em termos de comida e 15 dias em termos de energia elétrica".

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