sexta-feira, 13 de abril de 2012

GUINÉ-BISSAU, UM PERCURSO RECHEADO DE INSTABILIDADE



SBR - Lusa

Lisboa, 13 abr (Lusa) -- Os golpes de Estado não são uma novidade na Guiné-Bissau, frequentemente afetada por crises, ora políticas, ora militares, ora ambas.

Ex-colónia portuguesa, a Guiné-Bissau travou, nas décadas de 1960-70, uma luta de onze anos pela independência, liderada por Amílcar Cabral, que acabaria por ser assassinado, fundador do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, hoje no poder).

Independente desde 24 de setembro de 1973 (por declaração unilateral, que Portugal só reconheceu a 10 de setembro de 1974), a Guiné-Bissau já viveu uma dezena de golpes de Estado e nunca teve um Presidente da República que levasse um mandato até ao fim.

Luís Cabral (irmão de Amílcar Cabral), o primeiro presidente da Guiné independente, foi deposto por um golpe militar, em 1980, liderado por João Bernardo Vieira, mais conhecido como Nino Vieira, que chefiou o Conselho de Estado até às eleições de 1994.

O sistema multipartidário só foi adotado em 1991, tendo Nino Vieira e o PAIGC vencido as primeiras eleições pluralistas, em 1994.

Quatro anos depois, deu-se o golpe militar mais violento e mais longo da história do país, depois de uma rebelião conduzida por uma junta militar, liderada pelo brigadeiro Ansumane Mané, chefe das forças armadas, ter derrubado Nino Vieira.

O conflito político-militar terminou em 1999, com a vitória da junta, o exílio forçado de Nino Vieira em Portugal e a designação de Malam Bacai Sanhá, presidente da Assembleia, como presidente temporário.

As eleições presidenciais de 2000 elegeram Kumba Ialá, pelo Partido da Renovação Social, e, no mesmo ano, Ansumane Mané foi assassinado,

Já Kumba Ialá viria a ser derrubado em 2003, de novo por uma junta militar.

Após o golpe de 2003, Nino Vieira regressou ao país e venceu as presidenciais de 2005. Em 2008, Carlos Gomes Júnior, atual primeiro-ministro e o candidato mais votado na primeira volta das últimas presidenciais, venceu as legislativas. Foi nesta altura que o poder do país ficou totalmente nas mãos do PAIGC.

Nino Vieira foi assassinado por militares em março de 2009, imediatamente após um atentando à bomba que matou o chefe das Forças Armadas, Tagmé Na Waie, e Malam Bacai Sanha foi eleito presidente em julho, pelo PAIGC.

A 09 de janeiro deste ano, Sanhá morreu em Paris, França, após doença prolongada, abrindo caminho ao processo eleitoral agora em curso.

De acordo com os resultados oficiais da primeira volta das últimas presidenciais, realizada no passado 18 de março, Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC, ganhou a votação. Kumba Ialá foi o segundo mais votado, mas contestou os resultados e já disse que não concorrerá à segunda volta.

Com pouco mais de milhão e meio de habitantes, entre animistas (a maioria) e convertidos ao islão e ao cristianismo, a Guiné-Bissau tem uma área de 36.100 quilómetros quadrados (pouco mais do que o Alentejo) e faz fronteira com Senegal e Guiné.

É um dos mais pobres do mundo, com 80 por cento da população a viver com menos de um dólar por dia.

No início de 2011, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional anularam mais de 90 por cento da dívida externa do país, estimada em mais de mil milhões de euros.

Desde há uns anos, a Guiné-Bissau tem servido de placa giratória do tráfico de droga oriunda da América Latina e da Europa.

A situação das forças armadas, que, segundo as estatísticas oficiais, integram perto de 4500 militares (número que é elevado para o dobro ou o triplo por fontes não oficiais), está a ser objeto de uma reforma do setor de segurança e defesa.

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